sábado, 18 de junho de 2011

Arrombando a República

Fica assim: atrasamos as obras em alguns anos, o bastante para comprometer por completo o cronograma. Depois, saímos por aí em pânico ante o descalabro, completamente imprevisto e imprevisível. Que fazer? Decretar uma lei liberando o arrombamento geral da República. Coroada por dispositivos que proíbem a divulgação das cifras, e a fiscalização pelos órgãos de controle. O Estadão retratou a coisa toda: 

E, na undécima hora, baixou as persianas por completo. Os órgãos de controle não só perderam a prerrogativa de se manter informados em qualquer etapa da obra - o governo é que decidirá o que lhes repassar e quando -, como ainda ficarão proibidos de tornar pública a documentação obtida. Atribui-se à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o argumento de que a Constituição admite o sigilo quando do interesse do Estado e da sociedade. É tratar os brasileiros como um ajuntamento de pascácios. O único interesse que essa obscenidade preservará será o da corrupção. O sigilo impedirá um Tribunal de Contas de instruir um processo em casos suspeitos.

A votação da MP não está concluída. A Câmara ficou de deliberar no próximo dia 28 sobre os destaques acrescidos ao texto. Quem sabe será possível então torná-lo um pouco menos acintoso.


Eu tenho esperanças, contudo. O PGR Gurgel parece ter entendido do que se trata.  

domingo, 12 de junho de 2011

Músicas

Conforme prometido, vou comentar algumas de minhas músicas prediletas, de memória, por mera ociosidade. Tenho em mãos trabalhos de crítica musical, que não vou consultar.

A Força que Nunca Seca
Vanessa da Mata nos conduz por um domínio musical despretensioso, intimista. O refrão ilê aiê é doce e aconchegante. Na intervenção final, acompanhada por um violão precioso, ficamos sabendo que estamos felizes. 

Ao Crepúsculo. Custa-me falar dessa música. A Teresa, das intervenções raras, nos arrasa. Não posso colocar em palavras o que sinto com o refrão, um lamento tristonho, de uma beleza inaudita, que nos envia a contramundos chorosos, plenos de humanidade, em que um amor foi perdido, e não sabemos como, por quê. Os violões não fazem senão confirmar a genialidade da moça, conduzindo suavemente a melodia, sem interferir no argumento geral da canção. Quando vou dormir, escuto o gemido: uuuuuhuuuuuuh, e me encolho todo. Parem tudo: um amor foi perdido. Urge um inquérito geral para determinar se o mundo comporta amores que se demorem uma vida; se o amor pode triunfar sobre a fátua mesquinharia. 

A mesma Teresa, em Suave Tristeza, nos fala de um olhar cansado, que expende tristezas. A rima, a voz poderosa; a lealdade dos violões: tudo evidencia a felicidade dos dias da Madredeus, mais confirmada na Música Celta, outra realização de espírito. O Pregão convoca e consola, ao mesmo tempo. 
  

Oxalá é um fado das excelências, um corte profundo na alma portuguesa, no que ela nos é mais fecunda.


Agora, corte para a baianinha Mercury. Minas com Bahia é um axé tristinho, com uma letra que nos toca na altura da última estrofe: sacudir o mundo, procurar no fundo... Uma hora dessas, e você tão só, eu ficou com dó eu só disse: oh, eu te quero muito bem... Tem um carinha que acompanha. Quem será que é? Ora se não é o Samuel Rosa... Num show fica explicitado o paradoxo de uma música tão envolvente, impossivelmente dançante, e uma letra melancólica. Os bailarinos saltitam alegremente, e os tambores tuntunam, concernem festas. Uma moça parece sopisar os Himalaias, sob a autoridade dos tambores, e gira com a alegria de uma criança, num spinning sincronizado com Daniela: lirismo, sensualidade, e certa generosidade baiana. Ela ainda nos presenteia, no mesmo álbum, com Bandeira flor, um hino a esse estado de coisas que é a Bahia. A música começa estranha, com metais em tudo fake, quase mexicanos, mas logo evolui para refrões de pura baianidade, com toda a irresponsabilidade que isso implica. Fortemente dançante, com uma percussão de alta octana.    


