domingo, 18 de junho de 2006

Pantanice

Num pau-de-arara pela Estrada Parque. Pequenos jacarés saúdam o visitante por todo o caminho. Saberiam a canto, não fosse a infinda sinfonia de aves tão nobres e apresentadas. Com minhas retinas e minha fotográfica, registro a performance de infatigáveis atores emplumados.

domingo, 4 de junho de 2006

O Supremo

Do advogado Sydney Sanches, no Valor deste final de semana: “O Supremo deveria ser composto por onze estadista. Quem deveria indicar? Um estadista. Não se pode colocar o Direito acima do Estado. E isso é uma posição política.” Ele finaliza: “quando a questão (...) envolve o erário público, o Tesouro, o valor da moeda, a soberania, a cidadania, a nacionalidade, o Supremo tem que ter uma visão de estadista.” Sanches conduziu a maior catarse da história republicana, quando presidiu o Senado arvorado em corte de julgamento de Psycho Collor. Na cadeira de juiz do Supremo, Sanches não viu provas para a condenação do ex-presidente. “Não se pode ter motivações políticas para a condenação de alguém”, ele argumenta. O advogado Junqueira diz que o Supremo não tem perfil para julgar crimes (consideraram inepta a denúncia ofertada pelo então Procurador Geral Junqueira). Que inépcia houve, não há dúvida. Discordo sobre quem nela incorreu. Após haver fatigado a infâmia, passeando com entusiasmo pelos principais artigos da Lei Repressiva, Collor de m. se perdeu na noite penal. Não coloco em dúvida a necessidade de posicionamentos políticos por parte do Supremo, e mesmo de juízes de menor graduação, tal como defendia R. Dworkin. Em verdade, penso que se poderia falar em atuação estratégica do Estado-juiz, em vista da não-neutralidade inerente a qualquer julgamento. O que não quer dizer liberdade para um concurso de conveniências estabelecendo poltronices. Não se pode colocar o Direito acima do Estado. Se o Estado cria o Direito soberamente, não vamos aplicar esse Direito, livremente auto-imposto?

sábado, 3 de junho de 2006

O Pantanal e as Vaquinhas

No vasto continente das aves – o pantanal – sábias vaquinhas, em fila indiana, cultivam a amizade das palmeiras. Do intrometido aviãozinho, só a sombra, no canto. Apesar da devassa, os delicados floquinhos de vaca mantiveram a festa, à espera das águas.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Petronas Towers

Petronas Towers, Kuala Lumpur (Malásia).

O maciço de aço, à noite, ganha contornos surreais.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

A velha Praha

A igreja do castelo onde Kafka viveu, em toda a sua imponência. O cômodo destinado a Kafka mais bem seria uma casa de bonecas.

Abismo Anhumas

Num semicírculo, profetas fosforescentes se revelam na luz que colhe o Anhumas em tons azuis. Vigio do alto essa ocorrência interessado em silencioso discurso dependurado a 70 metros do espelho de um secreto lago. Constam mastodontes, preguiças gigantes em suas profundezas escuras, e dois mergulhadores intrometidos perturbando o respeitável sono de coisas há milênios recolhidas a mistérios. Fósseis de formas ancestrais de vida, extintas sob a supervisão das eras, imersos numa membrana líquida ao abrigo do manejo humano. O trabalho profuso do calcário escultor ganha uma nave ao interior da terra, lavrando a rara catedral nos recessos do cerrado. O discurso anil de profetas telúricos arrojado em grego ao abismo faz prova dessa luz fria em profunda menção: a terra são silêncios. Vigio do alto essa coerência. Março de 2002.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

A mesa e o rio

Se as águas são um chá encorpado, a mesa está bem posta no singelo tributário do Amazonas. Foto de 2006.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Pantanices

Na estrada que leva a Corumbá encontrei esses cantores. Nunca vi aves mais exibidas, num mundo de aves sobremodo exibidas. Cantores soberbos.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

O barquinho

Infinda solidão afronta o barquinho na despedida final da tarde. Saberá o céu de sua provisória existência? O barquinho perfura as vigências mais desesperadas e almeja dulçor. Arrebol de Corumbá (MS), 2006.

domingo, 14 de maio de 2006

Evices

Pra não dizer que não falei das flores, neste dia das mães. Foto tirada em algum lugar da Tailândia (eu acho...) Marrentinho terminou sua greve de fome, para decepção de muitos. Não conseguiu sua candidatura, não perdeu o excesso de peso, mas ganhou lindas coroas de flores, presente dos funcionários públicos. Alguns (os indelicados) disseram: “nunca pensei que ficaria feliz em ver um garotinho passando fome”. Sobre as evices mais recentes, Simão, cientista político, sintetizou tudo, em grande magistério: a Bolívia continua mandando coca. Agora é coca sem gás.

