sexta-feira, 11 de agosto de 2006

A China e o resto

A China já é a segunda economia do Planeta, quando se ajusta o valor do PIB pela paridade de poder de compra, metodologia que leva em conta os valores relativos internos dos preços da economia (um corte de cabelo na China pode custar 20 centavos de dólar, mas não é essa sua real contribuição na geração de riqueza). Com 1,3 bilhão de pessoas e crescimento explosivo, a China caminha para ditar os acontecimentos do século. Os EUA levaram 100 anos em sua corrida para a supremacia econômica e militar. A China começou a sua em 1978 e a completará em pouco mais de 20 anos. Em toda parte, os mesmos ciclos: depreciação forte da moeda e manutenção artificial desse preço, com investimento agressivo em direção às exportações, inicialmente de produtos baratos, com mão-de-obra intensiva e baixa tecnologia. Depois, os produtos se sofisticam e, por fim, exportam-se produtos de tecnologia intensiva, de altíssimo valor agregado. Europa, Japão, Coréia do Sul e, agora, China. Após enriquecer dessa forma, o país pode retornar a uma taxa natural de câmbio e os preços internos sobem. A economia integra-se plenamente ao resto do mundo, já rica. A China ainda está na fase do câmbio depreciado artificialmente. Mantém o yuan – moeda instituída pela dinastia de Kublai Khan (neto de Gengis Khan) em 1279 – a uma taxa de 8/1 dólar, para desespero do FMI e dos EUA. Os EUA tentam, mas não podem mostrar os dentes a um parceiro que detém 1 trilhão de dólares em reservas, a maior parte investida em títulos do Tesouro americano. Não há ganhos com esses títulos, que até recentemente apresentavam ridículas taxas negativas de juros mas, se o cliente não for financiado, não compra. A China inunda os EUA com artigos industriais baratos, acumula saldos em dólar e os reinveste em títulos da dívida americana, usados para equilibrar a balança de pagamentos, retro-alimentando o ciclo. O dia em que a China parar de comprar os micados papéis americanos não será um dia de muita lucidez no mercado mundial. Brasil x China x Índia em números: por que não me ufano (espero que nem você, raro leitor). 1. Valores correntes (taxa corrente de câmbio). PIB China: 2.224 bilhões – 4º no ranking mundial Brasil: 792 bilhões – 11º no ranking mundial Índia: 775 bilhões – 12º no ranking mundial PIB per capita Brasil: 4.315 – 74º no ranking mundial China: 1.702 – 110º no ranking mundial Índia: 713 – 134º no ranking mundial 2. Números ajustados pela Paridade de Poder de Compra. PIB China: 9,41 trilhões Índia: 3,63 trilhões Brasil: 1,57 trilhão PIB per capita Brasil: 8.584 – 68º no ranking mundial China: 7.204 – 84º no ranking mundial Índia: 3.344 – 122º no ranking mundial
Todos os valores em dólares americanos.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Tartaruga amazônica

Amiga das águas calmas do espelho d'água do hotel, a tartaruguinha tá com uma cara que denuncia preguiças.

domingo, 6 de agosto de 2006

Pesquisas qualitativas

Josias de Souza arrombou a festa, de novo. Fez um comentário tão incisivo e inteligente que terei de reproduzi-lo, quase na íntegra:

Começa daqui a dez dias a campanha eletrônica. Candidatos vão ao rádio e á TV para seduzir você. Será o teatro de praxe. (...)

Ao votar em Collor, o eleitor imaginou ter escolhido um salvador da pátria. Descobriu depois que escolhera o absurdo levado longe demais. Ao optar por FHC, pensou ter votado na tese. Elegera, na verdade, a antítese. Ao escolher Lula, presumiu ter restaurado os bons costumes. Viu-se diante de um bordel partidário. É provável que você se identifique com várias propostas dos candidatos. Desgraçadamente, isso não quer dizer nada. As modernas técnicas do marketing político põem ao alcance dos comitês de campanha ferramentas sofisticadas. Uma delas, chamada no jargão publicitário de “pesquisa qualitativa”, permite aos candidatos instalar uma sonda na cabeça do eleitor. As campanhas, antes intuitivas, evoluíram para um esquema baseado em estatísticas. Encontrou-se uma forma de captar as vontades e as angústias da sociedade. Dá-se o seguinte: atraídos por salgadinhos, refrigerantes e brindes, grupos de eleitores são reunidos em salas fechadas. Ali, avaliam vídeos de campanha, discutem propostas de governo, condenam e aprovam candidatos. Há nessas salas um vidro semelhante àquele que a polícia instala em cabines dedicadas à identificação de criminosos. A vítima vê o bandido, mas não pode ser enxergada por ele. Nos ambientes preparados para a realização de pesquisas qualitativas, o eleitor é observado, do outro lado do vidro, por magos da publicidade eleitoral. Eles passam horas ouvindo e anotando as discussões travadas nos grupos. O método permite aos candidatos afinar suas campanhas com a vontade do eleitorado. Na prática, as opiniões do eleitor são recolhidas, embrulhadas para presente e, depois, devolvidas ao dono na forma de comerciais de rádio e de TV. A mesma tática é utilizada por grandes empresas. Antes de jogar um produto novo no mercado, elas testam o gosto do consumidor por meio dessas pesquisas qualitativas. A diferença é que, adquirindo um sabonete de má qualidade, você sempre poderá substituir por outro sabonete produzido pelo concorrente. Se escolher um presidente defeituoso, terá de consumi-lo por quatro anos. Portanto, atenção. Muita atenção. (Escrito por Josias de Souza às 19h40)
Infelizmente, é verdade. Pesquisa qualitativa é o meio pelo qual o promotor de um produto qualquer (um político, por exemplo) se informa sobre o exato desejo do público-alvo. Não erra nunca.
Isto só empobrece a política, em crise.