sábado, 14 de abril de 2007

Apagão aéreo

Crise agora se chama “apagão”: aéreo, logístico, da educação. Somos pródigos em apagões. A partir da crise do fornecimento de energia elétrica, no governo FHC, a imprensa não percebe o intolerável dessa palavra. Um caso de “apagão” estilístico, ora pois. Agora, os próprios controladores aéreos reconhecem o motim que, inadvertidamente, vêm impingindo aos pobres brasileiros (os pilotos dizem que os controladores mentem para eles, e inauguraram o gênero suicida de aproximação das pistas). Lembro-me de uma vez ter ficado quarenta minutos dentro de um avião em Campo Grande, sob a alegação de uma tempestade em Brasília, nosso destino. Quando chegamos, nem sinal de tempestade. Após muitos sobrevôos, pousamos. Da cabeceira da pista até o pátio, mais de meia hora, a passo de lesma. Os controladores nos fizeram perder mais de uma hora, ambos os aeroportos desertos (corria a sonolenta tarde de um domingo). Inicialmente, pensei que o motim era uma impostura dos controladores, sequiosos de se livrarem do bafejar dos milicos em suas nucas. Vou contar uma lenda. Era uma vez um país com economia e sistema político mal-resolvidos (nada a ver com o querido Brasil, o leitor fica advertido). Naquele infausto país, instituiu-se um ministério da Defesa, tal como em todas as democracias ocidentais. Os chefes das três Armas não gostaram. Daí, viram uma chance de ouro de desequilibrar o ministro da vez, e deixaram a indisciplina correr frouxa entre os controladores aéreos (em parte civil, em parte militar). O motim foi encorajado, pela via da omissão. A classe média, dormindo em aeroportos, rangeu os dentes. O chefe da Aeronáutica mandou prender os amotinados. Espertos, eles colocaram esposas e mães entre eles e as tropas. O presidente desautorizou o comandante da arma aérea, que ameaçou pedir demissão. A noite é má companheira de presidentes que demitem chefes militares, reza a lenda. Dias depois, os três comandantes militares “se convidaram” para falar com seu chefe teórico, que dera a contra-ordem. Quem eles querem para a Defesa? Ninguém? Nessa nossa lenda, os grandes negócios evoluem, numa conjuntura internacional que, por excelente, é inédita. Os players ganham dinheiro com uma intensidade indecente. Por outro lado, a mão “amiga” não empalma o poder civil em nenhum país relevante, nem mesmo em regimes políticos totais, como a China. Daí que ninguém sai ferido e as companhias aéreas faturam um dinheirinho a mais, com vendas “criativas” de assentos inexistentes. Não autorizo o leitor a extrapolar a lenda, menos ainda aplicá-la a países varonis, como o amado Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Gerson,
Muito bom, adorei o texto, mas por incrível que pareça, não encontrei nenhuma semelhança com nossa tão virtuosa pátria!!
Boa viagem!!!!

Anônimo disse...

Brigadão, Grazi.

Estou em Fortaleza, em reuniões de mais de 10 horas...

Abs,