sábado, 7 de abril de 2007

A morte de uma célula

William R. Clark, em O sexo e a origem da morte (como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida) faz um tour de force sobre o mundo das células, que reproduzo, sem dó nem piedade, abaixo. Ele descreve uma viagem imaginária pelo inteior de uma célula cardíaca. Vamos ver:
Embora ela ainda não saiba, a célula miocárdica em que estamos está prestes a morrer. Ela morrerá devido à isquemia miocárdica, ou privação de suprimentos de sangue para a parte do coração em que se localiza nossa célula. O primeiro sinal de perigo, se nossa célula pudesse interpretar estes sinais, é uma diminuição gradual do fluxo de linfa que corre em sua superfície externa. A origem desse fluxo – um dos pequenos ramos arteriais que trazem sangue à sua região específica do coração – tem se estreitado gradualmente há vários anos, como um córrego espremido por rochas, galhos de árvores, lama e outros detritos. Neste caso, os detritos são uma mistura complexa de gordura, colesterol e células sangüíneas mortas que têm se acumulado por dentro da parede arterial há anos. Este processo começa quando o excesso de gordura e colesterol no sangue é depositado no que se conhece como camada gorda, atraindo a curiosidade de glóbulos brancos que passavam pela artéria. Os glóbulos brancos estão constantemente patrulhando a corrente sangüínea, procurando por qualquer coisa que possa representar uma ameaça ao corpo. Incapaz de tirar esse material indesejado do caminho, eles também acabam se atolando na confusão, morrendo e aumentando o impasse. Conseqüentemente, o fluxo saudável normal de sangue pela artéria foi reduzido a uma corrente minúscula nos últimos meses e a quantidade de fluido linfático que pode ser liberada dos capilares alimentados por esta artéria bem diminuindo cada vez mais. A célula em que estamos não tem nenhum conhecimento disto. Mas à medida que o suprimento de linfa que banha os arredores do músculo cardíaco começa a se reduzir a meros pingos, e até cessa intermitentemente, a célula sente que alguma coisa está terrivelmente errada. A redução do fluido linfático indica uma diminuição no suprimento de material que sustenta a vida e está dissolvido nele, em particular alimento e oxigênio. Os geradores de ATP mitocondriais, responsáveis pelo suprimento de energia para toda a célula, começam a parar completamente por falta de combustível e oxigênio. A quantidade de ATP dentro da célula começa a cair abaixo do nível crítico necessário para manter a função normal da célula. Em resposta, geradores de apoio menos eficientes são ativados e continuam a zumbir por algum tempo, queimando reservas de emergência do alimento intracelular, como amido e gordura, e até proteína, na luta para acompanhar a demanda de energia. Mas estes depósitos logo estarão esgotados e os geradores auxiliares também serão obrigados a parar. A quietude metabólica momentânea aumentará a escuridão; em questão de segundos, a falta de ATP começará a causar danos em toda a célula. Provavelmente, você pode sentir isso começando a acontecer. Criticamente afetadas pela falta de energia, as poderosas bombas que operam na membrana plasmática na parte mais externa da célula são as que seguram o potássio do lado de dentro e mantêm a água e o cálcio do lado de fora. Estas bombas são tão essenciais para a vida da célula que têm precedência absoluta por qualquer suprimento reduzido de ATP. Não é mais uma questão de função; agora é uma questão de sobrevivência ou morte. Todas as outras operações movidas a energia na célula, inclusive a contração das lâminas que impelem a função de bombeamento do coração, são obrigadas a parar para economizar combustível para as bombas. A maquinaria de síntese de proteína fica ociosa em toda a célula; as mensagens do núcleo se acumulam sem que sejam lidas. Todo tipo de produto parcialmente acabado começa a sumir das linhas de montagem à medida que as enzimas dependentes de ATP esperam que chegue um novo suprimento de energia, enquanto os produtos inadequados e incompletos são transportados para as unidades de remoção. Os lisossomos são levados a um frenesi enquanto tentam lidar com o todo o lixo que os alimenta. Em toda parte o apelo é o mesmo: “Onde está o ATP?” Mas o ATP não chega; uma por uma, as bombas da membrana começam a engrolar e a parar. O cálcio entra furtivamente pelos portões que costumavam excluí-lo e começa a corroer e distorcer as mitocôndrias que bamboleiam em silêncio nas sombras. E depois a água entra em torrentes. A célula começa a inchar, acarretando uma pressão intolerável para a membrana plasmática externa. Por fim, esta membrana, esta parede que isola e protege a célula do mundo exterior, começa a rachar; as rachaduras se alargam com uma rapidez cada vez maior até que a membrana se rasga e toda a célula literalmente explode na escuridão externa, lançando sua agora inútil maquinaria e sua própria seiva no fluxo quase seco de linfa que goteja do lado de fora. Estes acontecimentos não passam despercebidos pelo resto do corpo. (...) Os macrófagos começam a remover rápida e eficientemente os mortos. Eles não os embalsamam, nem os sepultam. Eles os comem, e é por isso que ficaram conhecidos por seu nome – macrófago significa literalmente “grande comedor”, em grego. Eles envolvem os fragmentos restantes de células mortas e os trazem para dentro de seus próprios lisossomos, onde são rapidamente degradados em suas partes componentes, que por fim serão liberadas na corrente sangüínea para serem usadas como nutrientes por outras células. Assim os mortos são reciclados dentro do corpo, como um dia o próprio corpo será reciclado em sua totalidade, pelo solo e pelas plantas, para prover nutrientes e oxigênio que nutrirão células humanas ainda não nascidas. Arrasadora, a imagem mostra a forma mais dramática de uma célula morrer: a necrose, em que o tecido atingido não se recupera. Na apoptose (a outra forma), a célula recebe uma mensagem para cometer suicídio. A célula começa a destruir todo o DNA de seu núcleo. O DNA é quebrado em milhões de pequenos fragmentos que não podem mais transportar nenhuma informação útil para a célula. A maquinaria da célula é encapsulada em corpos apoptóticos, que são devorados tranqüilamente e com eficiência pelas células vizinhas, não por papa-defuntos profissionais.
O resultado é o saudável processo de renovação de todo o tecido, sem cicatrizes.
Obra citada, pág. 25 e seguintes.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

