domingo, 30 de janeiro de 2005

O idioma

Grandes são as alegrias de aprender outro idioma. Por algum motivo, que ora me foge, não as experimentei ainda, de sorte que fui descobrindo aos poucos que o inglês não é exatamente uma província do português. Imagine o leitor que eu só conseguia pronunciar confiavelmente os números até doze. Isso mesmo, só até doze. Ten, por exemplo, considero um número bom e cristalino: ten. Enough. Já o nine, o seven e o eleven, todos eles fáceis e plenos de méritos, são números de ampla aceitação. Até o 5, a única dificuldade é o 3. Quantas vezes o confundi com o 2, e vice-versa... Por algum motivo, as pessoas insistiam no 3, eu no 2. Em minha simplicidade, pensei um mundo em que não precisássemos de números maiores que 12. Ora, se adicionarmos o segmento negativo da escala (-1, -2 ...) e o zero, que é zero em qualquer idioma que se preze, teremos aí garbosos 25 números! Sabe-se lá quantos quatrilhões de combinações são possíveis com 25 números? Well, eu estava errado. E acabei descobrindo o número 20. Gente, twenty é demais. Quando o descobri, parecia que todas as portas de um ilimitado mundo se abriam. Se me perguntassem quantos filhos tenho, quantos dias ia viajar, quantas línguas falo, quantos dedos tenho em cada mão (uma das perguntas prediletas dos agentes de imigração), a resposta seria mesma e única: twenty, cheia de orgulho. Infelizmente, entre o 12 e o 20, temos as atrozes fraudes do 13, 14, etc. Tive muitos problemas com o 13, um número feroz, como se sabe. Toda vez que o pronunciava, as pessoas ouviam 30, e vice-versa, gerando não pouca confusão. Desafortunadamente, reservei 13 dias na Nova Zelândia, e logo todos passaram a me considerar um vadio: 27 dias na Austrália, 30 na Nova Zelândia e 12 no Chile... Mudei minha passagem, para ficar apenas 12 dias na Nova Zelândia, resolvendo de uma vez o problema e calando os críticos (existia um outra saída: uma consulta ao dicionário. Não sei se funcionaria. Há qualquer coisa de irrevogável na transmutação das cifras; seja como for, não fatiguei meu modesto dicionário). 12 dias na Nova Zelândia e 12 no Chile são a justa medida, qualquer um sabe disso.

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