Corte para uma mulata que admiro: Tina Turner. Não necessitamos de outro herói. Nunca me dera conta da importância e necessidade desse refrão, até saber da prática de nomear os militares norte-americanos com esse epíteto, por mais improvável e surrealista... Tina demonstra um domínio absoluto do canto quando, em definitivo, convoca: all the children say! e elas cantam, lindamente.    


Private Dancer conta uma angústia, ainda que não nos atenhamos à letra, que ignoro. Novamente, domínio absoluto, numa melodia que requer todos os poderes da voz dessa mulher incomum. Help é um lento caminhar num jardim musical aprazível, marcado por essa voz, de poderes.  Em Two People notamos o ritmo e a harmonia nos convidando para uma florida aléia cheia de humanidade e decência.  


E já que, desautorizadamente, me permiti sentimentalismos, vou falar de uma música sentimental, piegas talvez: Memory. Invoco uma recordação: Cats foi minha primeira peça na Broadway. Uma orquestra aninhava-se no fosso. O musical se desenvolve, com toda a gataiada pra lá e pra cá no palco. A certa altura sobressaem uns acordes da mais fina e agradável guitarra, numa convergência harmônica com a orquestra. Então, na altura em que algumas peças se tornam cansativas, quando o desânimo tomara conta de gatos contemplativos, e quando parecia que Memory não tinha mais a oferecer - ou pelo menos surpreender - surge uma voz deliciosa, vigorosa, que ganha a lua, e anuncia: Touch me, It´s to easy to leave me (...) If you touch me, You´ll understand what happiness is... Estremece a platéia. De enlevo, saio pela Broadway em meio às brumas de uma lua hiemal. Um restaurante me acolhe. Acho que sou feliz. 

Linda Juventude. Sessão nostalgia. Com Planeta Sonho, sugere uma trilha sonora para nossa juventude, com todo o seu vigor e tendência ao sonho... 

Céu é uma cantora de difícil pesquisa, quase ignorada pela imprensa. A gente não sabe onde vive, quem é. Sabemos apenas que viveu no exterior (ela tem sotaque), e sua música é maravilhosa. Em Papa ela ensina a não se tomar tão a sério, e conclui com uma gargalhada, demonstrando a lição. Ponteiro começa séria, meio pesada. Aí ela pronuncia, quase angustiada, o refrão teeeempo com uma gravidade, uma peremptoriedade que parecemos restar às portas de um horizonte de eventos, o tempo derrapando em espaço, e vice-versa. Afinadíssima, a moça demonstra virtudes em BubuiaRosa Menina e muitas outras.       


Elton John. Suas músicas comovem, não sei explicar. Goodbye Yellow BrickSad Songs e Skyline Pigeon nos ganham de primeira, o que se explica pelas harmonias intensas, e pela afinação do back vocal, quase excessiva. Ainda assim, Skyline é um ponto fora da curva. O pianinho desenvolve toda uma argumentação através da tessitura melódica, enquanto a voz de Elton, aveludada, bondosa, melíflua, conduz-nos por paragens de fantasia e confortos.    


Minha banda de rock predileta segue sendo o Led. Para uma versão ligeiramente apaixonada de D'yer Mak'er, com Sheryl Crown, clique aqui.


É chegado o momento, contudo, de fazer uma séria ressalva, de caráter geral. Fiz uma versão da letra de Skyline e fiquei ligeiramente desapontado com a condução da temática e expressões usadas. Mas isso é nada comparado com a versão de Lucky in Love, de Jagger. Ainda que eu não seja a pessoa mais indicada para verter textos do inglês, foi decepcionante. A letra é simplesmente tosca demais, além de conter expressões próprias apenas a uma, digamos, minoria.      


