domingo, 30 de janeiro de 2005

O quarto de albergue

O quarto de albergue. Abro a porta e ligo a luz. Deparo com fileiras intermináveis de camas que, a meus olhos cansados, pareciam infinitas em todas as direções. Em vão esgotei meus passos em busca de um lugar onde não houvesse camas e sua mobília humana. Sendo beliches de vários níveis, a impressão era a do interminável, do excessivo. Imaginei a dificuldade de adormecer em semelhante escaninho, mas o paradoxal é que, mal me deitei, aderi à primeira corrente de sonho que passou por aquela região do quarto. Num quarto de tamanhas proporções, diversas correntes de sonhos varrem o espaço, e você só precisa se deixar levar por um desses bondes oníricos (em verdade, o difícil é não ser arrastado por eles). Participei de vários sonhos coletivos, ou talvez um único, que passou em muitos países; falou muitas línguas, inventou muitos sentimentos e visitou todas as impressões. Estive também em sonhos alternativos, desgarrados das correntes principais e, como os demais, também ronquei e praguejei; também aceitei e neguei Jesus (três vezes, como nos ensinou o apóstolo Pedro) e também vi minha mãe. Os sonhos de predominância chinesa não me agradaram; os de tendência dinamarquesa me pareceram desnecessários. Ao acordar, em alguma cidade da Oceania, tudo desmentia a noite: o sol, a canção, o café e o ônibus à porta, o motorista bufando de raiva. Janeiro de 2005.

Um comentário:

Anônimo disse...

Isso realmente foram sonhos ou uma de suas viagens???!!! Parece mais um desses documentários que vemos na televisão onde o cara está há uns 200 dias fora de casa e já tá vendo até anjos vindo buscá-lo... hahaha... vc realmente devia estar muito cansado!!!

Bjs

Keila(maninha)