O silêncio dos inocentes

Decorrido mais de um ano do escândalo do mensalão, Delúbio Soares mantém-se em obsequioso silêncio. Trancado em seus rancores, carrega sozinho todas as culpas –as particulares e as alheias. É eloqüente a mudez de Delúbio. Convém dar ouvidos ao seu silêncio. Apurando-se os tímpanos, pode-se escutar a denúncia embutida na ausência de manifestação do ex-gerente de arcas. Há virtude no silêncio de Delúbio. As palavras que ele não diz gritam que o país foi governado sem método. Alardeiam o uso de meios que não justificam os fins. Bradam o emprego de táticas vis. Silvinho Pereira, um sub-Delúbio, ousou triscar os lábios no trombone. Um emissário do politburo chamou-o à razão. E ele se fez de doido. Melhor assim. Os 53 milhões de eleitores vitoriosos em 2002 não suportariam a condição de cúmplices involuntários. Há utilidade no silêncio de Delúbio. Sua quietude ajuda a amplificar pequenos rumores. Ruídos como o que foi produzido no último encontro nacional do PT. De tudo o que já foi dito acerca das perversões do petismo, nada soou mais desconcertante do que a decisão de adiar sine die o julgamento dos que conspurcaram a legenda. O desaparecimento da voz de Delúbio pôde berrar ainda mais alto. Proclama que a história não-contabilizada do PT conduz o governo petista da prometida Canaã ética para algum obscuro inferno de depravações. Há compaixão no silêncio de Delúbio. É graças a ele que o país pode conviver com a figura inacreditável do presidente cego. Mais do que nunca, entende-se a profunda grandeza das respostas que Delúbio vem calando há mais de 12 meses. A mensagem invisível de Delúbio, expressada no silêncio de dezenas de entrevistas negadas, é cristalina. Informa que remoer o escândalo significaria trazer à tona um Luiz Inácio indigno do velho e bom Lula da Silva. Há sabedoria no silêncio de Delúbio. Sem ele, a nação teria de conviver com a imoralidade do presidente conivente. Teria de enfrentar o escárnio do governo inaceitável. Teria de encarar a vergonha do Estado ocupado por saqueadores. Há higiene no silêncio de Delúbio. Com sua mania deletéria de espiar pelas frestas de fatos idos, jornalistas, procuradores e outros desocupados apenas tentam remoer lixo. Não há do outro lado senão cenas de uma película sem mocinhos. Um filme cuja reprise inspiraria ânsia de vômito.Um brinde, portanto, à insanidade de Silvinho! Uma salva de palmas às meias-verdades de Marcos Valério! Loas ao silêncio de Delúbio, a cada dia mais ensurdecedor! Josias de Souza perpretou essa maldade às 22h46 de ontem. Não devia. Estou cada vez mais alarmado com jornalistas metidos a falar "cousas". O estilo é raro, sóbrio e límpido. Seria lícito um estilo quase poético para falar de política? Não importa... * a foto acima foi tirada numa aldeia indígena próxima a Manaus.

Politiquinha

Nosso Guia, que não parece se importar quando o patrimônio da Petrobrás é expropriado, ficou muito irritado com uma reportagem: - Vamos ser francos com uma coisa: a "Veja" tem alguns jornalistas que já há algum tempo estão merecendo o prêmio Nobel de irresponsabilidade. Eu só posso considerar isso como um crime praticado por um jornalista ou por uma revista. Alfred Nobel não instituiu prêmio para jornalismo mas, vá lá, Nosso Guia até que se saiu bem. Ele continua: (...) - Vocês conhecem alguns jornalistas que eu estou citando, vocês sabem o que ele tem feito nesses últimos meses. Eu não acredito que dentro da revista "Veja" tenha uma única pessoa que tenha 10% da dignidade e da honestidade que eu tenho. (...) A "Veja" já vem assim há algum tempo. Não é de hoje não. Mas eu acho que ela chegou ao limite, chegou ao limite, chegou limite! - Eu não sei se o jornalista que escreve uma matéria daquela tem a dignidade de dizer que é jornalista. Ele poderia dizer que é bandido, mau caráter, malfeitor, mentiroso. Eu não posso e é até constrangedor um presidente da República saber que tem uma mentira dessa grosseria numa revista que deveria respeitar seus leitores. Os leitores pagam a revista, são induzidos a assinar. E não merecem a quantidade de mentiras que ela tem publicado." Veja assestou alguns petardos no petismo, e abriga o enfant terrible do jornalismo, Diogo Mainardi. Uma entrevista de Dantas com Mainardi? Mal posso esperar pra ler. Dioguinho se notabilizou por diabruras realmente notáveis no jornalismo político. Sobre Dantas, pode-se dizer que está sempre metido em aventuras inefáveis, freqüentemente envolvendo o rico patrimônio público. Enquanto isso, no blog do Josias: Chávez empolgou a platéia ao desancar os EUA. Anunciar que Bolívia, Venezuela e Cuba estão dispostos a continuar desempenhando o papel de “meninos do mal do império”. Referiu-se a Havana, La Paz e Caracas como o verdadeiro “eixo do mal”. (...) Durante a cerimônia, os oradores mascaram folhas de coca, para deleite de Morales. “Coca não é cocaína”, disse Chávez, anunciando que Venezuela e Cuba começaram a importar folhas da Bolívia. Com coca, disse, pode-se fazer pão, chá, dentifrício ou medicamentos. “Que saborosa está a coca, Evo”, disse, enquanto mascava. “Mande-me mais”. Em seu discurso, Morales disse que vai mudar a Bolívia, “mas sob a democracia”. Repetiu palavras que diz ter ouvido do companheiro-ditador Fidel Castro: “Não façam o que eu fiz. Façam o que foi feito por Hugo Chávez, derrotar o imperialismo na democracia.” Evo é mesmo generoso, quando se trata de coca. A verdade é que também o Brasil não tem do que se queixar.

sábado, 13 de maio de 2006

Taj Mahal

Após todas as interdições caprichosamente impostas à nossa entrada no Taj, pensei em convocar uma rave para esse excelente monumento. Os convidados entrariam montados em elefantes balançantes no recinto, e uma bateria de DJs fariam o edifício dançar. Há uma suntuosidade definitiva no Taj Mahal, um transporte conduzindo-nos até sua origem, momentosa.