O sexo e a origem da morte

O sexo e a origem da morte (como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida). William R. Clark, catedrático do Departamento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento da Universidade da Califórnia, apresenta-nos à morte no nível das células. Ele liga sexo e morte, uma associação de evidente mau gosto. A prova do raciocínio não o exime do aborrecimento. O sexo é uma forma perdulária de reprodução, diz o autor. Pode até ser, mas os sete bilhões de pessoas no mundo – para ficar só no exemplo humano – provam que também é muito divertida. Ele diz que a morte chegou cerca de um bilhão de anos após o surgimento da vida, quando todos eram (e sabiam ser) imortais, como as bactérias e os vírus (e também algumas células cancerosas). Foi assim: Famintas por hidrogênio, as cianobactérias fotossintéticas aquáticas (que deram origem às plantas) fabricaram – sem querer – um gás mortalmente corrosivo, capaz de destruir quase todas as moléculas orgânicas em que se baseia a vida: o oxigênio. Após essa “cagada” de escala planetária, ocorrida há austeros 2 bilhões de anos, as bactérias começaram a desenvolver especializações para se protegerem desse gás. Sob pressão do meio, as bactérias (reino das formas mais simples de vida: o Monera) resolveram mudar, o que gerou novos reinos, como os proctotistas e os fungi, que incluem seres tão desprezíveis quanto os mofos e as amebas, além de consumados patifes, como o Plasmodium (causador da malária). O que foi essa mudança? A invenção do núcleo celular, com uma capa protéica protetora. Em seu caminho evolutivo esses organismos duplicaram seu DNA numa maçaroca de “corpos coloridos”, protegida por proteínas especializadas, chamadas histonas. Esses cromossomos passaram a ser lineares, em vez de circulares, como nas bactérias, e as pontas passaram a ser revestidas por estruturas especiais de DNA chamadas telômeros, para evitar que as extremidades grudem em si mesmas ou em outros cromossomos (xeretando um pouco sobre o que os cientistas já sabem, se você nasceu com telômeros longos, vai viver muito; se eles foram ultralongos, bem, basicamente, você vai matar de raiva seus inimigos. Se nasceu com telômeros muito curtos, vai importar bem pouco se você só come brócolis, alface e tomate, não fuma, não bebe e faz 3 horas de exercícios pela manhã e mais 3 à tarde - tudo bem, estou exagerando um pouco, mas só um pouquinho). Duplicado e encapsulado num núcleo – em vez de ficar balangando pra lá e pra cá no meio celular – o material genético proporcionou vôos mais ousados à evolução, o que levou ao aumento da célula (um proctotista como o paramécio, por exemplo, tem tranquilamente um milhão de vezes o tamanho médio de uma bactéria), e ao início de estruturas especializadas, como citoesqueletos – que propiciaram à célula movimento – e microtúbulos, para engolfar materiais extracelulares (expediente às vezes chamado de alimentação). Peço permissão para citar longamente o autor, com uma ou outra licença poética: Parece que algumas bactérias começaram a achar que o interior de proctotistas maiores e mais avançados era um lugar bacana para viver e criar uma família. Elas se tornaram parasitas. Como a maioria dos parasitas bem-sucedidos, estas bactérias ganharam confiança. Por exemplo, algumas bactérias aparentemente desenvolveram defesas contra o oxigênio; umas poucas chegaram a desenvolver meios não só de neutralizar o oxigênio, mas de usá-lo para produzir energia. Isto deve ter impressionado certos proctotistas, que aparentemente assimilaram por endocitose algumas destas bactérias que respiravam oxigênio. Em vez de digeri-las para obter alimento, eles as converteram em partes permanentes da célula protista. Não era o que as bactérias tinham em mente, mas, no fim, todas as células eucarióticas adquiriram parasitas intracelulares semelhantes. Essas organelas, produtoras de energia através de um processo químico envolvendoa moléculas tri e difosfato (há uma “sobra” de energia, utilizada para tocar o dia-a-dia), têm seu próprio DNA, de filamento único e em geral circular, transmitido exclusivamente por linhagem materna. Esse DNA não está associado a histonas e contém genes de estrutura notavelmente procariótica. Creio que as provas são conclusivas quanto à origem bacteriana dessas usinas, que não ignoram o nome mitocôndria. Luca Cavalli-Sforza, geneticista italiano, descreve assim toda essa confusão: Podemos encontrar milhares ou dezenas de milhares de mitocôndrias em cada célula; no mínimo uma vai estar sempre presente. Tem o formato de uma pequena bactéria e provavelmente é o que ela é: uma bactéria que há mais de um