sábado, 24 de janeiro de 2009

Gato

Folha: Recebido pela mulher do coordenador, o agente quis saber por qual motivo a criança Billy Flores da Rosa não havia sido levada para fazer a medição e a pesagem, exigidas para os cadastrados no programa. A mulher estranhou a pergunta: "Mas o único Billy aqui é o meu gatinho". O agente relatou o diálogo à prefeitura, que abriu sindicância. O pobre animal teve seu benefício (vinte reais) cortado, sem direito a defesa. Nem precisa dizer que sou contra essas ações, drásticas. Totalmente contra. Numa rara aparição neste blog, meu irmão comentou: manda uma foto desse Osho. Gostei do nome; vou rebatizar meu gato, que se chama Guarayo. Assim como Billy, Guarayo e tantos outros também merecem um dinheirinho... Nem digo isso em benefício de meu irmão, que tem uns 30 gatos em casa...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama

No início de seu "governo", Bush cortou furiosamente impostos dos milionários. 400 dos mais respeitados economistas do mundo assinaram manifesto denunciando essa impostura, pregada pelos Supply-Side economics. Nada adiantou. A farsa continuou e foi ampliada, com a cumplicidade irresponsável do Congresso, de maioria republicana.

O povo, que tinha o poder de punir essas práticas de lesa pátria, reelegeu os criminosos. Os mais tétricos prognósticos dos economistas acerca das políticas de Bush foram ultrapassados pela realidade.

Miriam Leitão, no panorama econômico de hoje:
Barack Obama vai herdar terra arrasada. Começa a governar um país em recessão e que gasta demais - cada vez mais. O déficit no orçamento superou US$ 400 bilhões, mas sem contar os efeitos do pacote contra crise.

Há oito anos, antes de Bush, sobrava dinheiro. Agora, as previsões são sombrias. Para evitar o pior e reativar a economia, Obama vai ter de aumentar essa conta. O déficit deve chegar a US$ 1,3 trilhão até o fim de 2009. Isso significa queimar mais que tudo que o Brasil produz em um ano.

O desemprego se transformou em prioridade número 1. Bush entregou uma economia arruinada. Pessoas perderam suas casas, bancos foram socorridos com dinheiro público, empresas com enormes prejuízos estão demitindo. Obama tem que começar protegendo os trabalhadores.

Fábio Konder Comparato

Utilizando textos de Adam Smith, pai da Economia, Fábio Konder Comparato faz uma excelente análise da atual singularidade econômica: O preço natural, correspondente ao custo de produção, seria o centro em torno do qual gravitariam os preços de todas as mercadorias, não obstante alguns desvios de órbita temporários. Entre as mercadorias, Adam Smith incluiu o trabalho subordinado. Ao analisar a escravidão, observou cruamente que o custo de manutenção de um escravo fica inteiramente a cargo do seu proprietário, ao passo que o do trabalhador assalariado é partilhado entre ele próprio e seu patrão. O que conduz logicamente à conclusão - ignorada pelos senhores de escravos no Brasil até o final do século 19 - de que a servidão é menos vantajosa que o trabalho assalariado. Como se vê, o raciocínio é puramente contábil. Sob a influência dos fisiocratas franceses, A. Smith sustentou que só a agricultura produz riqueza. O conjunto dos comerciantes, artesãos e fabricantes, escreveu, constitui "uma classe improdutiva", sustentada à custa dos proprietários rurais e dos cultivadores. Os banqueiros, ao contrário, exercem a útil função de transformar o "capital morto" ("dead stock") em capital produtivo (como se acaba de ver...). Igualmente improdutivos seriam os agentes políticos. São textuais palavras suas: "O soberano, com todos os ministros que o servem, tanto na guerra quanto na paz, o conjunto dos militares, tanto do Exército quanto da Marinha de guerra, são trabalhadores improdutivos. São servos do povo, mantidos por uma parte do produto do trabalho das outras pessoas". Por que, então, não extinguir a organização estatal? Adam Smith responde, sem rodeios, que o poder político foi instituído para a garantia da propriedade. Por conseguinte, ele "existe, na verdade, para defender o rico contra o pobre, vale dizer, aqueles que possuem algo contra os que nada têm" ("A Riqueza das Nações", livro 5, capítulo 1). Como, então, explicar o funcionamento do sistema econômico? É pela força do egoísmo racional, responde Adam Smith. "Cada indivíduo forceja continuamente por encontrar o emprego mais vantajoso do capital de que dispõe. É a sua própria vantagem, na verdade, e não a da sociedade, que ele tem em vista" (mesma obra, livro 4, capítulo 2). Mas, apressa-se em acrescentar, a procura da vantagem própria leva o indivíduo, necessariamente, a escolher o emprego de capital que se revela mais vantajoso para a sociedade. Quer isso dizer que os verdadeiros criadores da riqueza nacional deveriam ser chamados a governar as nações e a formar o futuro governo mundial, igualmente preconizado pelo presidente Sarkozy? Não foi esse o entendimento do primeiro grande teórico do capitalismo. Sustentou ele que a injustiça e a violência dos governantes dificilmente admitem um remédio. Mas, aduziu, "a mesquinha rapacidade, o espírito monopolista dos comerciantes e fabricantes, que não são nem devem ser governantes, embora não possam talvez ser corrigidos, podem ser facilmente impedidos de perturbar a tranquilidade alheia" (idem, livro 4, capítulo 3). Facilmente? Não foi o que vimos nos últimos meses. Até há pouco, os bem pensantes justificavam as injustiças do capitalismo, pondo em realce a sua imbatível eficiência econômica. Agora, descobrem todos, um pouco tarde, que a imoralidade do sistema alia-se à sua arrasadora ineficiência. FÁBIO KONDER COMPARATO, 72, é professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP e autor, entre outras obras, de "Ética - Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno" (Companhia das Letras).

