sábado, 16 de março de 2013

Ceviche em Lima

Um disco amarelo ultima a tarde sobre Lima.

O ceviche visitou delícias peruvianas.

Daqui a pouco saio para Quito,

depois, quem sabe?

O sol desiste do dia,

entrega-nos ao descanso.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Viagens


Planejo a próxima viagem. Pretendo vertiginosos raids sobre as ilhas Cook, Sociedade, Tuamotu e Marquesas (além de Páscoa), todas no Pacífico sul. Convoquei agentes de viagem em cinco milhões de quilômetros quadrados, que me dizem:

E para que você precisa de tanta ilha? Escolha duas, ou três, não mais. Não gostamos de corsários!  

O que lhes digo é:

­Para as ilhas! Depressa! Hei, irmão, vê se não economiza nas ilhas aí, meu velho! Me vê um atol espaçoso e bem ventilado! Essa banquisa, que você me indicou, você não mandaria sua sogra para lá, mandaria?

Ligou-me a Moira, de Papeete. Disse que não pode ser; que a maioria das ilhas requisitadas não admite turistas, e menos ainda quem não fala francês e o idioma local.  Pimpão, lembrei-lhe que, além do francês, ignoro o inglês e todas as línguas do Pacífico. E meu portunhol costuma ser bastante criticado, devido ao estilo (pimpão). Ela me lembrou que a prática canibal não foi complemente esquecida em muitos desses parcéis...   

Esses caras... Nem me conhecem e já estão morrendo de raiva de mim.

Seja como for, são grandes as expectativas.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Laranjeira


Esta é a história mais simples que consegui imaginar. Não é a melhor, nem a mais sofisticada. Coisas complexas me ocorreram, mas eram fraudes. Então conto essa historinha, tão singela, não fora alguns truques que acrescentei na madrugada febril.

Ilíquida anda-me essa história, indecisa em seu enredo. Não quero acrescentar detalhes outros que não os estritamente necessários ao seu funcionamento. É uma história, como direi, despretensiosa, feliz em si, comunicante: resolvida.

Muito diversa das histórias que ando lendo, de multiversos e outras intoleráveis repetições e pequenas variações do nosso mundo, tão afim com nossas ambições de simplicidade.

Não, minha historia é singela, alheia a intervenções divinas, cataclismos, hecatombes nucleares, terroristas formulando políticas públicas de ensino. Não vou retratar a comunidade de inteligência, as mesas de operação dos bancos centrais, a ponte de comando de um porta-aviões, o fundo dragado do mar.

Minhas personagens, cegas, são duas criaturas de amor que a carne finalizou em formas femininas. Eram mãe e filha, caminhando rumo à escola para cegos, onde a filha estuda.

Iam felizes suas bastantes vidas, de humanos, de pessoas poupadas da ambição desagregadora. Iam respirando o ar de laranjeira após uma chuva delicada e operosa, finda havia pouco. Constituíam a unidade familiar e tiravam insuspeitados empregos do perfume do ar, do olor que a gostosa umidade oferecia, decorosa.      

Não eram ricas, não estavam com suas vidas garantidas, essas criaturas, mas viviam satisfeitas, haurindo o presente de cada dia que a madrugada traz embrulhado e a aurora já revela.

Eram mãe e filha, uma família, e se queriam. Essa é a historia mais simples e feliz que me ocorreu, e não quero fatigar sua precária maquinaria com tolices.

domingo, 10 de março de 2013

Horas

Horas demoras oras
boquirrotas pessoas

horários desmaiados
pedem espaço, fugas.

O horizonte aos poucos fendido
numa cortina escura de nuvens;
as árvores dos altos da Afonso Pena
intentam dedos verdes ao vento.

A cortina aos poucos esvaziando a visão
e seu discurso auto-referente.

Transidas árvores do parque
na comunhão do orvalho estival.

As pessoas não param para ver a chuva
seu diálogo com o imêmore ambiente.

Árvores móveis, as pessoas
não homenageiam a chuva,
precipital fonte do verde.

Apanho esse transporte,
na estação que finda,
mas quase não vou.

Vi chuvas chegarem e irem
sem entender seu delíquio.

Somos uma e mesma perda
 que frutifica.

Que farei?


Que farei, só comigo?

Oscila o tempo. Visito uma flor, descanso. O passo, tardamundo, ameaça errar. Estarão me esperando? Terão paciência?

Consultadas, as setas da vida cabriolam, empostam e mentem, provendo uma história, um conto.

As bossas se esvaem, tardonhas. Algumas tardes são alcançadas; pedem resgate.

Que farei só, comigo?

Emiti alguns poemas, que as flores enviaram. Fundeado nas imediações da realidade, espero o porto, além. A dispensação do mar encapela o coração.