segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Tasmânia, primeiras impressões

Falei cedo demais do albergue. Não é tão ruim assim. E tem o salutar hábito de colocar mulheres e homens no mesmo quarto (para ver no que dá).

Hobart e bem pequena, mas o entorno é cheio de atracoes. Fui ai Monte Wellington. A visão é espetacular. Parecida com a Montanha da Mesa, na cidade do Cabo, mas fica bem próxima a Hobart.

E você não precisa escalar nada. Chega de carro ao topo.

Esse negócio de quartos mistos, até agora não deu em nada. Mas quem sabe, né?

domingo, 30 de dezembro de 2007

Hobart

Albergue barato em Hobart. Barato, nao diria bom.
Amanha verei o que posso fazer. Tambem tenho que ver os passeios. Enfim, cai de paraquedas na tasmania.

Melbourne

Estou no aeroporto de Melbourne, esperando o vôo para a Tasmânia. Demoram cinco minutos para a montagem de cada página da internet. O mesmo que há 3 anos, em Alice Springs. Não é correto dizer que a internet na Austrália não funciona e quem o disser merece censuras. Tampouco é certo dizer que funciona... Espero que na próxima visita tenha dado tempo deles consertarem isso.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Changi

No aeroporto.
Mais uma vez, esqueci de tentar antecipar o voo. Nao aprendi com os erros, como se ve. Inda assim, da para curtir internet gratis.
Vim de metro, como deve ser, mas a viagem e mais trabalhosa que em Hong Kong. Daqui a pouco sai o voo para Melbourne. Chego as nove e pouco.
Ate.

Despedida (dessa vez vai)

Saio agora para o aeroporto. Cingapura é cidade para se conhecer em 48 horas, nao mais que isso (sem desmerecer a ilha).

Fiquei mais tempo devido aos vôos, complicados. No final, um passeio pela rua Orchard, um mar de gente comprando, flanando. Fui até onde a multidão consentiu (hotel Marriott). Àquela altura a massa humana, cerrada, me impediu de prosseguir. Sendo a Tasmânia ilha menos povoada, acho que vou me dar bem.

Notas - Cingapura

1. Hong Kong. Restaurantinho pequeno, familiar, aconchegante. O gerente-garçom atende em inglês. Com fome desmedida, peço dois pratos principais. Ele me repreende: - É muito, para pessoa tão pouca. Escolha um prato. - Me faz um peixe? Meia hora depois chega o peixe, fumegante, atraindo olhares dos fregueses, em regime de inveja. Tempero com apelo tailandês, o que quer dizer algumas lágrimas durante o jantar: pimenta, gengibre e uns talos de estranhos vegetais. O peixe explodia sabores em todas as direções. Divino. E o gerente tinha razão: eu não conseguiria comer mais nada naquela noite. Custou uns doze reais, chá incluído. 2. Cingapura. Comida italiana (pasta) se encontra em todo o mundo. Lembro de uma pizza numa cidadezinha da Austrália. Um escândalo de sabor. Não me lembro de nada igual na Itália, Argentina ou EUA. Comi uma pizza bem convincente aqui em Cingapura. Massa fina, crocante, ingredientes bem escolhidos, presunto parma menos marcante do que deveria. Fica a saudade da Cantina Romana, a casa de massas onde os garçons me chamam pelo nome, e eu a eles. 3. Carestia. Em Budapeste tudo é caro, à exceção do hotel. Cingapura não consente exceções. Num país islâmico a cerveja custa umas quatro vezes o equivalente no Brasil. Parei com cervejas. Exceto um chope weiss, bávaro, muito amigo, cheio de credenciais e um sabor marcante. Seis dólares, no happy hour. 4. Moda local. Os “cingapurinos” moram em pombais verticais deprimentes. São cohabs de 30, 40 andares, tudo igual, com roupas estendidas em inacreditáveis varais de alturas vertiginosas. A mesma moda de Hong Kong. Pensando bem, a mesma moda de Lisboa (exceto quanto à altura). Não haveria modo menos arriscado de secar roupas? Eu jamais deixaria minha cueca (única) tremulando a 100 metros de altura, ah, não senhor. Em Cingapura os guias dizem, a toda hora, que determinada coisa é “a maior” ou “the finest” do sudeste asiático. Suponho que Cingapura também abrigue o varal mais alto, ou mais insensato, do sudeste asiático... 5. Politiquinha. a) Pervez só precisou municiar um lunático para se livrar de Benazir. Como é fácil a vida dos ditadores... b) Serra e Aécio conseguiram, no episódio da CPMF, ser mais malandros que Lula (o que é raro). Fingiram apoiar o governo, enquanto preparavam o enterro do imposto, para enfraquecer Lula e o PT. Perdida a receita, o governo inda lhes deve dinheiro. Nada mais edificante que a política. 6. Nomes. Incrível a quantidade de fionas encontradas aqui Ásia, ultimamente. Em todo passeio, não há direção que eu olhe sem me deparar com uma (normalmente indiana). Não há nada de errado em se chamar Fiona (em que pese ser esse o nome da mulher do ogro Shrek). Ocorre que, na maioria das vezes, sou obrigado a introduzir, mentalmente, um e antes do i e logo depois do f, para adequar o nome à pessoa...

Sol

Sol lá fora, convite para olhares e cliques.
Férias são assunto sério...

Mensagem de fim de ano do Josias

Todo fim de ano reproduzo, sem o menor pudor, uma postagem do Josias. Vejam as loucuras do cara:
O signatário do blog anuncia aos seus 22 leitores que é um novo homem. Às portas de 2008, se deu conta de que quem ele era não estava preparado para enfrentar os desafios de um novo ano. Foi bom enquanto durou. Mas agora chega. Quem lhes escreve é outro. Manteve o mesmo nome. Trocar os documentos daria muita dor de cabeça. Mas é uma pessoa inteiramente diferente. Para começar, desistiu do trabalho. Abraçou o ócio. Até meados de janeiro, numa espécie de projeto piloto de sua nova identidade, o repórter vai desfrutar de um velho privilégio: verá os proventos ingressarem na conta bancária sem despejar uma gota de suor. De resto, abandonará todas as antigas convicções.
(...)
Embora seja agnóstico, o repórter prestará redobrada atenção à coleta da megasena. Se acumular, jogará. E oferecerá a Deus uma chance de provar que existe. Se Ele não der o ar da graça, o blog voltará à velha rotina em 15 de janeiro. Estará provado que, fora da política, a metamorfose tem um limite. O limite das dívidas que vencem no final do mês. Não restará senão retomar o senso prático e voltar a encharcar a camisa para reencher a geladeira. Portanto, fique atento. Se o repórter não retornar em poucos dias, é porque recebeu um sinal divino. PS.: Como diz Marcelo Tas, blog é como delegacia de polícia. Não fecha nunca. Nem quando está em processo de metamorfose. Até a volta. Isso, claro, se Deus não conseguir demonstrar que existe.

Escrito por Josias de Souza às 03h25

Sem o mesmo privilegio do Josias, vou continuar suando a camisa aqui na Asia (e escrevendo neste blog).

Adeus a Cingapura

Chuva no último dia.
Restaurante bacana, para o almoço. Daqui a pouco, sorvete Haagen Dasz. Saí para fotografar a cidade, a pé.
Resolvi não ir ao zoológico, nem ao parque das aves. Dizem que são bacanas. Não estou com vontade de conferir (após o quarto ou quinto, a gente fica meio deja vù).
Ontem fui à disneylândia daqui. Um lugar entulhado de brinquedos e atrações, onde estão construindo outro resort de não sei quantos milhões de metros quadrados.
Por tudo isto não fui ao oceanário, nem a qualquer outra atração daquela ilha, que fica quase embaixo do paliteiro de guindaste do porto e atende pelo improvável nome "sentosa".

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cingapura

Uma cidade-estado fervilhante, bem ao estilo oriental.
Achei que, depois de Hong Kong, nao me impressionaria com mais nada em termos de burburinho oriental. Estava enganado.
Hoje um city tour, amanha outro. Nao 'e o meu feitio, mas aqui vale a pena. Melhor, e necessario.
Saio agora para um city noturno, um programa cheio de oportunidades para fotos...

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Hong Kong

Voce pega um trem super rapido mas, mesmo assim, demora uns 40 minutos do aeroporto ate o centro.
Hong Kong é como Manhattan: predios de vasta sombra ameacadora, gente em excesso e grandes negocios.
A diferenca fica por conta de suas montanhas, que fazem a cidade ainda mais interessante (como o Rio).
A Rosanna me questionou sobre passar o Natal sozinho. Impossivel ficar sozinho em Hong Kong, minha cara. Nao sei por qual mecanismo, mas o fato é que a cidade esta lotada. E sao pessoas daqui.
É um tanto dificil explicar, mas as ruas e passarelas estao apinhadas de mulheres, de todas as idades. Aparentemente, o Natal é uma festa exclusivamente feminina, por aqui. Elas estao em toda parte, aos bandos: no metro, nos elevados, pracas e jardins. Nao há como evita-las. Nem quero.
Fiquei de perguntar sobre esse fenomeno.
Enquanto isso, tiro fotos, de tudo.
Abraco a todos.

