Crise agora se chama “apagão”: aéreo, logístico, da educação. Somos pródigos em apagões. A partir da crise do fornecimento de energia elétrica, no governo FHC, a imprensa não percebe o intolerável dessa palavra. Um caso de “apagão” estilístico, ora pois.
Agora, os próprios controladores aéreos reconhecem o motim que, inadvertidamente, vêm impingindo aos pobres brasileiros (os pilotos dizem que os controladores mentem para eles, e inauguraram o gênero suicida de aproximação das pistas).
Lembro-me de uma vez ter ficado quarenta minutos dentro de um avião em Campo Grande, sob a alegação de uma tempestade em Brasília, nosso destino. Quando chegamos, nem sinal de tempestade. Após muitos sobrevôos, pousamos. Da cabeceira da pista até o pátio, mais de meia hora, a passo de lesma. Os controladores nos fizeram perder mais de uma hora, ambos os aeroportos desertos (corria a sonolenta tarde de um domingo).
Inicialmente, pensei que o motim era uma impostura dos controladores, sequiosos de se livrarem do bafejar dos milicos em suas nucas.
Vou contar uma lenda. Era uma vez um país com economia e sistema político mal-resolvidos (nada a ver com o querido Brasil, o leitor fica advertido).
Naquele infausto país, instituiu-se um ministério da Defesa, tal como em todas as democracias ocidentais. Os chefes das três Armas não gostaram. Daí, viram uma chance de ouro de desequilibrar o ministro da vez, e deixaram a indisciplina correr frouxa entre os controladores aéreos (em parte civil, em parte militar).
O motim foi encorajado, pela via da omissão. A classe média, dormindo em aeroportos, rangeu os dentes. O chefe da Aeronáutica mandou prender os amotinados. Espertos, eles colocaram esposas e mães entre eles e as tropas. O presidente desautorizou o comandante da arma aérea, que ameaçou pedir demissão. A noite é má companheira de presidentes que demitem chefes militares, reza a lenda.
Dias depois, os três comandantes militares “se convidaram” para falar com seu chefe teórico, que dera a contra-ordem.
Quem eles querem para a Defesa? Ninguém?
Nessa nossa lenda, os grandes negócios evoluem, numa conjuntura internacional que, por excelente, é inédita. Os players ganham dinheiro com uma intensidade indecente. Por outro lado, a mão “amiga” não empalma o poder civil em nenhum país relevante, nem mesmo em regimes políticos totais, como a China.
Daí que ninguém sai ferido e as companhias aéreas faturam um dinheirinho a mais, com vendas “criativas” de assentos inexistentes.
Não autorizo o leitor a extrapolar a lenda, menos ainda aplicá-la a países varonis, como o amado Brasil.