"Minha terra tem
palmeiras,/ Onde canta o Sabiá;/ As aves, que aqui gorjeiam,/ Não gorjeiam como
lá." O Brasil é um país poético, se admitirmos a definição pessoana de que
o poeta é um fingidor. O Brasil finge tão completamente que chega a acreditar
em seus fingimentos.
Adoramos nos ver como
gente responsável e solidária, que dá prioridade ao que deve ser prioritário.
Por isso, determinamos em lei rígidas vinculações orçamentárias que assegurem
que jamais faltarão recursos para a saúde e a educação.
As boas intenções, porém,
têm o péssimo hábito de esbarrar nos ditames da realidade. É por isso que,
desde 1994, aprovamos as famosas DRUs, as desvinculações de receitas de União,
que permitem aos governantes de turno ignorar parte das vinculações, isto é, cortar
dinheiro da saúde e da educação. O truque é infantil, mas, por alguma razão, a
sensação de dever cumprido não é inteiramente eliminada.
Gostamos de nos ver como
uma democracia moderna e vibrante e, por isso, promovemos consultas públicas
que mobilizam todo o país, como se viu agora no caso da discussão sobre o
currículo nacional. Não se destaca que o MEC não tem como processar (isto é,
ler) as 10 milhões de contribuições que cidadãos levaram ao site do ministério,
o que implica as comissões farão o que lhes der na telha, sem dar muito peso à
participação popular.
Orgulhamo-nos de ser uma
nação soberana e, por isso, baixamos uma lei que garante à Petrobras, orgulho
nacional, participação em todos os campos petrolíferos do pré-sal. Não importa
tanto que a Petrobras esteja atolada em dívidas e que a regra hoje só sirva
para apertar ainda mais as finanças da empresa. Não nos curvamos ao
imperialismo ianque.
Talvez seja a hora de
fingir um pouco menos e sermos mais práticos, ainda que tenhamos de abrir mão de
parte da poesia nacional.