Aventuras

Saí de Budapeste, aeroporto bacana. Mas o avião atrasou duas horas. Como resultado, perdi a conexão em Frankfurt, por alguns minutos. De volta a Munique, na expectativa de pegar outro vôo, nada feito. Foi assim: Ao chegar a Frankfurt, peguei uma fila para trocar de bilhete. Depois outra e, finalmente, consegui os bilhetes, após a atendente me passar na frente dos demais passageiros. Daí, era só passar na imigração, e ir para a ala A. "É moleza. Deve ser a primeira", pensei. Era a segunda. "Bom, pelo menos é o A1, deve ficar perto". O leitor já esteve no aeroporto de Frankfurt? Pois bem. Da imigração subi e desci escadas, esgueirei-me por corredores infindáveis e cheguei à ala B. Portão 60. Depois, 59, 58, 57 e assim até o infinito. Após uns vinte quilômetros de ala B, caí na A. agora sim, moleza. Quase: A 60, 59, 58 e assim até o fim da era cristã. Vinte quilômetros depois, carregando uma bolsa pesando 10 quilos, A1. Exausto, suando em bicas, perguntei para a atendente, após uns dez minutos de espera na fila, onde era meu portão, já que meu vôo não estava no A1. “Sorry... changes to A15”. Então tá. Resultado: peguei o avião, que também atrasou, perdi outra conexão em Munique, fui pro hotel e agora estou no aeroporto, esperando voltar para Frankfurt e depois, se tiver sorte, ir para Hong Kong. Nisso meu hotel já mandou bala no meu cartão de crédito (no show) e duvido que a Lufthansa vá me reembolsar.
Descobri, chocado, que o Brasil nao tem a primazia em coisíssima nenhuma.
Nem em palhaçada em aeroportos...

domingo, 23 de dezembro de 2007

Budapeste versus Praga

Disse, ao chegar a Budapeste, que a cidade se parece com Praga. Nada a ver. Têem similaridades: libertaram-se da tirania comunista recentemente, foram arrasadas na Grande Guerra, fizeram parte do “Sagrado Império Romano”. Em ambas se fala um idioma que ao resto do mundo parece misterioso), mas não poderiam ser mais diferentes. Budapeste é mais “oriental”, tem uma cultura que mescla claramente elementos árabes ao legado ocidental. Na música isto é mais evidente. A arquitetura de muitos monumentos ou é islâmica, ou sofreu sua influência. A catedral de São Matias é o exemplo mais óbvio. Mesquita alguma vez, hoje é católica, sem convencer em qualquer dessas direções arquitetônico-religiosas. O jeito é considerá-la uma discutível antecipação dos modernos movimentos ecumênicos, tão sem identidade.
A Hungria funciona melhor como zona de transição entre o Ocidente e o Oriente.
Praga, com suas mil torres, é uma jóia para os sentidos.
P.S.: o aeroporto de Budapeste tem realmente uma conexão muito boa, e grátis! Só tem um problema: sao dois os aeroportos (um doméstico, outro internacional), ambos com o mesmo nome e inacreditavelmente distantes um do outro.

Adeus a Budapeste

Saio agora para o aeroporto. Depois de um voo curto ate Frankfurt, outro ate Hong Kong (onde chego amanha, às 11 da manhã, hora local).
Fico pouco tempo em Hong Kong, de forma que terei de aproveitar o máximo. Provavelmente, nao terei muito tempo para internet...
Budapeste foi uma experiencia interessante, embora seja uma cidade para se pesquisar com mais calma, em estacao mais propicia.
É cara mesmo antes de adotar o Euro (já o disse). Talvez o melhor programa seja aportar por aqui a partir de Viena, numa escala curta. Novamente, nao pode ser no inverno.
Estou pensando na Polônia e nos paises resultantes da devastacao da antiga Iugoslavia. Mas tera de ser em estacao menos rigorosa.
A Europa é um vasto mar de monumentos, jardins e cicatrizes de guerras.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Noite em Budapeste

Última noite em Budapeste. Saio para comemorar.
Vou a uma estação de metrô, comprar o tíquete para o ônibus. Ensinada, a máquina fica com meu dinheiro, mas esquece do tíquete. Well, vou à pé (nem queria, mesmo).
O peixe estava ótimo, e também a sopa goulash (é uma sopa de carne, igualzinha às do Brasil. Com páprica fica melhor). Pena que, mais uma vez, tive notícias do trabalho de um desses dentistas...
A comida húngara tem lá suas alegrias, mas nada que deveras impressione.
Os preços, em geral, são altíssimos. Para se ter uma idéia, subir num bondinho custa 7 reais, e qualquer museu, por mais ordinário, vai ficar com 20 de seus reaizinhos... Qualquer jantarzinho fica por 70 reais.
Volto ao hotel triunfante, depois do jantar. Nada de neve, nada de passar frio: busão, de grátis...
Só o hotel ficou barato (pouco mais de 100 reais, com direito a internet por quantas horas o freguês agüentar).
Budapeste, 22 de dezembro de 2007.

Informações inúteis

A Hungria, parte do império austro-húngaro, não satisfeita em perder a 1ª. Guerra Mundial (ficou ao lado da Austria, naturalmente) perdeu também a 2ª: ficou com os nazistas, achando que podia recuperar parte do território perdido na 1ª. edição desse grande divertimento para adultos e crianças chamada Grande Guerra.
Terminada esta Stálin recebeu o país (e metade da Europa) de mão beijada dos americanos. Em 1956 as tropas soviéticas invadiram, e o primeiro-ministro Imre Nagy foi executado. Flertara com gracinhas democráticas.
Vitória, só com a adesão à Uniao Européia, recente e incompleta, por ora.
Fala-se o Húngaro, como eu suspeitava. Chico Buarque teria dito, sei lá por que, que esse é o unico idioma que o diabo respeita. O que se diz, em geral, é que o idioma foi inventado para que ninguém mais soubesse o que os húngaros confidenciam entre si.
Talvez por isso nao vejamos muitas escolas de Húngaro por aí, nem Húngaro por correspondência em cinco (ou dez) lições.
O Húngaro pertence à familia das línguas uralo-altaicas, representadas na Europa também pelo Finlandês e o Estoniano, das quais se aproxima apenas pela estrutura gramatical, pois não compartilham qualquer semelhança entre palavras. Tem parentesco distante com alguns dialetos de cantos remotos da Sibéria, e percebe-se tão bem ou quase nada como se fosse Cirílico (Russo).
Tirei a citação de uma revistinha portuguesa. Aposto que o leitor nao sabia nada disso (e nem eu, obviamente).
Um fato: se o seu inglesinho falho e dificultoso não funcionar, vá de gestos. Porque Húngaro mesmo é que você não vai aprender.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Hungria

Neve, frio intenso e dias escuros, manchados de cinza. Sol em Budapeste, só no dia da chegada.
Nao reclamo, tomo um bom vinho hungaro (Juhász) para continuar a exploracao. Hoje voltei ao castelo de Buda, e a igreja de S. Matias.
Buda é acidentada, cheia de colinas. Numa delas situa-se o castelo. Peste, plana, abriga o Parlamento.
No meio delas, o Danubio.
Ontem visitei, em Peste, a Casa do Terror. É um museu que conta uma historinha muito triste. Trata-se dos massacres e crimes perpetrados pelos nazistas, logo seguidos pelos dos comunistas.
A Hungria foi esmagada por uns e outros.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Sobre darmos aos bancos o que eles dizem querer

Caí no conto de fadas de que, trazendo meu próprio computador, previamente cadastrado no banco e por ele reconhecido, poderia movimentar minha conta. Pois bem. Estou num McDonalds, há horas tentando o acesso e com a bateria prestes a acabar. A maldição do banco fica pedindo a instalação de um novo programa (que ele finge fornecer, mas nunca se instala) e não permite o acesso. Volta sempre para a senha, num enervante laço. De outro computador, nem pensar. Só os previamente cadastrados. No Brasil. Tenho uma promessa para o ano: a primeira providência, assim que puser os pés no Brasil, vai ser acabar com minha conta nessa nódoa no sistema financeiro, esse banquinho chamado BANCO DO BRASIL. É o que prometo.

Notas de viagem

1. Cervejaria em Munique. Teto decorado com pastorais alemãs; mesas rústicas, chefiadas por alemães; música folclórica tocada só quando dava na veneta da banda, bávara. Onde estarão os estrangeiros? Peço chope. Ignoro se a Alemanha tem coisa melhor. O acompanhamento inclui salsichas, com chucrute, of course. Em outra cervejaria (sim, visitei todas que pude), as salsichas boiavam pálidas numa água quente, e o gosto não era muito melhor que a aparência. Já o chope era inteiramente digno. Descobri, no fundo da vasilha, sob a água, a conta. Bastante original. 2. A temível Polizei alemã usa uniformes e BMWs verdes, como nos filmes de James Bond. Mas dentro desses uniformes encontrei, muitas vezes, loirinhas de uma simpatia e beleza que desmentem a ferocidade do mito. Em Munique uma delas gastou uns cinco minutos me explicando como chegar à cervejaria Hofbräu (eu já tinha ido lá umas cinco vezes naquele dia. Ainda assim queria ouvir a explicação). Por pouco não esqueço o acatamento que se deve à polícia alemã e convido a menina para um chope. A verdade é que eu teria facilmente consentido em que ela me impusesse algemas. Desde que despisse o uniforme. Outra, em Berlim, dividiu comigo a fila da lanchonete, toda olhares. Inda acabo preso por uma dessas policiais. 3. Sobre viajar sozinho Minha amiga Rosanna me perguntou sobre passar o Natal a sós. Sabem, o Natal também pode ser uma festa privada. Além do mais, é pra isso que foram inventadas essas cidades asiáticas, não é mesmo? Estarei em Hong Kong, onde o X-mas não é mais que uma ementa ao já vasto arsenal de motivos para as vendas. Pensando bem, não é tão diferente assim dos nossos natais... 4. Perguntei no hotel, em Berlim, onde ficavam os restos do famoso muro (a cidade tem cicatrizes dessa vergonha, assinaladas em muitas ruas). Responderam-me que atrás do prédio vizinho começava um trecho de dois quilômetros de muro. Vencido o quase quilômetro do prédio em questão, cheguei ao muro. Uma construção bisonha, de uns dois metros de altura, feita de tabletes finos de concreto. Foi erguido para “proteger” os cidadãos da República “Democrática” Alemã das maldades do imperialismo da vizinha República Federal Alemã. Visto pelo lado ocidental, era só um muro, mas no lado comunista, era precedido de uma zona da morte, onde se postavam guardas armados, com ordens de atirar para matar à menor invasão. Os cidadãos da RDA não demonstraram entusiasmo com essa “proteção”. Em verdade, sem o muro, não teria ficado ninguém para apagar as luzes, o que só evidencia o anseio de liberdade que nos caracteriza. O mesmo acontece hoje com a Coréia do Norte e Cuba. Mas essas sociedades não têm força para mandar ao inferno seus tiranos...
5. Sobre muros.
Os EUA estão a erguer um muro na divisa com o México. Para diminuir o número de mexicanos que acorrem a seu território. O capitalismo norte-americano, mais selvagem, atrai mais gente.
Israel constrói seu muro, vergonhoso, para evitar a entrada de palestinos num território que lhes pertencia. Frankfurt, 18 de dezembro de 2007.

