sábado, 13 de janeiro de 2007

Lyon

Hoje termino esta cidade. Foram dois dias ultradensos, e verbalizá-los não vai ajudar muito. Talvez mais tarde, com calma. Agora só quero aproveitar essas delícias.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Qwerty

Cheguei a Paris, gente! Por incrível que pareça, o avião não caiu nenhuma vez! Hoje, um montão de coisas. Não vou contar agora porque o teclado francês foi feito, bem, por um retardado mental. Faltam letras, e as existentes resolveram não seguir o padrão mundial - apelidado Qwerty. Se as letras trocam de lugar, escrever se torna uma excruciante procura... Não tem jeito: prêmio IgNobel para esse gênio.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Deixando a Tailândia

Amanhã terei tempo para resumir a estada, já que um pais não se resume. Agora, pizzaria, para comemorar. Hoje fui ao Outback de Siam Paragon, para o chope australiano acompanhado de costelinhas de porco bem tostadas.
Estava realmente bom, mas sem superar a de carneiro, degustada em Brasília.
E recomeçou a ração diária de sorvete Häagen Dasz.
Só uma coisa me preocupa: mudei a versão do blog hoje, e talvez não tenha acesso a ele.

Patpong

Umas moças realmente habilidosas, e muito desinibidas.
Fumam, tocam corneta, jogam pingue-pongue, acertam balões, que explodem. Fiquei um tempinho num desses bares de Patpong, bastante liberais.
Quando saí, uma moça apagava as velas de um bolo de aniversário, não sei de quem.
Os turistas inundam o lugar, na imprevisível noite de Bancoc.

Sobre viagens aéreas

A viagem a Paris, de amanhã, me lembra outra, para Bima.
Caminhando pela pista do aeroporto de Bali - modesto, para sua clientela de gigantes intercontinentais - vi um aparelho singularmente velho e cansado. Suas asas, curtas como as de uma ave fujona, e seus motores, rotos e cobertos de fuligem, inspiravam cuidados, senão piedade.
O conjunto sugeria milhares de ciclos além do recomendado pela Fokker (que, de qualquer modo, falira há muitos anos). Não que seus aviões fossem ruins, não. Apenas não se agüentavam voando, o que, quase sempre, resultava em momentos inesquecíveis, para passageiros ou familiares.
Nessa caminhada fiquei sabendo da intenção daquele improvável avião de me levar a Bima, ilha de onde se navega até Komodo.
Em condições normais eu declinaria o privilégio, mas não quis ofender a equipe de bordo, que me sorria do alto da escada de alumínio.
Um dos que mais sorriam era o piloto. Sobrevivente de heróicos acidentes (ao contrário de seus passageiros), era um homem de coragem, uma pessoa extraordinária, via-se logo.
Entramos. Eles bem que trancariam a porta do habitáculo de comando, se existisse uma. De sorte que tínhamos a cabine de comando à nossa disposição. Os assentos da classe que meu salário autoriza costumam ser apertados. Aqueles eram dignos de pigmeus.
Reparando no trabalho do nosso excepcional piloto, vi que se impacientava com o motor da direita. Após uma acalorada troca de insultos com o pessoal de terra, pela janelinha caída, o motor dá sinal de vida, num gemido profundo e sentido.
O outro exigiria mais.
Um breve e justificável espancamento do painel, uma torrente de impropérios, e nada. Então, o piloto torna pública sua ira e toma a si a tarefa de fazer o engenho funcionar. Eu, que observava com certo interesse, posso dizer que uma intensa energia fluiu daquele manche diretamente para a turbina, que finalmente entrou em erupção, tamanhos ruído e vibração.
Em meio às brumas alçamos vôo aos céus, pouco antes da pista ceder a vez para o mar, inseguros acerca de nossa sorte entre as nuvens ou lugar no paraíso.
Não sei se devido à tesourada nas asas, ao peso dos 40 anos, às muitas avarias ou às navalhadas do piloto, mas aquela foi uma viagem de suspiros e preces.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Viagem a Paris