bilhão de anos adaptou-se a viver em simbiose com a célula e tornou-se um componente importantíssimo, assumindo exatamente a função de central energética. Um suprimento assim formidável de energia abriu caminho para o crescimento da célula, apenas obstado por uma propriedade geométrica: o volume de uma célula aumenta em proporção ao cubo de seu raio, enquanto a área da membrana de superfície – local por onde os nutrientes entram e os dejetos são expelidos – aumenta somente em proporção ao quadrado do raio. Logo, o crescimento torna as células muito mais volumosas (e pesadas) que grandes. Um cubo de 1 cm de lado tem uma superfície total de 6 cm² e volume de 1 cm³. Um cubo com 2 cm² de lado terá 24 cm² de superfície total e volume de 8 cm³. A razão superfície/volume do primeiro cubo é de 6:1, enquanto a do segundo é de 3:1. O leitor entendeu, não é mesmo? Ah, deixa pra lá. O importante é aceitar que, se você é uma célula, é melhor se associar a outras para enfrentar as adversidades do meio, em vez de tentar ficar do tamanho do mundo. Após muitos arranjos, incluindo vários núcleos, ou várias cópias dos cromossomos (configuração poliplóide), as células resolveram se associar em organismos pluricelulares. Foi aí, em algum lugar pelo caminho dos moneras aos proctotistas, há cerca de um bilhão de anos, que a morte que conhecemos – a morte como uma conseqüência inescapável da vida – apareceu pela primeira vez. Era a estréia da morte programada. Disse, algures, que os indivíduos unicelulares são imortais. Serão mesmo? Os primeiros moneras unicelulares reproduziam-se assexuadamente em um processo simples chamado fissão. Nesta forma de reprodução, uma determinada célula replica seu DNA de forma autônoma e depois se divide em dois clones perfeitamente iguais, cada clone descendente recebendo uma cópia do DNA. Estas células amadurecem e cada uma delas produz dois clones idênticos e saudáveis. Assim, o organismo – o unicelular – nunca morre verdadeiramente. Afinal, onde está o corpo? Pode haver morte na ausência de um cadáver? Estas células são na verdade imortais. Em conseqüência, os organismos que se reproduzem por fissão simples, como acima, não conhecem a senescência, o envelhecimento gradual e programado das células e dos organismos que elas compõem, independentemente dos acontecimentos no ambiente. A morte do organismo por senescência – a morte programada – fez sua aparição na evolução mais ou menos na época em que surgiu a reprodução sexuada. Tanto o sexo como a morte programada começaram quando a grande maioria dos organismos ainda era unicelular. (...) do ponto de vista biológico, “sexo” e “reprodução” são dois fenômenos inteiramente não-relacionados. O sexo refere-se somente à troca ou recombinação de toda ou parte da informação genética – o DNA – entre dois membros da mesma espécie. Reprodução é simplesmente isso – a reprodução de cópias adicionais de uma dada célula. “Reprodução sexuada”, portanto, significa troca de informação genética em combinação com a reprodução celular. Na forma mais simples de vida, sexo é assim: dois indivíduos unicelulares se conjugam, permutando parte do acervo genético. O processo de fissão garante que cada uma delas fique com cópias de cromossomos ligeiramente embaralhados e recombinados, o que significa dizer que aumentou a variação genética, uma maneira de as espécies conseguirem se adaptar a um ambiente em transformação, permitindo ainda o reparo ou a eliminação de erros genéticos. O sexo rapidamente tornou-se a forma dominante de reprodução entre todas as formas de vida subseqüentes. Por quê? Para as bactérias que se reproduzem somente por fissão, a imortalidade é garantida automaticamente; a imortalidade para todos os outros depende de fazer sexo. II. Sexo e morte. Existem sutilezas envolvendo os paramécios e outros proctotistas ciliados, que terminam por revelar o nó górdio da questão. Neles, surge, pela primeira vez, a segregação de DNA a ser usado para fins reprodutivos (conjugação) do DNA usado para orientar a operação diária da célula. Assim, determinadas cópias do DNA é separado e utilizado exclusivamente para a reprodução. A outra parte (composta de células somáticas) é utilizada no metabolismo do corpo, sofre inúmeras divisões (por fissão sem recombinação genética) e, no afã de manter o organismo em funcionamento, acumula muitos erros de replicação. Essas mutações não são compensadas nem corrigidas por sexo meiótico; as células somáticas não trocam nem recombinam DNA com outras. Sua função é garantir a sobrevivência e transmissão do DNA guardado pelas células germinativas, segregadas e inertes, até o momento da reprodução sexuada. Já