Dia seguinte à eleição, informam os jornais:
Em Mato Grosso, "Ceguinho de Olho no Futuro" obteve 87 votos e não se elegeu deputado. Os eleitores também não se empolgaram com "Hélio Gaguinho" e "Claudinho Político Gago", de São Paulo. Nem com os mineiros "Edson Garganta" e "Gargantinha de Ouro".
O eleitorado rejeitou as promessas de "Quem-quem", do Piauí, "Alexandre Fala Sério", do Rio de Janeiro, "Bosco Faro Fino", de Rondônia, "Chiquinho Arara", do Acre, e "Boca da Verdade," de São Paulo."
Lamento a rejeição de Ceguinho. Pergunto ao leitor, para reflexão ao ensejo das próximas eleições: quantos políticos podem dizer – honestamente, como é o caso – que estão de olho no futuro? Por que não elegê-lo? Estou bravo com esses eleitores, injustos.
Concordo com eles quanto aos gaguinhos, uma gente que não tem mesmo de se meter em política, mas deploro não tenham eleito Fala Sério.
Um político tão bom!
Não entendo por que eleger o inverossímil Pudim, e rejeitar o bom Fala Sério, um político que só queria acabar com 500 anos de falas tortas “neztepaíz”.
Quanto a Faro Fino, Boca da Verdade, Chiquinho e, principalmente, Gargantinha de Ouro, não os conheço, mas é sempre prudente não eleger esses vadios.
Quem-quem parece sofrer de uma vasta procura, e não conseguiu chegar a um consenso, por mínimo, sobre sua nobre pessoa. Eu jamais votaria nele, exceto para porteiro de auditório ou, quem sabe, agente funerário.
Bussunda teria concordado com minhas observações, sem deixar de acrescentar: aê, fãããla séééério...
Em tempos escrevi, num pós-eleição tão tranqüilo quanto este:
Vânia foi convocada para trabalhar no dia das eleições. Essas convocações são lindas, mas prevêem penalidades para quem não as atende com alegria.
Vânia mencionou, algo desairosamente, que tramava apresentar uma declaração de incapacidade civil absoluta.
"Vânia, irmã minha, considera um momento. Uma declaração dessas não comoveria o mais crédulo estagiário de cartório. Mesmo porque, se até alguns eleitos são loucos, por que diabos os mesários não o podem ser?
Mal algum pode advir de acumular os cargos de louco e mesário, a não sermos preconceituosos."
De qualquer forma, lembrei-lhe que costuma causar boa impressão o convocado que se apresenta portando um atestado de óbito. Aí sim a probabilidade de um parecer favorável, até do mais insensível chefe de cartório, a depender de seu humor e formação cristã.
Parece que ela compreendeu. Após as eleições, mandei-lhe a seguinte mensagem:
“Vânia:
Observando o quadro de resultado das eleições, surpreendi-me refletindo sobre os candidatos de sua cidade, Teixeira de Freitas.
O padre Apparecido, com todos os dois pês, mais os do PSDC e do padre, me pareceu uma escolha equivocada dos teixeirenses, por excessivamente plosiva.
Temoteo, nome que não concede um único i senão muito lá na frente, já nas instâncias do Alvis, me parecia uma escolha menos abafada.
Baitakão, mais que um nome, é argumento de respeito, embora de ordem policial. Jamais votaria nele, a não ser para guarda de rua.
Chamou-me a atenção o Tião do Detran: não estaria o Detran local fazendo uma concessão exagerada à sociedade, ao liberar semelhante criatura para a vereança?
Muito mais acertada foi a escolha da Nalvinha, esta sim digna da nossa confiança e respeito. Você votou na Nalvinha, não é mesmo?.
Mesmo que não o tenha feito, só me garanta que não votou em Nagibinho, pelo amor de Deus. É pessoa das mais respeitáveis, embora constrangedoramente propensa a reinações.
De qualquer forma, não ousaria criticar a soberana decisão dos teixeirenses; até mesmo os votos em Nagibinho e Baitakão
Que dizer a tantos e tão bons candidatos?
Não, obrigado.”
7 de outubro de 2004
Vânia já não trabalha nas eleições. Não posso dizer o mesmo.