As companhias decretaram que eu ficaria em Bangcoc, mas eu resolvi afrontá-las.
A pesquisa de vôos me levou, inicialmente, à India Airlines, mas ficar em Déli, numa lista de espera, não é exatamente o que se esperaria de uma viagem dos sonhos.
Então, furando o cerco, consegui uma passagem para daqui a dois dias, voando direto.
Bem, quase. Tem uma paradinha e uma ligeira troca de aeronave.
Trata-se de uma empresa de segunda linha, é verdade, mas é preciso acreditar no empreendedorismo dessa gente, oras. O leitor já deve ter ouvido falar dessa empresa, que costuma freqüentar os jornais do mundo inteiro, ocasionalmente.
Além disso, a Etiópia é um tigre africano, um pais que enriquece rápido. Não admira ter uma empresa aérea tão bacana e intrépida.
Sim, vou de Etiopian Airlines.
Está bem, pode não ter o charme de uma Lauda Air (do ex-piloto de Formula 1 Nikki Lauda), nem o glamour de uma Air France, ou a solidez de uma British Airways, mas é uma companhia com um futuro brilhante, quase como uma Singapore Airlines, por exemplo.
Aposto que o leitor deve estar se perguntando: "que tipo de avião tem uma empresa dessas?" Também fiz essa pergunta, antes de me decidir, como decidi.
"Trata-se de um gigante dos céus, com uma folha de servicos impecável, o que não exclui um ou outro incidente", disseram.
É verdade que o aparelho tem uma longa folha de serviço, desde quando saiu da fábrica, na década de 1950, como um dos primeiros protótipos do Boeing 707.
"Mas esse avião já não foi proibido em mais de 200 paises?", indaguei.
"Sim, por isso ele vai daqui a Adis Abeba, onde haverá troca de avião, com direito a city tour gratuito", redargüiram.
Vocês não pensaram mesmo que eu aceitaria aterrissar na Cidade Luz nessa bagaceira, pensaram? (os presidentes da República do Brasil voavam nesse tipo de avião, até a compra do Aerolula, e eles vão costumeiramente a Paris, buscar muamba, mas não me lembro de ter sido eleito presidente).
Pois em Adis Abeba me aguarda um garboso Electra, quadrimotor safra 1940, verdadeira lenda da aeronáutica, última palavra em tecnologia e segurança.
Será um grande momento, mas penso estar preparado.

Bangcoc

"Estou no deque, navegando pelo Chao Phraya. O almoço de há pouco foi recebido com ceticismo no estômago, e acho que terei notícias dele, em breve.
De onde estou vejo os arredores de Bangcoc. Passamos pela fabrica da Singha Beer e agora vemos casas sobre palafitas à beira desse rio tropical, muito parecido com aquele rio crioulo e pachorrento chamado Paraguai.
Servem café. Os prédios caminham devagar às margens desse rio, muito apreciado por camalotes."
Essas memórias finalizaram o passeio de um dia por esse tumulto asiático. Vi muitos templos, da vertente indiana do budismo, e pensei no zelo dos estados para assegurar a religiosidade das massas. Essas doutrinas costumam servir de cimento em sociedades cada vez mais complexas.
Seja como for, o estômago não deu notícia, e acho que está tudo bem.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Tailândia II

Voltei a aproveitar a viagem. Vou ficar um 'cadinho nesse caldeirão chamado Bangcoc. Acabo de voltar da Siam Square. Um estonteante complexo de compras. E continua crescendo. Tenho a impressão de que Bangcoc será, em breve, único e mesmo shopping center, um shopping total. A certa altura, entrei numa loja da Ermenegildo Zegna. O bonezinho custa 70 dólares, sem choro. Não me atrevi a perguntar o preço de algumas camisas, que me pareceram simpáticas, mas que, seguramente, arruinariam a proxima fatura do cartão de crédito. De qualquer forma, comi um pãozinho na praça de alimentação, o que já se tornou tradição, em se tratando de Bangcoc (o amigo Júlio vai lembrar desse episódio). Viajar é preciso. Sem embargo, algumas vezes vago.

Tailandia

Estou em Bangcoc. Chegada legal, mas as companhias aéreas se juntaram para não me deixar ir a Paris. Me ofereceram Air India, com direito a estada em Deli ou Bombaim (a passagem para Paris estava em lista de espera. Bacana, mas acho que não). "Me incluam fora dessa?", disse-lhes. Agora estou pesquisando outras coisas. Tem a cia. aérea etiope, queniana, dos emirados, de Brunei. Vou pensar um pouco. Enquanto isso vou ficando nessa cidade, exótica.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Sobre "2007"

Repararam como o comentario intitulado 2007 é genial? Mais que concisão e elegância, o comentário é uma aula de economia e didática. Meu melhor "despacho", até agora. Estou mesmo me aprimorando, ora se não...

Armas, Germes e Aço


Termino agora esse livro, extraordinário.

O autor passeia com inteligência e erudição por 13.000 anos de história das gentes. É uma vasta empresa, sujeita a erros e imprecisões. O livro desmente manuais de história, e mostra a verdadeira gênese de estados, religiões, doutrinas. E das elites, retratadas sem retoques: plutocracias cínicas e impiedosas.

É brilhante, ao mostrar que colonos loiros e de olhos azuis, fixados no lugar errado ou com a tecnologia errada, regridem de seu patamar civilizatório e podem ser extintos, como ocorreu aos noruegueses na Groenlândia. Exatamente como a regressão tecnológica dos aborígines da Austrália e Tasmânia.

O livro é um dos dez mais importantes que já li, ao mostrar o ser humano através da história, sem as doutrinas e mistificações a que nos acostumamos, sem perceber.

