terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Sobre viagens aéreas

A viagem a Paris, de amanhã, me lembra outra, para Bima.
Caminhando pela pista do aeroporto de Bali - modesto, para sua clientela de gigantes intercontinentais - vi um aparelho singularmente velho e cansado. Suas asas, curtas como as de uma ave fujona, e seus motores, rotos e cobertos de fuligem, inspiravam cuidados, senão piedade.
O conjunto sugeria milhares de ciclos além do recomendado pela Fokker (que, de qualquer modo, falira há muitos anos). Não que seus aviões fossem ruins, não. Apenas não se agüentavam voando, o que, quase sempre, resultava em momentos inesquecíveis, para passageiros ou familiares.
Nessa caminhada fiquei sabendo da intenção daquele improvável avião de me levar a Bima, ilha de onde se navega até Komodo.
Em condições normais eu declinaria o privilégio, mas não quis ofender a equipe de bordo, que me sorria do alto da escada de alumínio.
Um dos que mais sorriam era o piloto. Sobrevivente de heróicos acidentes (ao contrário de seus passageiros), era um homem de coragem, uma pessoa extraordinária, via-se logo.
Entramos. Eles bem que trancariam a porta do habitáculo de comando, se existisse uma. De sorte que tínhamos a cabine de comando à nossa disposição. Os assentos da classe que meu salário autoriza costumam ser apertados. Aqueles eram dignos de pigmeus.
Reparando no trabalho do nosso excepcional piloto, vi que se impacientava com o motor da direita. Após uma acalorada troca de insultos com o pessoal de terra, pela janelinha caída, o motor dá sinal de vida, num gemido profundo e sentido.
O outro exigiria mais.
Um breve e justificável espancamento do painel, uma torrente de impropérios, e nada. Então, o piloto torna pública sua ira e toma a si a tarefa de fazer o engenho funcionar. Eu, que observava com certo interesse, posso dizer que uma intensa energia fluiu daquele manche diretamente para a turbina, que finalmente entrou em erupção, tamanhos ruído e vibração.
Em meio às brumas alçamos vôo aos céus, pouco antes da pista ceder a vez para o mar, inseguros acerca de nossa sorte entre as nuvens ou lugar no paraíso.
Não sei se devido à tesourada nas asas, ao peso dos 40 anos, às muitas avarias ou às navalhadas do piloto, mas aquela foi uma viagem de suspiros e preces.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que aventura hein???!!!hehehe. Opa, com a resposta q me deu, vc até conseguiu arrancar um sorriso meu de entusiasmo...hahahaha... quem sabe vc não se anima né...hahahhaha. Bjus