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Responsabilizando os culpados

FRANK RICH, no NYT de hoje: Três dias depois de o mundo descobrir que US$ 50 bilhões podem ter sumido na pirâmide financeira de Bernie Madoff, o "New York Times" divulgou, em 14 de dezembro, a revelação de outro golpe de US$ 50 bilhões. Desta vez a bolada pertencia aos contribuintes americanos. Foi essa a sua contribuição coletiva aos US$ 117 bilhões gastos (até meados de 2008) com a reconstrução do Iraque - um sumidouro de corrupção, clientelismo, incompetência e furto puro e simples, espécie de resumo do governo de George W. Bush dentro e fora dos EUA. A fonte dessa notícia foi a versão quase final de um relatório de 513 páginas do governo federal a respeito deste fiasco americano. O relatório cita autoridades do calibre de Colin Powell para mostrar como o golpe funcionava. Powell disse que, em 2003, o Departamento da Defesa "inventava números das forças de segurança iraquianas - o número saltava em 20 mil por semana! 'Agora temos 80 mil, agora temos 100 mil, agora temos 120 mil'". Quem questionou essas incríveis cifras foi tratado como tolo, assim como quem implorou em vão para que a SEC (órgão que regulamenta o setor financeiro) contestasse a matemática de Madoff. (...) Dawn Johnsen, professora de direito e ex-funcionária do governo Clinton (1993-2001), foi recentemente escolhida para dirigir o Escritório de Consultoria Jurídica do Departamento da Justiça. É o mesmo departamento onde John Yoo, um burocrata do governo Bush, produziu o seu infame memorando justificando a tortura. Johnsen é uma crítica contumaz de tais abusos constitucionais. Em artigos escritos no ano passado, ela estranhava a ausência "do ultraje, do clamor público" contra um governo que agiu ilegalmente e não respeitou "os limites legais e morais da decência humana". "Como salvaremos a honra do nosso país, e a nossa própria?", perguntava.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Krugman

Paul Krugman, no NYT: (...) Sinto muito, mas se não fizermos uma sindicância sobre o que aconteceu durante os anos Bush - e quase todo mundo entendeu os comentários de Obama como significando que não faremos - isso significa que aqueles que detêm o poder realmente estão acima da lei porque não enfrentarão qualquer conseqüência caso abusem de seu poder. Vamos deixar claro sobre o que estamos falando aqui. Não se trata apenas de tortura e grampos ilegais, cujos perpetradores alegam, por mais implausível que seja, que eram patriotas agindo no interesse da segurança da nação. O fato é que os abusos do governo Bush se estendem da política ambiental aos direitos de voto. E a maioria dos abusos envolveu o uso do poder do governo para recompensar políticos amigos e punir políticos inimigos. O processo de contratação no Judiciário era semelhante ao processo de contratação durante a ocupação do Iraque - uma ocupação cujo sucesso supostamente era essencial para a segurança nacional - no qual os candidatos eram julgados segundo sua posição política, sua lealdade pessoal ao presidente Bush e, segundo alguns relatos, sobre sua posição na questão do aborto, em vez de sua capacidade de realizar seu trabalho. Falando sobre o Iraque, não vamos esquecer que o país fracassou na reconstrução: o governo Bush entregou bilhões de dólares em contratos sem licitação para empresas com conexões políticas, empresas que não cumpriram o contrato. E por que deveriam se preocupar em fazer seu trabalho? Qualquer funcionário do governo que tentasse auditar, digamos, a Halliburton, rapidamente via sua carreira descarrilar. Há muito, muito mais. Segundo minha contagem, pelo menos seis importantes agências do governo passaram por grandes escândalos nos últimos oito anos - na maioria dos casos, escândalos que nunca foram apropriadamente investigados. E há o maior escândalo de todos: alguma pessoa seriamente duvida que o governo Bush enganou deliberadamente a nação para invadir o Iraque? Por que, então, não devemos ter uma investigação oficial dos abusos durante os anos Bush? Não se iluda, leitor: todo o mal que Bush causou ao mundo - da guerra genocida no Iraque e no Afeganistão à maior tragédia econômica já vista - deliberado, não será punido.