sábado, 8 de julho de 2006
domingo, 2 de julho de 2006
Memórias de um Primata
"Eu sou o bicho-papão escondido no armário das crianças, sou o terror dos babuínos, silencioso, furtivo e perverso: sou o cobrador de Belzebu. Mais um babuíno atingido com sucesso pelos meus dardos. Euforia. Hoje acertei Gengiva, o babuíno que jamais imaginei conseguir pegar. Malandro, astuto, sabia todos os meus truques, me enganou por meses. Eu estava quase entrando em desespero, precisava conseguir uma amostra de sangue dele. E hoje ele vacilou. Achou que estava seguro, rodeado por um bando de fêmeas, acreditou que elas iriam protegê-lo no caso de um ataque, achou que eu não ousaria atirar no meio de uma multidão, mas ele estava errado!
Minha experiência com babuínos é mais modesta. Resume-se a um encontro no Cabo da Boa Esperança, ao sul da Cidade do Cabo, África do Sul. Eram animais acostumados a turistas, desencaminhados, portanto. Seus gigantescos caninos e postura agressiva intimidavam.
Robert conviveu com essas criaturas, descreveu comportamentos comuns a outros primatas e anotou coisas realmente perspicazes sobre ambição, inveja e sadismo. Em cada bando o macho alfa (líder) tem o direito de escolher dentre as fêmeas no estro. Os demais ficam com as enjeitadas.
Por sucessivos golpes de sorte e muita instabilidade no bando, o jovem Benjamim herdou esse posto, num curto período (o autor dava nomes bíblicos aos animais do bando em estudo). Benjamim
não inspirava muita confiança nos demais. Certa tarde, o bando o seguia numa passagem estreita entre dois bosques cerrados. Benjamim liderava o grupo. Bom, babuínos machos, de qualquer posição no ranking social, raramente lideram o bando em exploração pelo terreno. Na verdade, podem até tentar, mas raramente são seguidos. Eles não sabem para onde estão indo, pois estão no bando há pouco tempo. Normalmente as velhas fêmeas é que são seguidas pelos outros. Pois Benjamim vinha andando na passagem entre os dois bosques, sem nem mesmo olhar para trás. Enquanto isso, as duas matriarcas do bando, Lia e Noemi, decidiram mudar de direção e entrar na mata, e todos os outros babuínos as seguiram. Benjamim prosseguiu, orgulhoso, passou na frente do meu jipe e finalmente olhou para trás. Deus do céu, onde foi parar todo mundo? Ele correu pelos arredores, hipeventilando, e num momento de tola inspiração cognitiva aproximou-se de mim, abaixou-se, e procurou sessenta e tantos babuínos embaixo do meu veículo.
O livro prossegue descrevendo o mosaico de atrocidades e tragédias humanas que compõe a África, hoje como há séculos. Quem quer que visite os cassinos do Reino da Suazilândia, ou as favelas de Joanesburgo, pressente algo de incurável naquele continente.