Budapeste

Começa a aventura pelo Leste Europeu. Cidade pequena, se comparada com a interminável Berlim. Frio caprichado e neve.
Se parece com Praga, no geral. Saio agora para testar essa hipótese.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A cerveja

Encorpada, de sabor marcante; pilsen, de trigo ou escura: a cerveja alemã é superior.
Uma caneca de meio litro já basta para o freguês sair marchando; duas são suficientes para derrubar um cavalo (o teor alcoólico é generoso). Os alemães entornam várias.
A Hofbräu, de Munique, é um templo para os apreciadores de cerveja. Uma bandinha bávara tocava umas musiquinhas folclóricas, em instrumentos de sopro. Tudo bem à vontade (isto é, de quando em quando).
Esperimentei uma weiß (de trigo). Depois outra, pilsen.
Desceram bem. O problema é a falta de banheiro nas vias públicas, depois...
As cervejarias de Berlim limitam-se a imitar as de Munique, sem o mesmo sucesso.

Ainda a Alemanha

Nao consegui, em Berlim, comprar um unico bilhete de metro por minha propria conta. Todas as vezes, ou alguém se oferece para me ajudar ou tenho de pedir ajuda, quando ninguem esta testemunhando meu embate com a maquina. Hoje nao foi diferente, em que pese eu ter conseguido mudar o idioma para espanhol e ter encontrado diversas opcoes que em alemao me pareciam misteriosas. As pessoas te ajudam, sao solicitas ou, no meu caso, sentem pena. Berlim, ja encerrando, tem inumeras atracoes de nivel internacional, tipicas das grandes metropolis europeias: museus interminaveis, parques, pracas, jardins. E lojas de luxo. Sao divertidas as lojas de carros, com carros-conceito em exposicao, o que lhes confere um bem-vindo ar de museu. Lotus, Porsche, Ferrari, Bentley e Bulgatti: me impressionaram vivamente.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Alemanha

Desembarquei na Alemanha sem pensar no assunto, sem estudá-la antes. Na pilha de livros ao lado da poltrona em minha sala figura a história da queda de Berlim, na Segunda Guerra.
Parei nos estertores da cidade, em abril de 1945.
As forcas sovieticas combatiam nos bairros da cidade, apos atravessaram milhares de quilometros desde Moscou.
Hitler preparava o suicidio, os "faisoes dourados" (nazistas de alto rango) escapuliam, muitos com destino ao Vaticano.
Berlim (e toda a Alemanha) seria retalhada em quatro partes, de forma a impedir que o coracao da Europa voltasse a reivindicar, algum dia, qualquer hegemonia.
Os estados comunistas, totais, se aguentaram na Europa por quarenta anos, um feito notavel, quando se conhece a insustentabilidade dos delirios socialistas. Depois, um pouco de lucidez conduziu cada qual ao leito normal da vida publica, onde cada pessoa cuida de seus proprios interesses e a somatoria é essa saudavel bagunca às vezes chamada capitalismo.
Inumeros crimes se cometeram naquela Guerra, por todos os seus protagonistas. Bombas de 500 quilos caiam sobre as cidades alemas, mesmo quando a guerra ja estava decidida, e nao havia alvo militar.
Como resultado, quase tudo que se ve na Alemanha é produto de restauracao, reconstrucao ou é simplesmente novo.
Berlim é um canteiro permanente de obras. O que é ótimo.

Kennedy, especialista em frases infelizes, exclamou: "estive em Berlim". Outra frase enigmatica sobre esta cidade é que "Berlim jamais será Berlim". Estive em Berlim, que me pareceu a própria Berlim. E daí?

sábado, 15 de dezembro de 2007

A noite de Berlim

Após a caminhada por Potsdam, a noite de Berlim. Feirinha, pra variar, quase em frente à Universidade Humboldt (onde, grosso modo, Max Planck inventou a Mecânica Quântica, esse delírio poético-cientifico). Depois, uma cerveja, encorpada e deliciosa, na Potsdamer Platz. Na volta, não resisti a um grelhado. Corte alto, estilo argentino, carne européia. Apenas razoável. Salada impecável. Outra cerveja, igualmente encorpada, insanamente loura. Marcante. Por ora, é dormir. Amanhã, Berlim, à pé, num passeio a zero dólar, zero libra e zero euro. Quanto será em reais? Vou perguntar.

Potsdam

Na periferia de Berlim, a pequena Potsdam é uma grata surpresa. Cenário para o acordo que pos fim à 2ª. Guerra Mundial (pelo qual os líderes das três superpotências vencedoras fatiaram a Alemanha), Potsdam tem imenso jardim chamado Sansoussi, semeado de castelos e palácios. Visitei-a nesta tarde de sol intenso desmentindo o inverno. Umas espanholas me fizeram gentil companhia ao Palácio Novo, naturalmente reconstruído.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Prova de Inglês

Antes da viagem, a prova. Nas dissertações solicitadas, mandei ver em termos pedantes e altissonantes, que deixaram tonta a professora. Infelizmente, o ter ficado tonta não a impediu de meter um "Zero, com louvor" no meu trabalho. Hoje, até aula de fotografia já dei, em inglês.

Munique

O tíquete profetizava chegada às 10h04min. Chegamos às 10h02min. Tamanha impontualidade não é bem-vinda. Ao desembarcar, lembrei que não tinha anotado nome e endereço do hotel. Após alguma hesitação, achei uma lan house. Tendo gasto metade do orçamento do dia (50 centavos de Euro), localizei o hotel. Ficava a uns 17 passos de onde eu estava. Após o ritual da mala, saí para caminhar. Cidade lotada, repleta de acenos, apesar da chuva gélida e do vento. Almocei numa das mais antigas cervejarias da cidade e consultei a memória. Na década de 1920, certo líder de arruaceiros entrou numa dessas cervejarias (não sei qual) onde estavam o governador da Baviera e anunciou, arma em punho, que, a partir daquele instante, todo o poder na Federacao Alemã lhe pertencia. Apesar do ligeiro equívoco quanto à cidade e às pessoas a coagir, o governador, e outros líderes, assentiram com tão decidida tomada de poder e combinaram o que fariam a seguir. Os freqüentadores da cervejaria, menos afeitos ao jogo do poder, limitaram-se a deplorar aquela chateação. Esse espetáculo ficou conhecido como "golpe da escada de serviço" ou "golpe da cervejaria", obra do sarcasmo dos frequentadores do lugar. O arruaceiro se chamava Adolf Hitler. Anos depois ele empreendeu outro "golpe de mão", dessa vez com mais partidários. O episódio rendeu pouco mais de uma dezena de mortos, inclusive alguns policiais. Hitler cumpriu menos de dois anos de cadeia por essa bravata, e quase foi deportado para seu pais de origem (a Áustria).

Filarmônica

Philharmonie, em Munique. Cheguei em cima da hora. Eles ousaram começar sem mim. Convidado a deixar o casaco na recepção, restou-me a camiseta. Regata. Cavada. As pessoas ostentavam excessiva indumentária: parte dos homens vestia fraque; parte empertigava-se em smokings. Alguns se atreviam a trajar meros paletó e gravata (logo aprendi a desprezar esses caras, evidentemente indignos de amizade). As mulheres exibiam o trabalho de metade das casas de alta costura da Europa. Não me importei com esse deslize. Quem sou eu para ensinar a essas pessoas o que vestir numa apresentação de orquestra? Lá estava eu, com uma bota capaz de de suportar 40 graus negativos, uma calça de alpinismo e a heróica camiseta que me acompanhara por toda a semana. O concerto foi bacana. Espero que esses caras tenham aprendido a lição...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Chegada a Alemanha

Esnobada como mero centro financeiro da Europa, Frankfurt tem sim atrações de classe. Sai a pé, sem rumo, logo após uma soneca reparadora (são 12 horas de voo). Pretendia ver uns museus mas, para que ver museus, se voce pode ver a vida na rua? No caminho, enfiei-me numa feirinha e fui conhecer a moçada alemã, num fim de tarde. Tinha barraquinhas de tudo, mas o que despertou minha ambição foi uma especie de churrasco alemão. Tinhas umas salsichas gigantes e carnes grelhadas. Arrisquei os dois pratos e me dei bem. Agora, uma autentica cerveja alemã e descanso, que amanha a coisa começa cedo: as seis vou para Munique, de trem. Detalhe: as pessoas te ajudam na rua. E tentam te entender.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Notas

Após longa pausa, aqui vão algumas notas, necessárias:
1. A Venezuela disse não ao trombadinha da democracia. Surpreendentemente, Adolf Chavez teve seu golpe de estado frustrado. É raro. Mesmo um pais maduro como a Alemanha da década de 1930 sucumbiu ao canto da sereia de plebiscitos que mascaravam os estertores daquela democracia. Após algumas votações, Hitler enquadrou o Estado e o resto é o que se sabe.
Hugo Hitler queria a mesma coisa, mas foi ligeiramente incompetente, ou talvez arrogante demais. Ressuscitou a oposição venezuelana, culpada até aqui de todos os delírios do caudilho, por via omissiva.
2. Lula enfiou a viola no saco e terá de esperar mais alguns meses até lançar outros balões de ensaio para sua tentativa de golpe. A população rechaça o terceiro mandato, segundo o Datafolha, mas o que pode a população, contra a vontade do rei? O apoio de Serra e Aécio a esse confisco chamado CPMF é um sério desafio à nossa boa vontade.
3. Disse, há dois meses:
Embora com retoques, Mônica mostra que é abençoada. Já Renan expõe a vergonha do Senado. Ele vendeu a alma a Lula para vencer o primeiro round, mas terá de deixar a presidência da Casa. Melhor fora um pacto com o diabo.
Mefisto cobrou seu preço.
4. A Bolívia arde em chamas. Os EUA, sintomaticamente, mandaram seu especialista em países secessionários, num gesto que parece indicar qual o futuro da Bolívia.

