segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Rainha Vermelha

Elton Simões:
Existem rainhas de todo tipo e para todo gosto. Existem as reais e as fictícias. As boas e as más. As que habitam hospício e as que estão soltas. As que tem poder e as que não têm. Diferentes rainhas reinam diferentemente.

A Rainha de Copas, por exemplo, entre um surto psicótico e outro, gostava de cortar cabeças como forma de exercício de autoridade. A diversidade, entretanto, não garante que rainhas não venham a sofrer de patologias comuns. A mais comum parece ter como principal sintoma a crença de que o mundo tem cheiro de tinta fresca. O exercito de pessoas dedicadas a tornar a realidade mais bela, e menos agressivas aos sentidos reais parece estar na raiz do entorpecimento. Esta patologia que costuma ser afetada e agravada pela distancia física entre rainha súditos. Rainha que se preze, tem pouco contato direto com a população e, se possível, nenhuma experiência com a realidade. Faz parte do protocolo colocar a rainha acima de tudo, em posição privilegiada para enxergar sempre, ver as vezes, e ignorar invariavelmente, as lutas e dificuldades impostas pelo mundo real ao populacho.

Talvez essa distancia justifique o autismo quase mandatório que toma de assalto a cabeça da maior parte das rainhas. Talvez mesmo este autismo seja parte integrante da descrição de cargo. Ou, em hipótese provável, talvez o autismo não seja causa do comportamento, mas apenas parte da justificativa. O fato é que os sons que frequentemente saem da boca da rainha, na forma de idioma quase conhecido, mas não completamente dominado, descrevem fatos e dados que não parecem guardar muita relação com o mundo real.

Como em um circo lógico, a rainha descreve, em raciocínios tortuosos , as vezes circulares, e sempre superficiais, um mundo que somente existe em sua imaginação. Neste mundo, os números são acrobatas, e os fatos são de borracha. Felizmente, este mundo paralelo somente consegue convencer, e mesmo assim parcialmente, enquanto a maré alta encobre os problemas. Na maré baixa, vem o choque de realidade. É na maré baixa que dá para ver quem estava nadando pelado. É nesta hora que todos percebem. A rainha está nua.