quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Vegas

Chamam isso cidade do pecado? Eu diria do mau gosto, ou da vulgaridade.

Foi uma das cidades mais difíceis, para mim, dada sua semelhança com Brasília, o que não é nenhum elogio. A mesma ferocidade dos carros, a falta de escala humana, o kitsch levado às últimas consequências. 

Velhos balofos sozinhos na madrugada plugados numa máquina que lentamente vai cobrando-lhe vitalidade e dinheiro. Garçonetes bonitas, em roupas provocantes, abasteciam seus copos sem cessar. 

Vi casais chegando às 6 horas da manhã para o jogo, como quem vai a uma consulta médica urgente.

A que ponto um ser humano consegue se rebaixar...

Travei conhecimento com dezenas de mendigos e sem-tetos. Um dizia que mendiga para comprar cerveja. Não me convenceu esse arroubo de sinceridade. Outro gritava com os funcionários do restaurante. "Tem alguém por trás disso", ele dizia, com a autoridade de um magnata do petróleo.

Cada um se diverte como pode. Dirigi ferraris e outros venenos pelo deserto. A Lamborghini é toda nervosinha. Dona de fazer o que você não pediu, nem autorizou, mas curtiu de montão, foi a que mais incendiou o deserto azul.

A Ferrari, quem diria, é dócil, educada - e intensa. Faz curvas em alta como um suave tapete voador. Você a tem na mão, todo o tempo, não importa as loucuras do velocímetro.

O Jaguar é um carro de luxo capaz de brutalidades, se você consentir.

Fúrias pelo deserto e lago Mead. Será pecado ser feliz em iras?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Casamento

Não sei se caso ou compro um cachorro.

"Mira que bonito el perrito", dizem os amigos.

Em Vegas deu-me ganas de casar, como todo turista respeitoso e cumpridor de seus deveres. 

Me alertaram para a inteira conveniência de ter uma noiva, nesse caso.

Well, será que as altas religiões constituídas de Nevada admitem casamentos mistos, por exemplo com coisas?

"Mira que bonito el perrito", dizem os amigos, com uma sutileza que levantou suspeitas.