domingo, 28 de outubro de 2007

O sonho de Dawkins

Richard Dawkins, decano de Oxford, escreveu vasta literatura de divulgação científica. No último livro (Deus, um delírio) ele pôs a mão num vespeiro.
Não há concessões. Resenhado por teólogos, o livro recebeu críticas.
Se Deus é definido pelos religiosos como o bem supremo, a própria vida e tudo que nela há de belo e valoroso, não temos dificuldade para entender as respostas raivosas. Deus é amor, mas afirmar que Ele não existe merece algo mais que uma resposta, embora não cheguemos aos tribunais da consciência da época de ouro do cristianismo.
Alguns estranham que o decano permaneça impune. Outros, como eu, que o público relute em compreender a batalha. Para uma interessante resenha da obra, aqui.

domingo, 21 de outubro de 2007

O Delírio de Dawkins

Alister e, ao que parece, Joanna escreveram "uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins".
Estou irritado com o Alister (vou incluir a Joanna fora dessa).
Ele destruiu minha fé. Era uma fezinha de nada, bem pequenininha, mas era uma fé. Eu acreditava que deviam existir, em algum lugar inescrutável, verdades religiosas que eu desconhecesse, argumentos para contrapor a Dawkins.
Eu já tinha lido 32 páginas e não tinha encontrado nenhuma. Lá pela 70, bateu o desespero. Cumpri as 140 páginas impregnadas de um rancor bocó, uma coisa bem jeca, profundamente vexatória, porque não há nada mais vexatório que ser maldoso com alguém e fracassar.
Francis Collins, que perpetrou "A Linguagem de Deus" é outro "ex-ateu" (não há nada mais hilário que essa categoria). Faz proselitismo de uma espiritualidade vigorosa, desde que seja monoteísta e cristã. E se o leitor não quiser ser monoteísta e cristão?
Ele apresenta, aparentemente a sério, uma tese espantosa: a "lógica espiritual" sem, contudo, definir a expressão, o que desaponta, embora não surpreenda.
O homem chega a ser sincero em algumas partes do "livro", mas põe sua pouca credibilidade a perder com uma incrivelmente criativa "estatística" sobre milagres. Ou quando nos revela que, em algum momento, Deus teria impingido um espírito e uma "lei moral" ao pobre hominídeo em evolução.
Esses autores religiosos observam que "nos anos 60, diziam que a religião estava desaparecendo, substituída por um mundo secular" (Alister) e que, hoje, a religião retomou com força total. Será que Deus, que já é onipotente, precisa dessas "defesas" iradas? Se eles já ganharam a guerra, não entendo a histeria.
Nem me impressiona a atual moda religiosa. A psicanálise floresceu e nos aborreceu por mais de meio século; o comunismo alicerçou estados totais e as piores retóricas políticas por mais de cem anos.
Ora estão mortos (o comunismo da China inspira indulgência e o da Coréia do Norte e Cuba, suspiros de compaixão. Freud se mostrou um charlatão muito cultivado e muito aborrecido).
Não tenho dúvida de que, quando a atual maré religiosa virar, o secularismo chegará a extremos, para o bem e para o mal.
Muitos observam que o ateísmo teria pouco mais de um século. Com cerca de 2.600 anos, Deus/Javé ou sua interessante corruptela Jeová estaria em evidente vantagem.
Com que facilidade esquecem que o Homo sapiens, embora recente, tem significativos 200.000 anos!
Tão logo o excedente cerebral pôde engendrar, atribuímos significados engenhosos a tudo. E desde então a superstição nos acompanha, nas formas mais variadas e loucas. Quando os pequenos bandos de caçadores-coletores se agruparam em conglomerados sociais complexos, surgiram estados e religiões onde antes só havia superstição e relações de parentesco e amizade.
As religiões, instáveis, se transformam, ficam irreconhecíveis e desaparecem. A superstição, não.
Os autores adoram os deuses atuais. Usando duplilinguagem (na terminalogia de George Orwell), eles fazem a defesa possível de um conjunto de miragens que eles mesmos gostariam de abandonar, se tivessem meios. Não os invejo. Não tenho nenhuma pena dos milhões de deuses que morreram. Nem apreço pelos que habitam a mente dos crentes em todos os lugares.
Eu diria, com o gigante Peter Medawar, que esses autores só podem ser eximidos de desonestidade porque, antes de tentar enganar os outros, fizeram de tudo para enganar a si mesmos.

A onda Huck

Não concordo com o roubo de relógios. Nem mesmo o de Rolex (se eu pudesse, também teria um, e minhas horas seriam de infindas paixão e beleza. Ou, pelo menos, de uma conspícua soberba).
Mas precisamos resolver a questão aqui: gosto tanto do nosso Luciano que eu mesmo teria pago alguém para furtá-lo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Notinhas

1. Embora com retoques, Mônica mostra que é abençoada. Já Renan expõe a vergonha do Senado. Ele vendeu a alma a Lula para vencer o primeiro round, mas terá de deixar a presidência da Casa.
Melhor fora um pacto com o diabo.
2. Em meio ao maior constrangimento de que se tem notícia no Senado, Sarney não pronunciou, em público, uma mísera palavra sobre a crise. Só fala nos subterrâneos, ao pé de certos ouvidos. Nas últimas horas, o ex-presidente passou a vocalizar, modulando a voz, uma tese perigosa. Para Sarney, ao levar a guerra contra o presidente do Senado às últimas conseqüências, a oposição alveja o próprio pé. Ao vender a tese de que o Legislativo tornou-se um antro de perversões, PSDB e DEM contribuem, diz Sarney, para tonificar a boa imagem de Lula e do governo dele. Mantida a estratégia, avalia, “o povo vai acabar exigindo o terceiro mandato do Lula.” Há cerca de 20 dias, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, injetou uma provocação a Sarney num discurso que fazia da tribuna do Senado. Exortou-o a mover os lábios. Disse que, com a autoridade de ex-presidente da República, Sarney não tinha o direito de silenciar diante da crise que rói as entranhas do Senado. (Josias de Souza)
3. Sarney é uma vergonha, e deveria ser banido da face dessa boa República. Está insinuando essa vagabundagem para tirar proveito (herdar a presidência do Senado).
Ao contrário da declaração marota de Sarney a respeito de Lula, o povo brasileiro não desejamos essa desgraça. Esperamos, sinceramente, não ter de pegar em armas contra essas imundícies.
Se não podes se comportar com a dignidade que se espera de um ex-presidente, cale-se imediatamente, Sarney!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Belém

Alguns querem crer que Jesus não existiu ou que, tendo existido, não foi o deus que a propaganda depois cuidou erigir. Alheio a essas dificuldades teológicas, estou felicíssimo por estar aqui, na terra onde Jesus nasceu. Ficarei para a festa do Círio de Nazaré. Embora cético, até já estive na Basílica de Nazaré, reconhecendo o terreno.
Belém impacta fortemente. Culinária, gente, o passeio público: a cidade tem identidade. Marajó é um escândalo de rios, céu e areia. E luz. Guarás e búfalos passeiam para lá e para cá sem nenhum problema. Nós os fotografamos, respeitosos.

sábado, 6 de outubro de 2007

Marajó

Sol intenso, ondas: Marajó, em todas as cores. Praias em tudo felizes, sem o sal.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Notinhas

1. Pilar da República, o STF aceitou processar 40 dos mais ilustres bandidos da nação. O comissário Josef Dirceu trabalhava uma "anistia" para si mesmo, que talvez colasse, num congresso que às vezes não se dá ao respeito. Assistimos ao milagre de um presidenciável se transformar em presidiável. Ainda que não cheguemos às condenações criminais, o comissário não estará na lista de elegíveis nas próximas eleições, o que não é pouca coisa.
2. Uma das pessoas mais tóxicas do mundo, Karl Rove deixou a canoinha de Bush. Logo seu chefe lhe fará companhia. Na América Central, um teatro infame: o latifúndio de Castro, com milhões de escravos, e o campo de concentração de Bush, separados por uma cerca. Fascismos possíveis pela indiferença com que o resto do mundo assiste ao exercício de tiranias assassinas.
3. Cortaram o benefício da mãe de Grazi. Acho injusto. Se todo o programa é destinado a criar dependência das esmolas do governo, por que cortar só a mãe de Grazi, uma mulher que dotou o mundo de todas aquelas alegrias?