Não sou desses que pretendem adequar letras de suas canções preferidas a seu estilo e filosofia de vida (se é que isso existe): algumas das músicas de que mais gosto têm letras descuidadas, ou obscenas, ou tolas, ou enviesadas, ou agressivas, ou piegas - ou tudo isso junto. Um exemplo preocupante é Bob Dylan: poeta pop, suas letras resvalam para um hermetismo bocó, com citações e paráfrases que vão do tolo ao infantil, passando-se por coisas profundas, místicas etc. Pelo menos as poucas que tentei verter. Um texto obscuro é, quase sempre, apenas isso mesmo: um texto obscuro, mal redigido. Não há verdades ocultas, secretas, inalcançáveis, mas apenas o cansaço, ou a pressa, que venceram o autor e zombam da boa vontade do leitor. No caso de Dylan, talvez a coisa seja mais simples, e se explique pelo abuso de heroína. 

       

Para ser justo, mesmo os libretos das grandes óperas contêm, às vezes, textos descuidados, fátuos, pobres, indicando que o autor tinha pouca intimidade com a poética, ou sucumbiu sob um prazo irrealista. Em alguns fica nítido o esforço para construir uma história do agrado do público, que coubesse na partitura, e nada mais. Onde está a poesia, a transcendência? Acho que é pedir demais... E o problema é mais grave do que se pensa, porque algumas dessas melodias estão entre as mais glorificadas realizações do espírito humano em milhões de anos...


E já que falei de letras problemáticas, considero Lucky in LoveHonky Tonk Woman e Start me Up as melhores produções dos Stones. Em Honky, os riffs são uma realização de alto nível: a Strato Fender - metálica, quase desafinada, de tão poderosa - urra como um leão despedaçado pelas flechas da perfídia. Lucky tem um refrão esperto, com uma guitarra bem resolvida, que sabe o que quer e tem meios de chegar lá.


Estabelecido o problema com as letras, voltemos a atenção para quem as tem até demais: Zero. Esquecida banda dos anos 80, nunca fez sucesso. Seus integrantes liam (e parafraseiam) Karl Marx. Quimeras é uma canção emblemática: a letra explicita um desengano; a melodia, em tom menor, é melancólica, sem ser depressiva: anjos do bem vão te mostrar uma luz maior, capaz de convencer que um mundo bem melhor existe em você... Eu não vou mais fugir de mim... A Luta e o Prazer é outra composição de grande cuidado estético na letra, com uma execução melódica simples: mas se o amor chegar/ sem pedir licença/ nos brindar com sua presença... Você vai lembrar de alguém/ que cantou há muito tempo essa canção..Agora Eu Sei tem a letra mais incisiva e significativa. Parece leitura ligeiramente marxista das relações humanas, num bom sentido: tem gente boa que me fez sofrer, tem gente boa que me faz chorar. O refrão merece um destaque: Quem vive mente mesmo sem querer, e fere o outro não pelo prazer, mas pela evidente razão de sobreviver... Raramente uma banda brasileira laborou tão bem, descontadas as paráfrases. Participação especial de Paulo Ricardo, o que me lembra... Loiras Geladas e Olhar 43, do RPM, duas musiquinhas que são a cara dos anos 80.


Duran Duran. A Matter of Feeling, que só fez sucesso no Brasil, tem uma gostosa melodia. Um leve toque de inquietação é bem servido pelo colorido da voz de Le Bon. No refrão final destaca-se uma harmonia suave, que também marca American Science (esta acrescida de um baixo com riffs próprios, muito a propósito...).
                 

Tendo falado do mais fácil, vamos ao difícil. Não conheço teoria musical, nem leio notação musical, então, meus comentários resultam um diletantismo desinformado, na melhor das hipóteses. Importam-me as impressões que as músicas produzem, e nada mais.        


