sábado, 18 de outubro de 2008
Nome
Não me sinto confortável
dentro de um nome.
Não estou dentro de um nome.
Nome algum me toca.
Estou saudoso de um nome
claro enigma a me enganar
com seu resíduo notarial.
Mas me assino
esquivamente
ao aviar poesias.
Num canto, a tarde
Num canto, a tarde incendiada pelo
insensato sol de um dezembro
arbitrariamente eficaz.
Varejando ouro, o sol
inventa uma outra cidade,
talvez amarela, talvez feliz,
uma outra cidade, habitável,
amiga de invasões de sonhos.
Espero a lua com meus
pobres filmes impressionáveis
vir converter todo esse calor
em deleitável noite.
Flagro o início do comércio
da prata em minha sacada.
São grandes as esperanças,
grande a expectativa de lucro.
26.12.02
Warren Buffett
Warren E. Buffett, em artigo reproduzido pelo Estadão de hoje:
Costumo seguir uma regra simples nas minhas compras: tenha medo da ganância dos outros e seja ganancioso quando os outros se mostrarem temerosos. Certamente, agora, o medo é geral e toma conta até de investidores experimentados.
A bem da verdade, eles têm razão de se mostrarem cautelosos com entidades extremamente alavancadas ou com empresas que não têm boas condições de competitividade. Mas não faz sentido temer pela prosperidade, a longo prazo, de muitas empresas saudáveis deste país. De fato, essas empresas terão ganhos oscilantes, como sempre ocorre. Mas a maioria das grandes companhias acabará estabelecendo novos recordes de lucro, daqui a cinco, 10 e 20 anos.
Devo esclarecer um ponto: não tenho como prever os movimentos das bolsas no curto prazo. Nem como prever se as ações subirão ou baixarão daqui a um mês ou a um ano. Entretanto, é provável que o mercado registre altas maiores, talvez substanciais, bem antes de os sentimentos ou a economia se recuperarem. Portanto, se se esperar muito, as oportunidades poderão passar.
Gostaria de lembrar aqui uma pequena história: durante a Grande Depressão, a Dow atingiu sua maior baixa, 41 pontos, no dia 8 de julho de 1932. Entretanto, as condições econômicas continuaram se agravando até a posse de Franklin D. Roosevelt, em março de 1933. Naquela altura, o mercado já havia avançado 30%.
Lembremos ainda dos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial, quando as coisas iam mal para os EUA, na Europa e no Pacífico. O mercado atingiu o fundo do poço em abril de 1942, muito antes de a sorte se voltar para os aliados.
No início da década de 80, a melhor época para comprar ações foi quando a inflação arrasou a economia, lançando-a na crise mais profunda. Em suma, as más notícias são as melhores amigas do investidor: elas permitem comprar uma fatia do futuro dos Estados Unidos a preços de liquidação.
No longo prazo, as notícias da bolsa melhorarão. No século 20, os EUA enfrentaram duas guerras mundiais e outros conflitos militares traumáticos e dispendiosos; a Grande Depressão; várias recessões e pânicos financeiros; choques petrolíferos; uma epidemia de gripe; e a demissão de um presidente que caiu em desgraça. E no entanto a Dow Jones subiu de 66 para 11.497.
Poderia se achar impossível que um investidor perdesse dinheiro em um século marcado por ganhos tão extraordinários. Mas alguns investidores perderam. Os desafortunados compraram ações somente quando se sentiram confortáveis para fazê-lo, e depois as venderam quando as manchetes dos jornais fizeram com que se sentissem enjoados.
Hoje, as pessoas que têm equivalentes de dinheiro se sentem confortáveis. Pois não deveriam. Elas optaram por um ativo terrível a longo prazo, que praticamente não paga nada e cujo valor, com certeza, se deprecia.
OBAMA
Fernando Rodrigues, na Folha de hoje:
No sábado passado, o ex-presidente do Fed Alan Greenspan abriu o coração num jantar com banqueiros. Recomendou ao governo a promoção de uma enxurrada de dinheiro no mercado. Se faltarem recursos, sem problemas: coloca-se a máquina para imprimir dólares. E a inflação? Esse é um bom problema para se discutir lá na frente, respondeu o mais liberal dos economistas dos EUA.
Krugman defende o mesmo, em essência.
A prestigiosa New Yorker expediu editorial favorável a Obama. Outros dois apoios importantes recebidos ontem pela campanha de Obama foram os dos jornais "Los Angeles Times", que não endossava um candidato presidencial desde 1972, e "Chicago Tribune", que anunciou, pela primeira vez desde sua fundação, em 1847, apoio a um candidato democrata. Os democratas esperam ainda, nos próximos dias, o apoio do general Colin Powell, que foi secretário de Estado do presidente George W. Bush. (Estado)
Amanhã será a vez do New York Times. Este blogueiro ocasional também apóia Obama.
Pelo fim da tortura e do terrorismo de estado da América. Pelo fim da empulhação republicana.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Paul Krugman
Paul Krugman no New York Times de hoje:
Apenas nesta semana, nós soubemos que as vendas no varejo despencaram de um penhasco, assim como a produção industrial. O desemprego está em níveis elevados de recessão, e o índice manufatureiro do Fed da Filadélfia está caindo no ritmo mais rápido em quase 20 anos. Todos os sinais apontam para uma recessão que será feia, brutal - e longa.