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Crise

A crise aérea dura dez meses. O “governo” não mexeu um dedo, mas piscou recentemente, após aquela brincadeira envolvendo 200 almas. Detonaram a múmia da Defesa, que há tempos vem iludindo os coveiros. Nunca na estória destepaiz tivemos uma camarilha tão deslumbrada e obscena. Por inútil, chamamos “tudo isso que está aí” (e que ostenta uma estrelinha vermelha) de governo por mera cortesia. Agora, chega o reizinho mandão, a sacar o brigadeiro e enquadrar a Anarq. Efêmero, o “novo aeroporto” de São Paulo durou só dez dias, tempo suficiente para ganhar manchetes e comentários ingênuos (se alguém promete comprar um carro daqui a 15 anos, bem, desnecessário se ocupar da criatura). Vida longa ao Vergonhão Aéreo.
Lá lá lá.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Hobby

Os adeptos de hobbies não medem esforços na hora de torrar fortunas em inutilidades. Ultimamente, venho investindo furiosamente em equipamentos fotográficos. Lentes? Compro como se o todo o estoque mundial fosse acabar amanhã. Já me ocorreu que não seria nada mal se, às vezes, eu aprendesse a fotografar. Nem que seja por engano. Alguém disse que, com filmes de 35 mm (o tamanho normal do fotograma), você precisa de uns 200 cliques para acertar uma foto. Sebastião Salgado revelou que precisa de uns 2.000. Com meus modestos e certeiros 1.000 cliques por foto, passei a olhar com desprezo para o pobre Salgado. Ainda é cedo para sair por aí frequentando cursos e quetais.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Penedo

De um lado, Neópolis. Do outro, Penedo, quatro séculos de história. No meio, o Velho Chico. Um casarão antigo me servirá de pousada, e amanhã saio para ver a foz desse observador privilegiado da saga e miséria do sertão. Pela manhã, registrei a escalada de mandacarus nos paredões que guarnecem as águas desse rio. Depois, do alto de Piranhas, vi a chuva encortinar o horizonte, cobrindo tudo de branco. O queijo de coalho, a carne seca e a mandioca esclareceram do que se trata. O sertão, as águas, a gente. É bom presenciar esse encontro.

Rio São Francisco

Canindé do São Francisco é uma cidadezinha às margens desse rio de grandes sofrimentos e muitas cicatrizes hidrelétricas. De minha janela vejo a mais recente delas, Xingó, muro insólito na garganta do rio. O vale abaixo abre-se majestoso. O rio segue apequenado, entre pedras. Acima da barragem, um lago de muitos braços, e canions areníticos graciosos. No sertão, à margem, a macambira ilustra agrestes tristeza e vigor. Águas verdes compõem o cenário dessa piscina espaçosa e índia. Encerro o passeio em Piranhas. Vou me mudar para a foz do rio.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Jalapão

Bomdiaêêê! Estou em Manaus, após uma semana no Jalapão. São rios e cachoeiras, dunas e chapadas a perder de vista. O cerrado em cópia vitoriosa. Eu quase não basto para tanta viagem...

sábado, 19 de maio de 2007

Inverno em Bonito

Novamente o inverno me pega em Bonito. Volto já a minha cidade. Abro os jornais. Vejam o que Josias aprontou desta vez:
Todo brasileiro em dia com suas obrigações fiscais deveria ter o direito de acompanhar o que é feito com o fruto do seu suor. Tomo por mim. Sempre que pago imposto, sou assaltado por dois sentimentos devastadores. O primeiro é a saudade. O outro é a incerteza. Dói-me não poder zelar pelo futuro do meu dinheirinho.
De minha parte, não penso no que o Governo faz com meu dinheiro (chega de passar raiva).
Prefiro ler os manuais de minhas máquinas fotográficas e lentes.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Aviso

Deixarei de atualizar este blog diariamente (como tento fazer, quando a preguiça deixa). Agora, só em cybercafés. Considero muito mais honesto o gesto de encostar o cano de uma arma em nossas cabeças, com a exigência de nossas carteiras, do que a conta apresentada pelas companhias telefônicas.
Mandei a minha ao inferno (espero que faças o mesmo, prudente leitor).
Seja como for, quem quiser falar comigo não tem com que se preocupar. O lava-jato da esquina tem um daqueles enormes orelhões. É só deixar o recado com um dos moleques que ocasionalmente atendem as chamadas, estridentes. A cada dois anos eu passo lá para checar as mensagens (é minha versão de telefone molecular).

terça-feira, 1 de maio de 2007

Tom Jones, de Henry Fielding

Clarice Lispector traduziu e adaptou para nós Tom Jones, de Henry Fielding. Anotei, em suas páginas finais: “Os personagens trocam loucamente de lugar e status. Num momento, serão enforcados com todo o peso do mundo em suas costas. Minutos depois renunciam às aflições e se dirigem ao paraíso terreno, no exíguo espaço de meia dúzia de parágrafos. O capítulo final é uma montanha-russa de vertiginosos caprichos. Ninguém está seguro de sua sorte.” Deve haver resumos que façam mais justiça ao autor e à tradutora. Ofereço este. Campo Grande, 10 de abril de 2007.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Ceará

1. Tatajuba. Disparo de moto por praias e dunas. Pela tarde encomendada, dunas e estirões infindos. Na mesa posta dentro da lagoa de Tatajuba, lagostas antes das lagoas de mais tarde. O leitor pode ter consigo ser natural o direito à lagosta grelhada pela qual te pediram 45, e você mandou 20 reais. As moscas daqui filosofam de outra maneira. Para elas a propriedade, muitas vezes, é um roubo (infelizmente, é o caso de lagostas grelhadas). Você pode pensar que as moscas não são muito dadas a filosofias, e provavelmente estará certo com relação às moscas de quase todos os lugares que merecem uma visita. As destas lagoas são extremamente versadas nesta filosofia em particular. Outrora escrevi, sobre moscas de outra parte do mundo: "Chegada ao Outback.
Vocês pensaram que as moscas eram assunto superado, não é mesmo? Pois elas estão aqui. Todas elas. E não adianta abanar. Se elas gostarem de vocês (elas vão gostar), abanar poderia magoá-las. Deixem que fiquem.
São de um tipo pequeno, bem pequenininho, e tenazes." 2. Jijoca. Chego a Jijoca, essa Jijoca não muito grande, não muito importante, sobre a qual adejam nuvens de chuva. O nome não é muito sóbrio, e o nome completo – Jijoca de Jericoacoara – só é bem manejado por bêbados. No dia seguinte, de quadriciclo, cavalos-de-pau entre dunas e praias. Criança tardia, ataco as areias creme; deixo-me informar pelas fofocas do vento, brincalhão. Abordo dunas e desço de suas encostas, só para, irado, cair em cima de riachos sossegados, em busca do mar. Esquecida, a lente da máquina alimenta-se de muita areia, lodo e algas. Pelo caminho, vilarejos; crianças na janela saudando a arruaceira tropa de portugueses, franceses, fluminenses e baianos. À tarde, o Preá, praia e vila de pescadores onde os robalos resolveram ser saborosos. A padaria Santo Antônio expende pãezinhos às duas da madrugada, e todos ali batem o ponto. Horário ingrato, encomendei os meus para as sete. Além dos pães, o café é primoroso. Jeri sugere respostas a certas perguntas: “que farei de mim neste ano?” ou “haverá um país?”. 3. Fortaleza. Paguei vinte reais para ver um forró. Outro tanto pelo jantar. Não houve jeito de o show convencer. O jantar também não. “Moça, me dá meu vintão?", cheguei a cogitar. Arre égua. Já o carneiro do Ordoni (acho que é esse o nome) convence. No lugar não há turistas. Só carneiros assados, deliciosos. Well...

sábado, 14 de abril de 2007

Depuração nas instituições

Três desembargadores, um procurador regional da República, delegados federais, agentes e funcionários públicos detidos. Está se tornando rotina.
Os mandados de prisão levam a assinatura de ministro do STF, devido a suspeitas que recaem (ou recaíam) sobre um ministro do STJ. Não dá pra dizer que são arbitrárias. De minha parte, acho que as instituições estão deixando de ser ficção.
Espero que as prisões, esse insuspeitado recurso didático, continuem.

Apagão aéreo

Crise agora se chama “apagão”: aéreo, logístico, da educação. Somos pródigos em apagões. A partir da crise do fornecimento de energia elétrica, no governo FHC, a imprensa não percebe o intolerável dessa palavra. Um caso de “apagão” estilístico, ora pois. Agora, os próprios controladores aéreos reconhecem o motim que, inadvertidamente, vêm impingindo aos pobres brasileiros (os pilotos dizem que os controladores mentem para eles, e inauguraram o gênero suicida de aproximação das pistas). Lembro-me de uma vez ter ficado quarenta minutos dentro de um avião em Campo Grande, sob a alegação de uma tempestade em Brasília, nosso destino. Quando chegamos, nem sinal de tempestade. Após muitos sobrevôos, pousamos. Da cabeceira da pista até o pátio, mais de meia hora, a passo de lesma. Os controladores nos fizeram perder mais de uma hora, ambos os aeroportos desertos (corria a sonolenta tarde de um domingo). Inicialmente, pensei que o motim era uma impostura dos controladores, sequiosos de se livrarem do bafejar dos milicos em suas nucas. Vou contar uma lenda. Era uma vez um país com economia e sistema político mal-resolvidos (nada a ver com o querido Brasil, o leitor fica advertido). Naquele infausto país, instituiu-se um ministério da Defesa, tal como em todas as democracias ocidentais. Os chefes das três Armas não gostaram. Daí, viram uma chance de ouro de desequilibrar o ministro da vez, e deixaram a indisciplina correr frouxa entre os controladores aéreos (em parte civil, em parte militar). O motim foi encorajado, pela via da omissão. A classe média, dormindo em aeroportos, rangeu os dentes. O chefe da Aeronáutica mandou prender os amotinados. Espertos, eles colocaram esposas e mães entre eles e as tropas. O presidente desautorizou o comandante da arma aérea, que ameaçou pedir demissão. A noite é má companheira de presidentes que demitem chefes militares, reza a lenda. Dias depois, os três comandantes militares “se convidaram” para falar com seu chefe teórico, que dera a contra-ordem. Quem eles querem para a Defesa? Ninguém? Nessa nossa lenda, os grandes negócios evoluem, numa conjuntura internacional que, por excelente, é inédita. Os players ganham dinheiro com uma intensidade indecente. Por outro lado, a mão “amiga” não empalma o poder civil em nenhum país relevante, nem mesmo em regimes políticos totais, como a China. Daí que ninguém sai ferido e as companhias aéreas faturam um dinheirinho a mais, com vendas “criativas” de assentos inexistentes. Não autorizo o leitor a extrapolar a lenda, menos ainda aplicá-la a países varonis, como o amado Brasil.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

