sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Os federais

1. Nos últimos dias a PF mostrou por que ainda é respeitada, apesar de tudo. Primeiro, prendeu vários de seus delegados, dois deles ex-superintendentes. Todos aplicados criminosos. Agora, na operação de maior envergadura de sua história, prende dois presidentes de poderes: o do Tribunal de Justiça e o da Assembléia Legislativa de Rondônia. Tudo no mesmo dia. Aplausos vigoros para os federais, e para a ministra Eliana Calmon, que teve a ousadia de romper com o corporativismo que se transformaria em cumplicidade.
Estadão on line:
"Em mais de 30 anos de atividade policial, nunca tinha visto esquema de corrupção tão extenso e tão ramificado nas instituições da máquina pública", observou o diretor-executivo da PF, delegado Zulmar Pimentel, que costuma dar o nome às operações. Pimentel acompanhou os trabalhos e a remoção para Brasília dos magistrados e membros do Ministério Público com prerrogativa de foro no Superior Tribunal de Justiça (STJ) - nove no total. As prisões e os mandados de busca foram expedidos pela ministra Eliana Calmon, do STJ.
Estadão impresso:
A prisão mais dramática foi a do presidente do TJ. Os policiais chegaram a sua casa pouco depois das 6 horas, quando o desembargador, de calção e tênis, se preparava para sua caminhada matinal. Os policiais se identificaram com educação e informaram que cumpriam mandado de busca. Pensando ter o controle da situação, Sebastião Chaves relutou por alguns minutos, mas acabou cedendo. Só depois de recolherem tudo que buscavam, os policiais lhe deram voz de prisão. A mulher e dois filhos que assistiam a tudo caíram no choro. No momento em que as buscas eram realizadas, outros juízes, promotores e amigos começaram a ligar para o desembargador, a fim de avisar que estavam sendo presos e pedir socorro. Chaves informava, desolado, que também era alvo da operação. Se operações desse tipo se tornarem rotina - e ao contrário do que sustentou o sempre lúcido Josias de Souza - o País vai mudar, sim. Pra melhor. De presidente da República até gari milionário, quem deve tem de pagar. Chega de deuses intocáveis. Chega de vacas sagradas e profundamente corruptas.
Aplausos também para o Procurador-Geral da República, que recomendou a colheita de provas contra os amamentados da Planam (gostaria que todos os "lactantes" pagassem).
As instituições respiram. Ainda bem.
2. Cuba. Cansei dos cubanos. 50 anos de tolerância com aquele bandido "revolucionário". Alguém quer, por favor, enterrar a múmia assassina? Basta.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

O processo político

Elio Gaspari, que já incursionou pela história recente do Brasil, escreveu, na Folha de São Paulo deste domingo: O Congresso Nacional já foi fechado sete vezes (1823, 1889, 1930, 1937, 1966, 1968 e 1977). Às vezes, foi-se embora numa ventania que mudou o regime (1889, 1930 e 1937), mas houve casos em que o pretexto foi uma votação na qual o governo saiu derrotado (1968 e 1977). O Congresso não produz crises institucionais, mas é sempre seu estuário. Chega uma hora em que o seu recesso parece solução de um problema, quando é apenas um truque do Executivo para impor sua vontade. Em 1968 o problema não esteve na negativa da licença para se processar o deputado Márcio Moreira Alves. A crise estava na anarquia militar. Em 1977, o congelamento de uma reforma do Judiciário foi, documentadamente, puro pretexto. O que o governo queria era garantir eleições indiretas nos Estados e fabricar uma maioria no Senado. Gaspari parece temer que um autocrata, recém-eleito, use algum pretexto para instituir nova farsa republicana. Não acredito nisso. O problema é que o processo político já não medeia soluções, exigidas pela sociedade. Ver a China crescer onze por cento ao ano, por décadas a fio, sem qualquer justificativa razoável, produz muita ansiedade e perguntas. Que diabos o Brasil está fazendo? Por que até a Índia, a Geni entre os países pobres, cresce mais que nós? A China não tem um Judiciário digno desse nome, não garante os investimentos de ninguém e está pouco se lixando para direitos autorais ou lealdade no comércio com outros povos. Seu sistema bancário acumula créditos podres impagáveis. A montanha de dólares oriunda das exportações (1 trilhão de dólares) são investidos em papéis do tesouro americano, e assim retroalimenta o delírio consumista norte-americano. No entanto...
A conclusão é que o processo político brasileiro está falido e não há perspectivas. Pelo menos, não temos aventureiros à vista. E o Congresso pode gazetear à vontade...