podemos ver que a morte surge da separação entre DNA somático e germinativo. Só as células germinativas conservam o potencial da “imortalidade”. Elas podem deixar o corpo, combinar-se com outras células germinativas e produzir uma progênie. Quando isso acontece, o relógio da senescência da célula germinativa é zerado. O DNA da célula somática não recombinado torna-se não só redundante, como também irrelevante. Esse refugo genético, leitor, somos eu e você. Resumindo: O impulso para um tamanho cada vez maior foi obstado por uma lei da física (a célula fica pesada e volumosa; a área relativa menor impede trocas eficientes com o meio: alimentação e secreção ficam prejudicadas). Os organismos, pressionados, acabaram descobrindo a pluricelularidade, associação entre organismos inicialmente independentes, com benefícios mútuos. Esse mesmo impulso levou à criação de DNA extragerminativo (somático). O advento do sexo na reprodução fez o que era necessário para destruir o DNA somático no final de cada geração. Isto porque o reparo de DNA somático (não-reprodutivo) é espinhoso, caro e, no final das contas, não vale e pena. O DNA somático teria de ser alterado, de modo a refletir a composição do DNA reprodutivo novo e produzido sexuadamente. Isto já seria difícil no DNA macronuclear de um ciliado unicelular; em animais pluricelulares, está fora de cogitação. É mais fácil simplesmente destruir o velho DNA somático e recomeçar. Se o DNA está em células separadas, as células também morrem. Infelizmente, estas células somos nós. A essa altura, creio poder apresentar esta tese do autor, um susto: a morte não é um co-requisito automático da vida. Determinadas células tumorais, por exemplo, comportam-se exatamente como organismos unicelulares primitivos: proliferam assexuadamente, por fissão simples, e nunca se “cansam”. Produzem cópias de si mesmas indefinidamente, bastando alimento e oxigênio ilimitados (desde que evitada a superpopulação). O “relógio” delas está perpetuamente zerado; elas não envelhecem nem morrem. Como as células germinativas, elas são potencialmente imortais. O mais famoso conjunto de células cancerosas do mundo, chamado HeLa, já produziu, num cálculo aproximado, cópias num total de 2 elevado a uma potência de 15.000 zeros! Como é que se zera o relógio? Através da reprodução com embaralhamento genético. Uma célula somática poderia zerar seu reloginho, desde que tivesse as estruturas genéticas que reparam o DNA, corrigindo os erros acumulados. Assim, poderia gerar cópias novinhas de si mesmo, sem erros, e se “tornar perpétua”. Isto é possível para células indiferenciadas, como as células iniciais dos embriões, mas não para aquelas que formam organismos desenvolvidos, como nós. Nestes, as células expressam segmentos diferentes do acervo genético. Os demais loci ficam inacessíveis, para sempre (diz-se, da parte acessível, que essa parte fica aberta para se expressar). Estou simplificando demais a questão, por modéstia ou falta de conhecimentos (tenho certeza que alguém vai aparecer com um monte de exemplos de relógios zerados, das maneiras mais heterodoxas), mas é mais ou menos isso, sim senhor. Final. Imortalidade de quem? A “imortalidade” de uma bactéria, ou de uma célula cancerosa, incapazes de saber o que seja morte, não faz o menor sentido. A nossa dependeria de um mecanismo perfeito de reparo dos erros acumulados na reprodução das células somáticas, necessária à manutenção da vida (a reconstrução diária dos órgãos e tecidos). Imortal (mas com modificação) é o código genético, apenas, em nós como nos vírus e bactérias. Já andaríamos bem se garantíssemos vida digna, com duração razoável, a toda a humanidade, sem extermínio das demais formas de vida ou exaustão dos recursos ambientais. O expediente da associação de células, que garantiu sucesso diferenciado aos nossos ancestrais, e permitiu que emergisse uma consciência, cobrou seu preço. A separação entre células encarregadas de construir e operar um vetor para os genes, e as células reprodutivas, portadoras do projeto de novos vetores, levou à necessidade de destruir o material genético desgastado, cumprida sua finalidade: passar à próxima geração o acervo genético. No final, fatigados, encaminho-nos todos ao inefável descanso, legando aos filhos (portadores de uma determinada apresentação de nosso pool genético) o mundo. O autor faz uma abordagem inteligente do problema, levanta muitas questões, força-nos a pensar. Nesta tentativa de resumo, gastei meses. Naturalmente, o texto é muito mais rico que estas notas, simplórias. Terei de estudar um pouco mais o tema, absolutamente fascinante. Campo Grande, 31 de março de 2007.