STF e o direito de greve, continues

Os ministros Eros Grau, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Sepúlveda Pertence, Carlos Ayres Britto, Carmem Lúcia e Cezar Peluzo votaram pela procedência dos mandados de injunção que atacavam a omissão do legislativo em regulamentar (mediante uma lei) o direito de greve do funcionalismo público. Joaquim Barbosa pediu vista dos processos.
Anotou Josias de Souza:
Foram proferidos durante a sessão do Supremo duríssimos ataques ao Congresso, que foi tachado de omisso. Gilmar Mendes chegou mesmo a dizer que a ausência de regulamentação da greve no setor público fez com que imperasse a “lei da selva.” Celso de Mello estendeu a crítica ao Planalto: “Revela-se uma típica situação de desrespeito à Constituição, por inércia imputável ao Congresso e ao presidente da Republica, pois que, decorridos quase 19 anos, não houve regulamentação, frustrando-se, mediante arbitrária omissão, o exercício do direito de greve”.
O mandato de injunção é um tipo de ação previsto na Constituição. Permite requerer ao STF que assegure o exercício de direitos constitucionais que, por falta de regulamentação do Congresso, não podem ser exercidos em sua plenitude. Como no caso da greve dos servidores públicos.
Agora, o Executivo finge que se mexe.

sábado, 7 de abril de 2007

A morte de uma célula

William R. Clark, em O sexo e a origem da morte (como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida) faz um tour de force sobre o mundo das células, que reproduzo, sem dó nem piedade, abaixo. Ele descreve uma viagem imaginária pelo inteior de uma célula cardíaca. Vamos ver:
Embora ela ainda não saiba, a célula miocárdica em que estamos está prestes a morrer. Ela morrerá devido à isquemia miocárdica, ou privação de suprimentos de sangue para a parte do coração em que se localiza nossa célula. O primeiro sinal de perigo, se nossa célula pudesse interpretar estes sinais, é uma diminuição gradual do fluxo de linfa que corre em sua superfície externa. A origem desse fluxo – um dos pequenos ramos arteriais que trazem sangue à sua região específica do coração – tem se estreitado gradualmente há vários anos, como um córrego espremido por rochas, galhos de árvores, lama e outros detritos. Neste caso, os detritos são uma mistura complexa de gordura, colesterol e células sangüíneas mortas que têm se acumulado por dentro da parede arterial há anos. Este processo começa quando o excesso de gordura e colesterol no sangue é depositado no que se conhece como camada gorda, atraindo a curiosidade de glóbulos brancos que passavam pela artéria. Os glóbulos brancos estão constantemente patrulhando a corrente sangüínea, procurando por qualquer coisa que possa representar uma ameaça ao corpo. Incapaz de tirar esse material indesejado do caminho, eles também acabam se atolando na confusão, morrendo e aumentando o impasse. Conseqüentemente, o fluxo saudável normal de sangue pela artéria foi reduzido a uma corrente minúscula nos últimos meses e a quantidade de fluido linfático que pode ser liberada dos capilares alimentados por esta artéria bem diminuindo cada vez mais. A célula em que estamos não tem nenhum conhecimento disto. Mas à medida que o suprimento de linfa que banha os arredores do músculo cardíaco começa a se reduzir a meros pingos, e até cessa intermitentemente, a célula sente que alguma coisa está terrivelmente errada. A redução do fluido linfático indica uma diminuição no suprimento de material que sustenta a vida e está dissolvido nele, em particular alimento e oxigênio. Os geradores de ATP mitocondriais, responsáveis pelo suprimento de energia para toda a célula, começam a parar completamente por falta de combustível e oxigênio. A quantidade de ATP dentro da célula começa a cair abaixo do nível crítico necessário para manter a função normal da célula. Em resposta, geradores de apoio menos eficientes são ativados e continuam a zumbir por algum tempo, queimando reservas de emergência do alimento intracelular, como amido e gordura, e até proteína, na luta para acompanhar a demanda de energia. Mas estes depósitos logo estarão esgotados e os geradores auxiliares também serão obrigados a parar. A quietude metabólica momentânea aumentará a escuridão; em questão de segundos, a falta de ATP começará a causar danos em toda a célula. Provavelmente, você pode sentir isso começando a acontecer. Criticamente afetadas pela falta de energia, as poderosas bombas que operam na membrana plasmática na parte mais externa da célula são as que seguram o potássio do lado de dentro e mantêm a água e o cálcio do lado de fora. Estas bombas são tão essenciais para a vida da célula que têm precedência absoluta por qualquer suprimento reduzido de ATP. Não é mais uma questão de função; agora é uma questão de sobrevivência ou morte. Todas as outras operações movidas a energia na célula, inclusive a contração das lâminas que impelem a função de bombeamento do coração, são obrigadas a parar para economizar combustível para as bombas. A maquinaria de síntese de proteína fica ociosa em toda a célula; as mensagens do núcleo se acumulam sem que sejam lidas. Todo tipo de produto parcialmente acabado começa a sumir das linhas de montagem à medida que as enzimas dependentes de ATP esperam que chegue um novo suprimento de energia, enquanto os produtos inadequados e incompletos são transportados para as unidades de remoção. Os lisossomos são levados a um frenesi enquanto tentam lidar com o todo o lixo que os alimenta. Em toda parte o apelo é o mesmo: “Onde está o ATP?” Mas o ATP não chega; uma por uma, as bombas da membrana começam a engrolar e a parar. O cálcio entra furtivamente pelos portões que costumavam excluí-lo e começa a corroer e distorcer as mitocôndrias que bamboleiam em silêncio nas sombras. E depois a água entra em torrentes. A célula começa a inchar, acarretando uma pressão intolerável para a membrana plasmática externa. Por fim, esta membrana, esta parede que isola e protege a célula do mundo exterior, começa a rachar; as rachaduras se alargam com uma rapidez cada vez maior até que a membrana se rasga e toda a célula literalmente explode na escuridão externa, lançando sua agora inútil maquinaria e sua própria seiva no fluxo quase seco de linfa que goteja do lado de fora. Estes acontecimentos não passam despercebidos pelo resto do corpo. (...) Os macrófagos começam a remover rápida e eficientemente os mortos. Eles não os embalsamam, nem os sepultam. Eles os comem, e é por isso que ficaram conhecidos por seu nome – macrófago significa literalmente “grande comedor”, em grego. Eles envolvem os fragmentos restantes de células mortas e os trazem para dentro de seus próprios lisossomos, onde são rapidamente degradados em suas partes componentes, que por fim serão liberadas na corrente sangüínea para serem usadas como nutrientes por outras células. Assim os mortos são reciclados dentro do corpo, como um dia o próprio corpo será reciclado em sua totalidade, pelo solo e pelas plantas, para prover nutrientes e oxigênio que nutrirão células humanas ainda não nascidas. Arrasadora, a imagem mostra a forma mais dramática de uma célula morrer: a necrose, em que o tecido atingido não se recupera. Na apoptose (a outra forma), a célula recebe uma mensagem para cometer suicídio. A célula começa a destruir todo o DNA de seu núcleo. O DNA é quebrado em milhões de pequenos fragmentos que não podem mais transportar nenhuma informação útil para a célula. A maquinaria da célula é encapsulada em corpos apoptóticos, que são devorados tranqüilamente e com eficiência pelas células vizinhas, não por papa-defuntos profissionais.
O resultado é o saudável processo de renovação de todo o tecido, sem cicatrizes.
Obra citada, pág. 25 e seguintes.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