O autor faz uma fortíssima ligação entre os seguintes fatores, uns levando aos outros: domesticação de animais e plantas, sedentarização e explosão populacional, especialização de alguns sustentados pelos agricultores/pastores, explosão tecnológica devida a emulação entre os povos em contato, surgimento de doutrinas de coesão social e religiões, emergência da complexidade social e política, com crescente centralização do poder levando ao surgimento de cidades-estado e, por fim, reinos e impérios.

Ou seja, todo o repertório humano, até aqui.

É possível superar o estágio da plutocracia, reinante na maior parte do mundo (menos no Brasil, onde a elite é santa e recebeu mandato divino para enriquecer)?

É possível reformar os estados, fazê-los trabalhar para as massas, e não para alguns? Não me animo a responder a isto...

Tampouco farei qualquer esforço para resumir a obra que (me repito), considero essencial para se compreender o mundo. Faça um favor para si: leia-a você mesmo, leitor. 
Bali, 5 de janeiro de 2007.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Buzinasso

De um modo geral, na Ásia se cultiva a arte do buzinasso. Na estrada de Sa Pa para Lao Cai, por exemplo. Dirigindo um caminhão coreano (assim como os japoneses, esses caminhões têm buzinas calibradas para explodir os tímpanos humanos), um sujeito atolou a mão na buzina, ao ver uma pedra na estrada. Ele vinha apitando por qualquer coisa, à moda indiana: uma curva, uma reta, uma àrvore, uma casa, um penhasco. Ingrata, a pedra não se moveu um milímetro, conforme eu previra e pude testemunhar. Nas cidades, o mesmo apitasso, inconclusivo. As pessoas acabam desenvolvendo importantes problemas de audição, creio, enquanto a indústria lucra com buzinas cada vez mais impiedosas.

Vietnã

Numa noite de 1978 - terão de perdoar eu não precisar a data - às 4 da manhã, centenas de tanques tomaram Lao Cai, cidade da fronteira Vietnã-China. A princípio, seus habitantes pensaram tratar-se de movimentação de seu exército, mas logo ficou claro que aqueles eram tanques chineses, em "visita" que duraria meses e custaria as pretensões vietnamitas no vizinho Camboja.
Os vietcongs (vietnamitas comunistas) haviam escorraçado as legiões americanas e davam um "calor" em Pol Pot, o supremo genocida de um século repleto deles. Os americanos descobriram, muitos séculos depois de Roma vergar sob o peso dos hunos e da China ser devastada pelos mongóis, que os bárbaros podem, sim, ganhar guerras.
De nada adiantou o apoio americano a Pol Pot, em troca da utilização do Camboja para atacar o Vietnã. Nem as reiteradas incinerações de Hanói e Hue.
Com o triunfo inesperado, Pol Pot recebia "atenção especial" do exército vietnamita e a China teve de intervir.
Deng Xiao-ping - vitorioso da perseguição que sofrera de Mao e da "guangue dos quatro", deflagrara naquele mesmo ano o processo de modernização econômica que resgataria a China de 500 anos de indolência, burrice e atraso (alguns anos antes de 1500, a gigantesta classe de burocratas controlada pelos eunucos sofreu um golpe palaciano, e a vasta frota chinesa foi desmantelada, junto com os estaleiros. A China se fechou para o mundo, ao contrário do que faz hoje, com seu superávit de 200 bilhões e comércio de 1 trilhão de dólares, anuais).
O Império do Meio não toleraria hegemonias locais em seu quintal.
Essa história me foi contada por um soldado que participou da guerra, e hoje é guia turistico em Hanói. Seu espanhol é passável.

Cochim-China

Não sei em que panfleto turístico li que aquele apêndice da China chamado sudeste asiático era dividido entre o Sião e a Cochim-China.
O primeiro vem a se chamar Tailândia (terra dos livres, numa livre tradução). A segunda é o atual Vietnã. Em tempos esquecidos, os japoneses fundaram porto e vila no centro desse País, hoje entregues aos turistas.
Mais ao norte, Hue, capital de um império que só recentemente ruiu.
Nessa cidade, sento à mesa para o café-da-manhã, frente a uma janela que mostra a ponte de metal sibre o rio Perfume. Outro rio, de motocas, atravessa a ponte, vigiado por um céu irregular e choroso. Seria mais feliz ou, pelo menos, fluido, não fora o impertinente semáforo.
Perfume é rio de grandes ambições. Acalentou um império; corre manso nesse inverno chuvoso.
Enquanto isso, um turista arruma uma trouxinha com pães, biscoitinhos e outras guloseimas, para o lanche mais tarde.
Que cosa fea!
Inicio um movimento anti-matula. Turistas de todo o mundo, uni-vos. Abaixo a matula!

Aviso aos navegantes

Gente, uma má notícia: ao contrário das boas expectativas de alguns, eu não estava no avião que caiu aqui na Indonésia. Paciência, nao há nada que possa ser feito (rá rá rá).