domingo, 21 de outubro de 2007

O Delírio de Dawkins

Alister e, ao que parece, Joanna escreveram "uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins".
Estou irritado com o Alister (vou incluir a Joanna fora dessa).
Ele destruiu minha fé. Era uma fezinha de nada, bem pequenininha, mas era uma fé. Eu acreditava que deviam existir, em algum lugar inescrutável, verdades religiosas que eu desconhecesse, argumentos para contrapor a Dawkins.
Eu já tinha lido 32 páginas e não tinha encontrado nenhuma. Lá pela 70, bateu o desespero. Cumpri as 140 páginas impregnadas de um rancor bocó, uma coisa bem jeca, profundamente vexatória, porque não há nada mais vexatório que ser maldoso com alguém e fracassar.
Francis Collins, que perpetrou "A Linguagem de Deus" é outro "ex-ateu" (não há nada mais hilário que essa categoria). Faz proselitismo de uma espiritualidade vigorosa, desde que seja monoteísta e cristã. E se o leitor não quiser ser monoteísta e cristão?
Ele apresenta, aparentemente a sério, uma tese espantosa: a "lógica espiritual" sem, contudo, definir a expressão, o que desaponta, embora não surpreenda.
O homem chega a ser sincero em algumas partes do "livro", mas põe sua pouca credibilidade a perder com uma incrivelmente criativa "estatística" sobre milagres. Ou quando nos revela que, em algum momento, Deus teria impingido um espírito e uma "lei moral" ao pobre hominídeo em evolução.
Esses autores religiosos observam que "nos anos 60, diziam que a religião estava desaparecendo, substituída por um mundo secular" (Alister) e que, hoje, a religião retomou com força total. Será que Deus, que já é onipotente, precisa dessas "defesas" iradas? Se eles já ganharam a guerra, não entendo a histeria.
Nem me impressiona a atual moda religiosa. A psicanálise floresceu e nos aborreceu por mais de meio século; o comunismo alicerçou estados totais e as piores retóricas políticas por mais de cem anos.
Ora estão mortos (o comunismo da China inspira indulgência e o da Coréia do Norte e Cuba, suspiros de compaixão. Freud se mostrou um charlatão muito cultivado e muito aborrecido).
Não tenho dúvida de que, quando a atual maré religiosa virar, o secularismo chegará a extremos, para o bem e para o mal.
Muitos observam que o ateísmo teria pouco mais de um século. Com cerca de 2.600 anos, Deus/Javé ou sua interessante corruptela Jeová estaria em evidente vantagem.
Com que facilidade esquecem que o Homo sapiens, embora recente, tem significativos 200.000 anos!
Tão logo o excedente cerebral pôde engendrar, atribuímos significados engenhosos a tudo. E desde então a superstição nos acompanha, nas formas mais variadas e loucas. Quando os pequenos bandos de caçadores-coletores se agruparam em conglomerados sociais complexos, surgiram estados e religiões onde antes só havia superstição e relações de parentesco e amizade.
As religiões, instáveis, se transformam, ficam irreconhecíveis e desaparecem. A superstição, não.
Os autores adoram os deuses atuais. Usando duplilinguagem (na terminalogia de George Orwell), eles fazem a defesa possível de um conjunto de miragens que eles mesmos gostariam de abandonar, se tivessem meios. Não os invejo. Não tenho nenhuma pena dos milhões de deuses que morreram. Nem apreço pelos que habitam a mente dos crentes em todos os lugares.
Eu diria, com o gigante Peter Medawar, que esses autores só podem ser eximidos de desonestidade porque, antes de tentar enganar os outros, fizeram de tudo para enganar a si mesmos.

A onda Huck

Não concordo com o roubo de relógios. Nem mesmo o de Rolex (se eu pudesse, também teria um, e minhas horas seriam de infindas paixão e beleza. Ou, pelo menos, de uma conspícua soberba).
Mas precisamos resolver a questão aqui: gosto tanto do nosso Luciano que eu mesmo teria pago alguém para furtá-lo.