É.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Notinhas
Elio Gaspari, em grande estilo:
O candidato Kassab é um derivativo do tucano José Serra. Geraldo Alckmin duvidou da consistência dessa aliança e foi devolvido à condição de nota de pé de página que tenta se intrometer no texto.
Marta Suplicy atravessou a rua para escorregar numa casca de banana que estava na outra calçada.
Marta, Alckmin, Crivella e Lacerda derrotados. Quando resolvem ir às urnas os eleitores fazem bonito e exigem respeito.
Delfim Netto
Delfim, inventariando os escombros após a tempestade da semana passada:
Não existe abrigo seguro. Todos vão pagar um preço pela irresponsabilidade de poucos, e uns poucos, de sangue frio e financeiramente líquidos, vão ficar ainda mais ricos.
Se você não tem nem sangue-frio nem liqüidez, fique quieto e espere.
Um dia a confiança voltará, como voltou depois das dezenas de crises do passado. Não fuja de casa para morrer na rua...
Folha de S. Paulo de hoje.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
A difícil primavera
Não sendo o caso de primavera,
colhamos as flores provisórias
que alentam o dia possível.
Elas resolveram publicar-se:
sabem a manhã e lindam o dia.
Eu quase não sei tanto amarelo,
tanto pássaro. Eu quase não sei.
A planície de girassóis dançarinos
devassada pela claque pânica das aves.
Um sol vertiginoso resolve a tarde,
os reflexos de um coração diamantino.
Vão-se os pássaros,
apagam-se os incêndios amarelos
de girassóis fortes em sol nutriz.
Cabisbaixos, eles passarão a noite
sem dar confiança às estrelas
que, lindas, embaixarão
mensagens de ternura e avivos.
O discurso provisório das
flores comunicando o dia.
Chapadão do Sul, maio de 2004.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Excursão
Na excursão das crianças ao cinema
verificou-se:
um alarmante déficit de mães
uma contenda envolvendo o Hulk e o Andrezinho
um bulício articulado papelinho de bala
um plocar-trovoada de chicletes
o salto olímpico de pipocas esquivando-se
de bocas molhadas de gula
uma incontrolável epidemia de dor de barriga
uma cacofonia de choros desafinados
e uma poltrona vazia que era minha.
O filme passava,
as horas passavam
e as crianças, que se haviam sujado
ao não alcançarem banheiros,
subiam uniformes ao caminhão do Exército.
1999.
Notícias
As notícias estão tão loucas que ultimamente ando consultando os sites dos maiores jornais do mundo para conferi-las e evitar que me preguem uma peça.
As de hoje: as bolsas sobem desvairadamente, a Europa começou a estatizar seus bancos e meu guru financeiro ganhou o Nobel de Economia.
Anotou a Folha de hoje:
Paul Krugman, 55 anos, elaborou uma teoria que integra pesquisas sobre intercâmbios comerciais e globalização com estudos sobre os processos de urbanização em escala planetária, destacou a Real Academia de Ciências da Suécia.
Nascido em 28 de fevereiro de 1953 em Long Island, no estado de Nova York, Krugman dá aulas atualmente na Universidade de Princeton e desde 2000 colabora com o New York Times.
Ele é conhecido por suas críticas virulentas contra a política geral e, em particular, a condução econômica do presidente George W. Bush.
Por inacreditável, não consigo pensar o mundo sem antes ler a coluna do Krugman.
domingo, 12 de outubro de 2008
Os caipiras
FOLHA - Os "rednecks" estão bem representados nesta eleição? JOE BAGEANT - Nunca estamos bem representados na política. Às vezes há uma tentativa de associação, como com Sarah Palin, mas é bobagem. Os "rednecks" são pouco educados, muito patrióticos e facilmente manipulados. É gente negligenciada, que perdeu casa, emprego, não tem seguro-saúde e com quem ninguém se importa, a não ser em ano eleitoral.
FOLHA - Mas Palin tem apelo entre os trabalhadores... JOE BAGEANT - Sim, porque é tão superficial quanto eles. Estão cheios de problemas e só vêem advogados de Harvard na política. Agora vêem uma Sarah Palin, que caça alces, e ficam mexidos. Ela só tirou o passaporte no ano passado? O povo aqui nunca tirou! Fazem troça dela, e o pessoal aqui pensa: "Esses esnobes estão tirando uma com a minha cara, porque eu também caço e vou à igreja". No negócio de perpetuar o mito da liberdade, é também perpetuado o mito de que a sabedoria do povo é sublime e perfeita. Só que Sarah Palin é uma fraude - não ela pessoalmente, mas o jogo que ela joga. Não importa quem ganhe, não vai fazer diferença para os burros de carga aqui. Eu não conheço ninguém que continua falando sobre Palin. A vasta maioria aqui não pensa em política, age por reflexo. No máximo, querem a parte da fofoca.
Folha de hoje.
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