O sexo e a origem da morte

O sexo e a origem da morte (como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida). William R. Clark, catedrático do Departamento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento da Universidade da Califórnia, apresenta-nos à morte no nível das células. Ele liga sexo e morte, uma associação de evidente mau gosto. A prova do raciocínio não o exime do aborrecimento. O sexo é uma forma perdulária de reprodução, diz o autor. Pode até ser, mas os sete bilhões de pessoas no mundo – para ficar só no exemplo humano – provam que também é muito divertida. Ele diz que a morte chegou cerca de um bilhão de anos após o surgimento da vida, quando todos eram (e sabiam ser) imortais, como as bactérias e os vírus (e também algumas células cancerosas). Foi assim: Famintas por hidrogênio, as cianobactérias fotossintéticas aquáticas (que deram origem às plantas) fabricaram – sem querer – um gás mortalmente corrosivo, capaz de destruir quase todas as moléculas orgânicas em que se baseia a vida: o oxigênio. Após essa “cagada” de escala planetária, ocorrida há austeros 2 bilhões de anos, as bactérias começaram a desenvolver especializações para se protegerem desse gás. Sob pressão do meio, as bactérias (reino das formas mais simples de vida: o Monera) resolveram mudar, o que gerou novos reinos, como os proctotistas e os fungi, que incluem seres tão desprezíveis quanto os mofos e as amebas, além de consumados patifes, como o Plasmodium (causador da malária). O que foi essa mudança? A invenção do núcleo celular, com uma capa protéica protetora. Em seu caminho evolutivo esses organismos duplicaram seu DNA numa maçaroca de “corpos coloridos”, protegida por proteínas especializadas, chamadas histonas. Esses cromossomos passaram a ser lineares, em vez de circulares, como nas bactérias, e as pontas passaram a ser revestidas por estruturas especiais de DNA chamadas telômeros, para evitar que as extremidades grudem em si mesmas ou em outros cromossomos (xeretando um pouco sobre o que os cientistas já sabem, se você nasceu com telômeros longos, vai viver muito; se eles foram ultralongos, bem, basicamente, você vai matar de raiva seus inimigos. Se nasceu com telômeros muito curtos, vai importar bem pouco se você só come brócolis, alface e tomate, não fuma, não bebe e faz 3 horas de exercícios pela manhã e mais 3 à tarde - tudo bem, estou exagerando um pouco, mas só um pouquinho). Duplicado e encapsulado num núcleo – em vez de ficar balangando pra lá e pra cá no meio celular – o material genético proporcionou vôos mais ousados à evolução, o que levou ao aumento da célula (um proctotista como o paramécio, por exemplo, tem tranquilamente um milhão de vezes o tamanho médio de uma bactéria), e ao início de estruturas especializadas, como citoesqueletos – que propiciaram à célula movimento – e microtúbulos, para engolfar materiais extracelulares (expediente às vezes chamado de alimentação). Peço permissão para citar longamente o autor, com uma ou outra licença poética: Parece que algumas bactérias começaram a achar que o interior de proctotistas maiores e mais avançados era um lugar bacana para viver e criar uma família. Elas se tornaram parasitas. Como a maioria dos parasitas bem-sucedidos, estas bactérias ganharam confiança. Por exemplo, algumas bactérias aparentemente desenvolveram defesas contra o oxigênio; umas poucas chegaram a desenvolver meios não só de neutralizar o oxigênio, mas de usá-lo para produzir energia. Isto deve ter impressionado certos proctotistas, que aparentemente assimilaram por endocitose algumas destas bactérias que respiravam oxigênio. Em vez de digeri-las para obter alimento, eles as converteram em partes permanentes da célula protista. Não era o que as bactérias tinham em mente, mas, no fim, todas as células eucarióticas adquiriram parasitas intracelulares semelhantes. Essas organelas, produtoras de energia através de um processo químico envolvendoa moléculas tri e difosfato (há uma “sobra” de energia, utilizada para tocar o dia-a-dia), têm seu próprio DNA, de filamento único e em geral circular, transmitido exclusivamente por linhagem materna. Esse DNA não está associado a histonas e contém genes de estrutura notavelmente procariótica. Creio que as provas são conclusivas quanto à origem bacteriana dessas usinas, que não ignoram o nome mitocôndria. Luca Cavalli-Sforza, geneticista italiano, descreve assim toda essa confusão: Podemos encontrar milhares ou dezenas de milhares de mitocôndrias em cada célula; no mínimo uma vai estar sempre presente. Tem o formato de uma pequena bactéria e provavelmente é o que ela é: uma bactéria que há mais de um bilhão de anos adaptou-se a viver em simbiose com a célula e tornou-se um componente importantíssimo, assumindo exatamente a função de central energética. Um suprimento assim formidável de energia abriu caminho para o crescimento da célula, apenas obstado por uma propriedade geométrica: o volume de uma célula aumenta em proporção ao cubo de seu raio, enquanto a área da membrana de superfície – local por onde os nutrientes entram e os dejetos são expelidos – aumenta somente em proporção ao quadrado do raio. Logo, o crescimento torna as células muito mais volumosas (e pesadas) que grandes. Um cubo de 1 cm de lado tem uma superfície total de 6 cm² e volume de 1 cm³. Um cubo com 2 cm² de lado terá 24 cm² de superfície total e volume de 8 cm³. A razão superfície/volume do primeiro cubo é de 6:1, enquanto a do segundo é de 3:1. O leitor entendeu, não é mesmo? Ah, deixa pra lá. O importante é aceitar que, se você é uma célula, é melhor se associar a outras para enfrentar as adversidades do meio, em vez de tentar ficar do tamanho do mundo. Após muitos arranjos, incluindo vários núcleos, ou várias cópias dos cromossomos (configuração poliplóide), as células resolveram se associar em organismos pluricelulares. Foi aí, em algum lugar pelo caminho dos moneras aos proctotistas, há cerca de um bilhão de anos, que a morte que conhecemos – a morte como uma conseqüência inescapável da vida – apareceu pela primeira vez. Era a estréia da morte programada. Disse, algures, que os indivíduos unicelulares são imortais. Serão mesmo? Os primeiros moneras unicelulares reproduziam-se assexuadamente em um processo simples chamado fissão. Nesta forma de reprodução, uma determinada célula replica seu DNA de forma autônoma e depois se divide em dois clones perfeitamente iguais, cada clone descendente recebendo uma cópia do DNA. Estas células amadurecem e cada uma delas produz dois clones idênticos e saudáveis. Assim, o organismo – o unicelular – nunca morre verdadeiramente. Afinal, onde está o corpo? Pode haver morte na ausência de um cadáver? Estas células são na verdade imortais. Em conseqüência, os organismos que se reproduzem por fissão simples, como acima, não conhecem a senescência, o envelhecimento gradual e programado das células e dos organismos que elas compõem, independentemente dos acontecimentos no ambiente. A morte do organismo por senescência – a morte programada – fez sua aparição na evolução mais ou menos na época em que surgiu a reprodução sexuada. Tanto o sexo como a morte programada começaram quando a grande maioria dos organismos ainda era unicelular. (...) do ponto de vista biológico, “sexo” e “reprodução” são dois fenômenos inteiramente não-relacionados. O sexo refere-se somente à troca ou recombinação de toda ou parte da informação genética – o DNA – entre dois membros da mesma espécie. Reprodução é simplesmente isso – a reprodução de cópias adicionais de uma dada célula. “Reprodução sexuada”, portanto, significa troca de informação genética em combinação com a reprodução celular. Na forma mais simples de vida, sexo é assim: dois indivíduos unicelulares se conjugam, permutando parte do acervo genético. O processo de fissão garante que cada uma delas fique com cópias de cromossomos ligeiramente embaralhados e recombinados, o que significa dizer que aumentou a variação genética, uma maneira de as espécies conseguirem se adaptar a um ambiente em transformação, permitindo ainda o reparo ou a eliminação de erros genéticos. O sexo rapidamente tornou-se a forma dominante de reprodução entre todas as formas de vida subseqüentes. Por quê? Para as bactérias que se reproduzem somente por fissão, a imortalidade é garantida automaticamente; a imortalidade para todos os outros depende de fazer sexo. II. Sexo e morte. Existem sutilezas envolvendo os paramécios e outros proctotistas ciliados, que terminam por revelar o nó górdio da questão. Neles, surge, pela primeira vez, a segregação de DNA a ser usado para fins reprodutivos (conjugação) do DNA usado para orientar a operação diária da célula. Assim, determinadas cópias do DNA é separado e utilizado exclusivamente para a reprodução. A outra parte (composta de células somáticas) é utilizada no metabolismo do corpo, sofre inúmeras divisões (por fissão sem recombinação genética) e, no afã de manter o organismo em funcionamento, acumula muitos erros de replicação. Essas mutações não são compensadas nem corrigidas por sexo meiótico; as células somáticas não trocam nem recombinam DNA com outras. Sua função é garantir a sobrevivência e transmissão do DNA guardado pelas células germinativas, segregadas e inertes, até o momento da reprodução sexuada. Já podemos ver que a morte surge da separação entre DNA somático e germinativo. Só as células germinativas conservam o potencial da “imortalidade”. Elas podem deixar o corpo, combinar-se com outras células germinativas e produzir uma progênie. Quando isso acontece, o relógio da senescência da célula germinativa é zerado. O DNA da célula somática não recombinado torna-se não só redundante, como também irrelevante. Esse refugo genético, leitor, somos eu e você. Resumindo: O impulso para um tamanho cada vez maior foi obstado por uma lei da física (a célula fica pesada e volumosa; a área relativa menor impede trocas eficientes com o meio: alimentação e secreção ficam prejudicadas). Os organismos, pressionados, acabaram descobrindo a pluricelularidade, associação entre organismos inicialmente independentes, com benefícios mútuos. Esse mesmo impulso levou à criação de DNA extragerminativo (somático). O advento do sexo na reprodução fez o que era necessário para destruir o DNA somático no final de cada geração. Isto porque o reparo de DNA somático (não-reprodutivo) é espinhoso, caro e, no final das contas, não vale e pena. O DNA somático teria de ser alterado, de modo a refletir a composição do DNA reprodutivo novo e produzido sexuadamente. Isto já seria difícil no DNA macronuclear de um ciliado unicelular; em animais pluricelulares, está fora de cogitação. É mais fácil simplesmente destruir o velho DNA somático e recomeçar. Se o DNA está em células separadas, as células também morrem. Infelizmente, estas células somos nós. A essa altura, creio poder apresentar esta tese do autor, um susto: a morte não é um co-requisito automático da vida. Determinadas células tumorais, por exemplo, comportam-se exatamente como organismos unicelulares primitivos: proliferam assexuadamente, por fissão simples, e nunca se “cansam”. Produzem cópias de si mesmas indefinidamente, bastando alimento e oxigênio ilimitados (desde que evitada a superpopulação). O “relógio” delas está perpetuamente zerado; elas não envelhecem nem morrem. Como as células germinativas, elas são potencialmente imortais. O mais famoso conjunto de células cancerosas do mundo, chamado HeLa, já produziu, num cálculo aproximado, cópias num total de 2 elevado a uma potência de 15.000 zeros! Como é que se zera o relógio? Através da reprodução com embaralhamento genético. Uma célula somática poderia zerar seu reloginho, desde que tivesse as estruturas genéticas que reparam o DNA, corrigindo os erros acumulados. Assim, poderia gerar cópias novinhas de si mesmo, sem erros, e se “tornar perpétua”. Isto é possível para células indiferenciadas, como as células iniciais dos embriões, mas não para aquelas que formam organismos desenvolvidos, como nós. Nestes, as células expressam segmentos diferentes do acervo genético. Os demais loci ficam inacessíveis, para sempre (diz-se, da parte acessível, que essa parte fica aberta para se expressar). Estou simplificando demais a questão, por modéstia ou falta de conhecimentos (tenho certeza que alguém vai aparecer com um monte de exemplos de relógios zerados, das maneiras mais heterodoxas), mas é mais ou menos isso, sim senhor. Final. Imortalidade de quem? A “imortalidade” de uma bactéria, ou de uma célula cancerosa, incapazes de saber o que seja morte, não faz o menor sentido. A nossa dependeria de um mecanismo perfeito de reparo dos erros acumulados na reprodução das células somáticas, necessária à manutenção da vida (a reconstrução diária dos órgãos e tecidos). Imortal (mas com modificação) é o código genético, apenas, em nós como nos vírus e bactérias. Já andaríamos bem se garantíssemos vida digna, com duração razoável, a toda a humanidade, sem extermínio das demais formas de vida ou exaustão dos recursos ambientais. O expediente da associação de células, que garantiu sucesso diferenciado aos nossos ancestrais, e permitiu que emergisse uma consciência, cobrou seu preço. A separação entre células encarregadas de construir e operar um vetor para os genes, e as células reprodutivas, portadoras do projeto de novos vetores, levou à necessidade de destruir o material genético desgastado, cumprida sua finalidade: passar à próxima geração o acervo genético. No final, fatigados, encaminho-nos todos ao inefável descanso, legando aos filhos (portadores de uma determinada apresentação de nosso pool genético) o mundo. O autor faz uma abordagem inteligente do problema, levanta muitas questões, força-nos a pensar. Nesta tentativa de resumo, gastei meses. Naturalmente, o texto é muito mais rico que estas notas, simplórias. Terei de estudar um pouco mais o tema, absolutamente fascinante. Campo Grande, 31 de março de 2007.

