Esta é a história
mais simples que consegui imaginar. Não é a melhor, nem a mais sofisticada.
Coisas complexas me ocorreram, mas eram fraudes. Então conto essa historinha,
tão singela, não fora alguns truques que acrescentei na madrugada febril.
Ilíquida anda-me
essa história, indecisa em seu enredo. Não quero acrescentar detalhes outros
que não os estritamente necessários ao seu funcionamento. É uma história, como
direi, despretensiosa, feliz em si, comunicante: resolvida.
Muito diversa das
histórias que ando lendo, de multiversos e outras intoleráveis repetições e
pequenas variações do nosso mundo, tão afim com nossas ambições de
simplicidade.
Não, minha
historia é singela, alheia a intervenções divinas, cataclismos, hecatombes
nucleares, terroristas formulando políticas públicas de ensino. Não vou
retratar a comunidade de inteligência, as mesas de operação dos bancos
centrais, a ponte de comando de um porta-aviões, o fundo dragado do mar.
Minhas
personagens, cegas, são duas criaturas de amor que a carne finalizou em formas
femininas. Eram mãe e filha, caminhando rumo à escola para cegos, onde a filha
estuda.
Iam felizes suas
bastantes vidas, de humanos, de pessoas poupadas da ambição desagregadora. Iam
respirando o ar de laranjeira após uma chuva delicada e operosa, finda havia
pouco. Constituíam a unidade familiar e tiravam insuspeitados empregos do
perfume do ar, do olor que a gostosa umidade oferecia, decorosa.
Não eram ricas,
não estavam com suas vidas garantidas, essas criaturas, mas viviam satisfeitas,
haurindo o presente de cada dia que a madrugada traz embrulhado e a aurora já
revela.
Eram mãe e filha,
uma família, e se queriam. Essa é a historia mais simples e feliz que me
ocorreu, e não quero fatigar sua precária maquinaria com tolices.