As Bodas de Fígaro. É a melhor ópera de Mozart, junto com A Flauta Mágica, e uma da melhores de todos os tempos. Cinque... Dieci... e Non So Piu Cosa Son soam como exemplos do gênio em sua glória maior. Após muitas tentativas, e mesmo no contexto da genialidade de Mozart, considero Voi Che Sapete uma realidade autônoma inabordável. Trata-se de um banho de felicidade num mundo que, por ora, não concluiu o inquérito para saber se o amor é possível, se é tolerável. Mozart nos ensina que o espírito, em cultivos, pode transcender o mar de mesquinharias da luta pela posse de objetos que nos induziram a desejar. Somos inundados por uma generosidade ilimitada, uma música que liberta, renova, pacifica.       


Na Flauta temos o mesmo mágico transporte a reinos risonhos, prevenidos das asperezas e imperfeições do cotidiano. Ainda que alguns não aceitem o convite de Mozart - por absoluta precariedade de espírito - os felizardos somos promovidos a astros, a vogar por entre corpos celestes de harmonia e encanto. Sou outro no retorno desses êxtases; que é meu dever transmitir esse lenitivo a um mundo essencialmente insatisfatório.   


Em tempos escrevi, deslumbrado:


Vá desculpando o leitor que nunca ouviu a Flauta Mágica, de Mozart, mas quando, no Ato I, a Rainha da Noite começa seu longo solo (5º movimento), culminando naquela inteiramente feliz vitória da voz feminina, a reivindicar todos os poderes, sempre me emociono. Ou quando Pamina, no 8º movimento, inicia aquele sobrenatural dueto, que sempre enternece e induz ao bem (e ao qual sempre volto). Em todos esses movimentos, densa tessitura musical; escapamos de nossa ordinária órbita e passeamos por regiões eternais.


Nem mesmo a simbologia maçônica, que infesta a Flauta, é suficiente para desmerecer a obra, advogo.


O Barbeiro de Sevilha situa Rossini no mesmo patamar de Mozart, num gratificante beneficiamento da alma. O autor usa as armas da ironia e do cômico para transmitir uma mensagem estética poderosa e movimentada. Abstraída a letra - uma historieta que não ignora pequenas perfídias, por vezes alheia ao grandioso conjunto melódico - aprecia-se melhor a composição.


Pace e Gioia Sia Con Voi. A música provê asas para nós, coisas lestas e cansadas. Um novo mundo é convocado, com um novo céu e uma terra mais propícia, e seres, magnificados, emitem auroras de si mesmos, dissolvendo tristezas e mesquinharias. Tanto mais se lucra quanto se toma a saudação pace e gioia sia con voi por seu valor de face, relevando o resto da letra.  


All´idea Di Quell Metallo. A certa altura nos percebemos às voltas com uma dupla sertaneja, num sentido alheio a toda cafonice: as vozes se misturam e se afinam, num discurso de primores. A 5'40" insistem as cordas numa exortação vigorosa, magnânima, que eu não saberia descrever sem recorrer ao termo maravilhoso.  


A alegria de Largo al Factotum contamina e bloqueia a chatice, a mesmice. Mesmo crianças intuem, na hora, o burlesco e o fantasioso numa composição frenética, extravagante em sua felicidade musical.


Una Voce Poco Fa. A voz feminina em esplendores. O império da doçura, a favorecer nossa edificação mais humana. Culminâncias que acionam festas em nós. A soprano emite um poder que só posso atribuir ao amor, à vida.    


Na Sinfonia número 5 (Op. 107, "Reformation" Chorale: Ein' Feste Burg Ist Unser Gott), Mendelssohn realiza todo um programa anímico, que nos projeta por instâncias não locais, em direção ao eterno.     


Por mais que tente, eu não poderia ignorar O Coro dos Peregrinos, na Tannhäuser, de Richard Wagner. Um coral majestoso, como uma cordilheira altaneira, com seu alvo festão, eternecendo uma cidade. A certa altura as vozes masculinas ganham o primeiro plano. Ao fundo as mulheres elaboram a mais veemente defesa da beleza, sustentando uma grandiosidade própria de vastos agregados anímicos, louvados em suprema bem-aventurança.         