STF e o direito de greve

Brevemente o Supremo vai julgar um mandado de injunção, medida destinada a corrigir a omissão dos poderes Legislativo e Executivo. Trata-se do direito de greve do funcionalismo público. Vinte anos à espera de uma lei que regulamente esse direito, previsto na Constituição, e nada.
Legislativo e Executivo se sentem confortáveis com a falta de uma lei a respeito. O Supremo cansou da brincadeira. Acordando para seu dever de guardião da meta-lei da República, a Corte finalmente vai dar vida ao mandado de injunção, natimorto. É que, reconhecendo as omissões, o Supremo se contentava em mandar uma cartinha aos omissos, lembrando-os de suas omissões. Muito bonito, mas inútil.
Se Executivo e Legislativo subordinam suas atividades ao mais mesquinho e míope jogo político, cabe ao Judiciário, por meio de uma decisão que ponha fim à lacuna jurídica, ainda que somente até a edição da lei reclamada, assegurar o direito do cidadão, previsto de forma condicionada pela Constituição.
Não estaria o STF legislando, com a decisão? Tomara que sim. Alguém tem de legislar, em algum momento, oras bolas...

domingo, 1 de abril de 2007

Amenidades

Duzentos intelectuais, artistas, esportistas e empresários elegeram Getúlio Vargas o mais importante brasileiro de todos os tempos. Apesar de incorreto, não me importo tenham relegado Machado de Assis ao terceiro lugar. Em segundo, JK. Depois, nomes como Rui Barbosa e Tom Jobim. Não há nada de errado na lista, exceto que, daqui a 500 anos, os colegiais continuarão a decorar fragmentos da obra de Machado de Assis, com aquelas bisonhas classificações "romantisno", "realismo", "modernismo" etc . Quanto aos demais, somente Getúlio e Guimarães Rosa são dignos de menção. Getúlio foi o mais importante político do País. ponto. (Para que diabos precisamos de políticos?). Guimarães é o gênio da criação lingüística. Impossível não se emocionar com seus achados, risonhos.
Os outros, bem, daqui a 500 anos nem os mais empedernidos eruditos serão capazes de dizer o que fizeram. A lista correta é:
1) Machado de Assis 2) Getúlio Vargas 3) Guimarães Rosa Depois vem uma profusão de nomes, tais como Pedro II, Regente Feijó, Bonifácio de Andrada, Barão de Mauá et cetera. É importante dizer que Rui Barbosa não está (não pode estar) na lista. Nem por engano.

quarta-feira, 14 de março de 2007

1001

Constato, com certo orgulho, que meus visitantes passam de mil, a acreditar num programinha que conta o número de acessos.

É bem verdade que esse programinha inventa cidades: "Salto", Mato Grosso do Sul, e muitos outros fantasmas geográficos. Também é verdade que muitas cidades ele não conta. 

Que importa esses detalhes? Comemoro, orgulhoso, 1001 visitantes desde a "inauguração" do blog.
Não é nada, perto dos 250.000 acessos diários de Ricardo Noblat. E boa parte dos acessos foi patrocinada por mim mesmo.

Mas já é equivalente à tiragem de um livro.

O blog começou na Austrália, obra do amigo César. De lá pra cá, tenho escrito em muitos países, em todos os continentes. Trata-se de um diário, de um bloco de anotações, de um caderno de ensaios, e um álbum fotográfico.

Vai continuar.

O imperador Morrissey

Uma revista (ou jornal, não lembro) anotou, com certo cabotinismo:
O "maior ser britânico inglês vivo hoje" agora é também o "novo imperador romano". Para um senhor de 46 anos, o cantor inglês Morrissey está em pleno gás juvenil. "Acusado" de ter fundado os Smiths e ter salvo milhares de jovens tristes, miseráveis e incompreendidos (como ele se autoproclamava) que viviam trancados em seus quartos cinzentos, Morrissey voltou ao pop com o triunfante e oitavo CD solo "Ringleader of the Tormentors", gravado na Itália, para onde se mudou.
O disco ganhou lançamento físico nos EUA e na Europa mas, moderno, Morrissey já havia lançado seu primeiro single, "You Have Killed Me", no site MySpace (www.myspace.com/morrissey). O álbum circulou na internet antes de ser lançado pela gravadora. Steven P. Morrissey, popstar inglês, cantou (em Maladjusted) que Satã rejeitou sua alma. Sem conhecer as tratativas que culminaram nessa cizânia, nem a extensão das ambições dos desavindos, penso que Satã agiu certo. Eu jamais confiaria num cara que “perdoou Jesus” (conforme o cantor revelou, a um mundo incrédulo, em You are the Quarry). Morrissey não tinha esse direito, não sem nos consultar (a mim e a você, ótimo leitor).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sensacional montaria de sapos

Josias repete a mesma charge do ano passado para a mesma chamada: o sensacional desempenho de nossa economia em 2006.
Tal como naquele ano, demos uma surra nos haitianos (agora eles aprendem a não se meter com a gente, ora se aprendem).
Que importa se o mundo inteiro (menos o Haiti) cresceu mais que a gente? Não ligamos para essas chatices.
A charge, o percentual de crescimento, a catatonia geral: tudo se repete num Brasil que não se cansa de ser o último (ou penúltimo).

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Danton e a honra

A Revolução Francesa, em princípio uma revolta da municipalidade de Paris contra a fome generalizada, solapou os fundamentos do Estado e trouxe a ruína para a pequena elite que orbitava a monarquia, inepta. A Convenção enfeixou o que hoje chamaríamos de funções executivas, legislativas, judiciais e do ministério público. Quem a controlasse, controlaria a França. Os poderes do rei foram minguando, minguando, até que nada restou. Ele fugiu, mas, também nisso foi inepto. Preso ao tentar chegar à Alemanha, sua sentença de morte era questão de dias. O limitado Luís XVI e a vasta França, vítimas do encantamento mórbido da Revolução, enfrentam-se. Após três votações da Convenção revolucionária, ele avança para a borda do cadafalso, com o rosto muito vermelho, dizendo: “Franceses, morro inocente: é do cadafalso e prestes a comparecer perante Deus, que vos digo isto.” Atam-no à prancha. Numa página dramática, o Abbé Edgeworth profere esta imortalidade: “Filho de São Luís, sobe ao Céu”. Cai o cutelo com um som áspero; e é cortada a vida dum rei. É segunda-feira, 21 de janeiro de 1793. Tinha trinta e oito anos. O imperador pagão pergunta à sua alma: Para que lugares vais partir? O rei católico deve responder: Para a barra do julgamento do Altíssimo Deus! Morto o monarca, o país galopa em vertiginosa insensatez. 1. Danton x Robespierre Um Danton, um Robespierre, produtos principais duma revolução vitoriosa, chegavam agora à presença inadiável um do outro; têm de resolver como hão de viver juntos, governar juntos. Concebe-se facilmente a profunda incompatibilidade mútua que dividia os dois; com que terror de ódio feminino a pobre fórmula verde-marinho olhava para a monstruosa e colossal realidade, ficando mais verde ao contemplá-la (...) Robespierre, não um homem, com o coração dum homem, mas um pobre pedante espasmódico e incorrutível, com uma fórmula de lógica em vez de coração; de natureza jesuítica ou metodista; cheio de hipocrisia sincera, de incorrutibilidade, de virulência e poltronice; estéril como o vento do Leste! Dois produtos tais são demasiados para uma só revolução. Incomodado com a rivalidade na liderança do Diretório ele alcança Danton. Um amigo de Danton o desperta com a notícia de que um mandado estava feito contra ele. Em vão os amigos e a esposa tentam fazê-lo fugir para a segurança. “Não se atreverão”, ele diz, mas, na manhã seguinte, corre o boato da prisão do Titã da Revolução. Atreveram-se. Ao Tribunal: Faz doze meses que eu propus a criação desse mesmo Tribunal Revolucionário. Disso peço perdão a Deus e aos homens. São todos irmãos Cains; Brissot ter-me-ia mandado guilhotinar como Robespierre agora manda. Deixo tudo numa confusão tremenda; nenhum deles entende nada de governo. Robespierre seguir-me-á: eu arrasto Robespierre. Oh, preferível ser um pobre pescador a metermo-nos a governar os homens. Devido à eficácia revolucionária, Danton esteve apenas três dias na cadeia. Às perguntas de presidente do tribunal revolucionário – Tinville – respondeu: Meu nome é Danton e minha residência será em breve no nada: mas viverei no Panteão da História. Carlyle reserva-lhe estas palavras: Apenas por uma questão dum fio de cabelo, pode haver uma reviravolta súbita, trocando de lugares réus e juízes, e ficando alterada a História da França! Porque em França, o único que pode tentar ainda governar (...) é este Danton. Ele é o único, (...) e talvez aquele outro indivíduo cor de azeitona, o oficial de artilharia de Toulon. Não por nada esse indivíduo era Napoleão. Nada de fraqueza, Danton! É o dia da grande morte: não há como os mortos, que não voltam.