quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tropeços da felicidade

HÉLIO SCHWARTSMAN, na folha de hoje, faz um comentário raro sobre felicidade e crenças: 

As gêmeas Kauany e Keroly, que nasceram unidas pelo abdome e foram separadas cirurgicamente, receberam alta, informa minha amiga Cláudia Collucci. Logo poderão ir para casa e ser felizes. Sinceramente, espero que sim.
A questão da felicidade, contudo, é mais complicada. Lori e Reba, dos EUA, também são gêmeas siamesas. Estão grudadas pela cabeça há 49 anos. Garantem que são perfeitamente felizes e não querem nem ouvir falar em operação. Nosso primeiro impulso é pensar que estão doidas. Sua condição física é tão limitante que nem conseguem imaginar o que seja felicidade.
É possível, mas elas não estão sós. Segundo Daniel Gilbert, autor de "Stumbling on Happiness" (tropeçando na felicidade), somos todos péssimos em antecipar o que nos fará felizes amanhã. Com profusão de dados, Gilbert explica quais as falhas e viseses da imaginação e da memória que nos levam a repetir os mesmos erros, como casar-se pela quarta vez ou viajar para o litoral no Réveillon.
Mostra ainda que esse é um processo inconsciente, de que nos recusamos a dar conta mesmo quando confrontados com evidências. Duvida? Pois bem, estudos mostram que filhos, na verdade, trazem infelicidade. Quando medimos a satisfação atual de casais (não a imaginada ou lembrada), verificamos que os pimpolhos os deixam menos felizes, ao menos no intervalo que vai do nascimento até o instante em que vão viver fora de casa.
Algo parecido vale para o dinheiro. Ele é bom até o teto de US$ 100 mil ao ano. Rendimentos que excedam essa cifra não acrescentam nada em felicidade. Não obstante, a maioria das pessoas quer ter filhos e ganhar mais. Para Gilbert, são ilusões que prosperam porque são social ou evolutivamente úteis. Pessoas que tiveram a exata dimensão da encrenca que é um filho não passaram seus genes adiante.
PS - Mesmo sabendo que é uma ilusão, devo dizer que adoro meus filhos e aprecio aumentos.


Na mesma Folha, leio:


A israelense Ada Yonath, Prêmio Nobel de química em 2009, coleciona também uma vasta lista de outras premiações. Mas é do título "avó do ano", concedido pela sua neta de 15 anos de idade, que ela gosta mais.