Carlos Gomes, com O Guarani, coloca o Brasil no contexto das grandes óperas. A introdução, abusada na horrenda Voz do Brasil, parece anunciar que coisas horríveis são iminentes, um novo AI, talvez. Após dois minutos, contudo, sai o velório e a leveza toma conta. A 5' a alegria desabrocha, numa valsa deliciosa, cheia de carinho inaudito, como se fora uma criança que descobre um jardim e dele se apossa. Esse tema é retomado e enriquece os atos Ic [4'18"] e IV Coro. Turíbio Santos tem uma interpretação maravilhosa da abertura, num violão de talento.   


Pomp and Circumstance, do inglês Edward Elgar: de um caráter marcial benigno, a melodia comunica retumbantes vitórias, de batalhas que nem sabíamos que traváramos. Toda vez que ouço, sinto que venci algum medo, alguma astuta perfídia. Sua inserção no filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, nos enche de espanto.       


Chariots of Fire, de Vangelis, projeta uma robusta ponte entre o agora e um futuro de virtude, honra, alegria e, quem sabe, amores. Concebo I Hear You Now como um apelo à bondade, ao menos provisoriamente.


Roberto Correa busca incessantemente a perfeição. Se, em Crisálida, ele obtém um violão espantoso, em Uróboro somos assaltados pela mais formidável viola de cocho que já existiu. Exótica, agradável, dificílima, numa execução que assombra. Sentimos que a perfeição, sempre quimérica, sorriu para Correa. Várias vezes, seja a 300 km/h através da Provença, seja ao contemplar o por do sol no convés de um barco que adentrava o porto de Bora Bora, fui às lágrimas, sob a autoridade dessa viola, de sentimentos.                  


Outro violão de poderes é o de Villa-Lobos. No Estudo n. 4 tem-se um discurso difícil, angustiado e nobre de um violão vitorioso. Na mesma obra, outros estudos, prelúdios e choros evidenciam a realeza de Villa-Lobos.   


Nos mesmos domínios destaca-se o imprevisto Marcelo Loureiro, daqui mesmo, de nossa planície pantaneira. Com um violão intenso e engajado, ele promove a releitura de temas pantaneiros e da imensa tradição desse povo que se debruça sobre o Paraguai-Prata, mas com tal sentimento e virtuose que percebemos estar diante de um mestre indiscutível do violão, irado. Presenciei um Pássaro Campana tão inacreditável e apaixonado que pôs em transe todo o teatro Rubens Gil de Camillo. Marcelo nunca gravou esse delírio, o que nos empobrece. Em Loureiro, toda a fortuna do violão caboclo, paraguaio, correntino, andaluz: universal.


Concluindo.


Talvez o leitor se agaste com essa mistura de Duran Duran, Edward Elgar e Rossini. Procurei um texto assim, que se perdesse em impressões pessoais acerca de nosso inesgotável haver musical. Em não encontrando, resolvi perpetrar este. Nossa era carece de testemunhas honestas, que digam o que vêem, o que sentem, sem tuitagens e outras aniquilações do mundo. Ouvi as músicas, senti o que tramavam transmitir ao nosso século - ignorando a intenção dos artistas - e anotei este resumo. Que importa o resultado?


O texto concede algum caos, alguma bagunça; certas lambanças, prontamente confirmadas por imprecisões e temeridades. Quem tiver necessidade de desatinos encontrará seu texto definitivo.  


Pode-se reclamar de parágrafos saturados de adjetivos, do barroquismo de tentar esgotar o tema, da angústia em transmitir tudo ao mesmo tempo, como se os motores de busca fossem depressa ratear. A emissão de sentenças estéticas irrecorríveis também aborrece, num contexto de irredimível opinionismo.


Quem tem medo do opinionismo?     


Procurei um texto que pertencesse às impressões pessoais, refletindo nossa fortuna musical. Os adjetivos, indefesos, abalaram pelos parágrafos como pontos flutuantes num cálculo colossal. Já se sabe: a música é minha riqueza pessoal.


A música tem esse poder, do transporte anímico; provê um diálogo complexo entre nossos sonhos. Nos sentimos a própria criança que se descobre em um jardim e toma posse de um novo eu. Glorificado.