Chego agora de Torres. Depois de duas horas e meia de onibus, chega-se à entrada do parque nacional. Daí, um transporte até uma hosteria. Essa é a parte fácil.
Daí, à pé, montanha acima.
A estrada começa com uma ponte dançante, que logo te sugere a encosta. Começamos a subir, eu e uma bonita americana, desafiando um vento fortíssimo, sem igual. Ela, que vinha de três dias nos andes peruanos e tem experiência em montanhismo, disse que nunca vira nada parecido. Muito menos eu.
Alguns dizem que o vento pode chegar a 100 km/h. Para mim, ele partiu de 100 e deve ter chegado facilmente a uns 180 km/h, no mínimo.
Nos agarrávamos às pedras (às pedras, vejam bem), corpo colado, pernas coladas, pés colados, tudo apoiado nas pedras, e o vento tentando nos convencer do abismo.
Houve um momento, já quase chegando ao refúgio chileno, em que ficamos muito tempo sem dar um passo, agarrados às pedras, o abismo se abrindo à nossa frente, o vento açoitando, todo se rindo de nossa fragilidade.
Mas aí chegamos, paramos um tempo para chocolates, frutas, castanhas, água, e depois partimos para a base das torres propriamente ditas.
Caminha-se por um bosque muito agradável, com subidas e descidas suaves, e chega-se ao pé da morena. O argumento final dessa caminhada de 14 quilômetros é uma cascata de pedras com uns 600 metros de altura. Você tem de escalá-la, se quiser acercar-se dos maciços graníticos.
Subimos, subimos, e nada. Uns japoneses, em descida, nos disseram que faltavam só "uns dez minutinhos". Sádicos.
Subimos, subimos, e então chegamos, resfolegando.
As três torres (quatro, na verdade), são como edificios gigantescos, perversos em sua verticalidade, com um lago por vezes verde em sua base.
Não vou tentar descrevê-las, o que deixo às fotografias, mas afianço que são majestosas.
O vento não te abandona um segundo, mas muda de direção. O tempo todo contra e, de repente, já quase no alto, começa a soprar a favor, empurrando para cima, induzindo pânico adicional, à vista de pedras gigantes, pouco amistosas.
Mas foi fantástica a caminhada.
Ficamos um tempão lá encima, tiramos vários fotos, que logo revelarei. Pausa para o lanche, mais fotos, e regresso. Na descida, uns italianos esbaforidos perguntaram quanto tempo faltava para o topo. "uns dez minutinhos", pois sim.
Harvest, a americana, ficou no camping da base, aos pés das torres. Eu fiquei no refúgio, a 45 minutos pelo bosque. Aguardava-me um jantar o mais maravilhoso que já provei, haja vista a fome. Primeiro, uma sopa de legumes, a coisa mais saborosa, depois um frango com arroz, bem ao gosto brasileiro. Depois, uma sobremesa (com a fome domada, a sobremesa não me convenceu) e depois, cama.
Dormi umas dez horas sem parar, e só acordei com a sinfonia de despertadores dos montanhistas, prontinho para o café-da-manhã.
Nunca havia ficado em um refúgio de montanha, e a experiência de ver as torres através da alta vidraça, e os pingos de chuva, e um vento cortante lá fora são coisas difíceis de esquecer.
Hoje eu poderia ter montado a cavalo, para ir à Lagoa Azul (de onde se avista as torres), mas preferi voltar a Natales e descansar. Amanhã volto ao parque, para outra aventura, dessa vez em outro refúgio.
P. Natales, 14 de janeiro de 2005.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2005
terça-feira, 11 de janeiro de 2005
Puerto Natales
Cheguei ao extremo sul chileno, região de Punta Arenas. Àquela cidade chega-se de avião. Daí, um ônibus para Puerto Natales, cidade distribuidora do turismo na regiao de Torres.
No meu caso, ao chegar não achei ônibus (um sujeito, logo após garantir que havia, sumiu sem deixar vestígios). Juntamente com um casal australiano na mesma desventura, pegamos um táxi até Natales. Sao 3 horas em uma estrada muito cênica (a planície patagônica), sob sol até as 11 da noite.
Natales e uma cidade muito pequena, repleta de restaurantes e casas voltadas para o turismo. E turistas.
Hoje fui ao parque de Torres del Paine. Infelizmente choveu, e fez frio, e a visita não resultou proveitosa. Amanhã descanso um pouco e devo voltar ao parque, para outro tipo de visita. Mesmo na chuva, Torres me pareceu impressionante, nos poucos minutos de sol que tivemos.
Já a geleira que visitamos é bem inferior às de Perito Moreno, bem perto daqui, no lado argentino. Talvez eu vá à Argentina, se o tempo aqui não melhorar.
O hostal em que estou tem um bom café da manhã, e um quarto só pra mim.
Por ora, é só.
Puerto Natales, 11 de janeiro de 2005.
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