sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Queenstown

O primeiro compromisso foi antes do café. O pequeno monomotor decolou sem cerimônia de uma pista de grama. No ascenso, curvas fechadas entremostrando as Remarkables e o Wakatipo, amplas belezas.
A 12.000 pés uma luz vermelha é ligada e alguém destrambelha a porta. O câmera se empoleira num estribo e a primeira dupla se joga. Quando penso que vou sentir medo ou, quem sabe, desistir, sou jogado mundo abaixo. Instrutor a reboque.
Primeira sensação, a vertigem da queda livre, a mais de 200 km/h, enquanto vemos alternadamente o avião indo embora, as montanhas, o lago, a outra dupla, enfurecendo o vento. O sol cegou meus olhos e vi o amor de eras, Deus, um parente que já morreu.
Finda a saudação inicial dos céus, em cambalhotas, a velocidade só aumenta, o vento se adensa, as montanhas e o lago te convidam, mas há receio. Pra onde se olhe, são belezas, rápidas demais para uma contemplação. Fixa-se a imagem de coisas em ângulos e velocidades impensáveis e isso é o melhor que podes fazer.
Quando já se está aclimatando a essa dinâmica, um puxão pelas pernas e tronco informa o trabalho da vela. Falta de ar e excesso de adrenalina na corrente sanguínea são o cenário interno na aproximação do pouso. Que ocorre suavemente, na grama macia, pondo fim a tanta queda, descabida.
Delírio, insensatez, mortes controladas, brilho de vida. São 9 horas. Nada mau, para um começo de dia.
São 9 horas. Nada mau, para um começo de dia. II. Depois do almoço, hora de um passeio pelo Shotover, numa lancha a jato. Já narrei essa aventura quando aqui estive em outra ocasião e não tenho que acrescentar. Você sobe e desce o rio em alta velocidade, a milímetros dos gumes de pedras. É sempre prudente, nessas ocasiões, não esquecer das preces, mesmo no caso dos mais irredentos ateus. Após esse interlúdio, rafting, pelo mesmo rio. Passeio imperdível, afrontando penhascos furiosos, contra um céu impecavelmente azul. No fim, o túnel, com alguma luz e a última cachoeira à espreita. O caminho é uma estradinha de contorna esses mesmos paredões, com momentos dignos de Hollywood. Depois, já no fim de tarde, pode-se sair flanando pelas vitrinas ou, quem sabe, cortar o cabelo, meu caso, hoje. Enfim, Qtown é cidade de muitos argumentos, e recordações perenes. Amanhã tem mais. Qtown, 16 de janeiro de 2008.

Tongariro Crossing

No desembarque do ônibus, recebido por um vento antártico, zombei dos demais montanhistas, que usavam bermuda e camiseta, e me congratulei da sagacidade na escolha de pesada indumentária. Meia hora depois, iniciado o trabalho do sol, amaldiçoei cada casaco, que me abrasava. Na improvisada parada, dois quilos de casaco mais leve, bebi um pouco da gentil água que visita o vale. O informativo do parque menciona cabanas ao longo do caminho. O motorista do ônibus até falou da possibilidade de adquirir água nessas cabanas. Cinco horas montanha acima eu aprendi que as varias huts assinadas no mapa não passam da projeção de um desejo coletivo. Após meia hora de interlúdio, começa um aclive sugestivamente chamado Devil’s Staircase. Já escalei montanhas mais antipáticas, mas o nome não é inteiramente gratuito. Lembra a cascata de pedra ao pé das Torres del Paine e a surtida final na “Fumaça por Baixo” (Chapada Diamantina). Daí pode-se clicar o Tongariro e seguir por uma planície entre vulcões. Ao subir a próxima elevação se estará no ponto mais alto da caminhada. De um lado, crateras avermelhadas; de outro, lagos de fugidias esmeraldas. Tudo presidido pelos cumes de vulcões silenciosos, mas fluentes na abissal linguagem da terra. Seguindo em frente começa extensa descida, num zigue-zague em que se encontra várias vezes quem está uma hora de caminhada à sua frente, até uma cabana onde o costume é beber água não importa o que digam os avisos. Depois, nova descida e uma floresta de samambaias te procura, te abraça e te protege do sol da tarde até a exultante saída do parque. A essa altura seus pés já mandaram vários avisos, cada vez mais eloqüentes, sendo aconselhável que encontrem algum conforto antes que seja necessário amputá-los. Hoje, no museu Te Papa, vi o molde em tamanho natural de um coração de baleia azul. É quase um fusca e facilmente intuímos que tal bomba é o exercício do impossível, mas as baleias estão aí, desprevenidas de nossa intuição. Para usar as paisagens de Tongariro é essencial ter um bom coração. Wellington, 12 de janeiro de 2008.

Doubtful Sound

Um pouco menos impressionante que Milford mas, ainda assim, paisagem arrazadora.
As florestas temperadas da região não têm paralelo (chove uns trezentos dias por ano). Porfio na opinião de que a Nova Zelândia é um dos três países mais bonitos do mundo.
Mais tarde farei um balanço final deste país abençoado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Milford Sound

Volto agora de Milford Sound. Tendo escrito a respeito há três anos, achei que não seria necessário uma nota.
Entrei cético e saí embasbacado do ônibus. Milford Sound é simplesmente um dos lugares mais bonitos do mundo.
Nao é possível parar de fotografar, nem mesmo dentro do ônibus. Se você tem uma lente grande-angular, não importa quão grande o ângulo, bem, ela não é páreo para montanhas tão desmedidas, bem na sua cara.
Delas brotam incontáveis cachoeiras, como artérias em montanhas incrivelmente capilarizadas.
"Absolutamente fantástico": se você consegue dizer isso numa segunda visita, é porque o lugar é realmente especial.
É o caso de Milford Sound.
Afortunadamente, amanhã tenho Doubtful Sound na agenda.
Sweet Days.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Franz Josef

Apos atravessar de trem as montanhas entre Christchurch e Franz Josef, chuva.
Forte, sem tregua. Amanha, aproveitando o tempo, vou para Queenstown, e adianto o expediente.
A travessia foi bacana, mas nao rendeu muitas fotos. Em alguns lugares, o tempo atrapallhou. Em outros, o trem.
A viagem continua.