STF e o direito de greve

Brevemente o Supremo vai julgar um mandado de injunção, medida destinada a corrigir a omissão dos poderes Legislativo e Executivo. Trata-se do direito de greve do funcionalismo público. Vinte anos à espera de uma lei que regulamente esse direito, previsto na Constituição, e nada.
Legislativo e Executivo se sentem confortáveis com a falta de uma lei a respeito. O Supremo cansou da brincadeira. Acordando para seu dever de guardião da meta-lei da República, a Corte finalmente vai dar vida ao mandado de injunção, natimorto. É que, reconhecendo as omissões, o Supremo se contentava em mandar uma cartinha aos omissos, lembrando-os de suas omissões. Muito bonito, mas inútil.
Se Executivo e Legislativo subordinam suas atividades ao mais mesquinho e míope jogo político, cabe ao Judiciário, por meio de uma decisão que ponha fim à lacuna jurídica, ainda que somente até a edição da lei reclamada, assegurar o direito do cidadão, previsto de forma condicionada pela Constituição.
Não estaria o STF legislando, com a decisão? Tomara que sim. Alguém tem de legislar, em algum momento, oras bolas...

domingo, 1 de abril de 2007

Amenidades

Duzentos intelectuais, artistas, esportistas e empresários elegeram Getúlio Vargas o mais importante brasileiro de todos os tempos. Apesar de incorreto, não me importo tenham relegado Machado de Assis ao terceiro lugar. Em segundo, JK. Depois, nomes como Rui Barbosa e Tom Jobim. Não há nada de errado na lista, exceto que, daqui a 500 anos, os colegiais continuarão a decorar fragmentos da obra de Machado de Assis, com aquelas bisonhas classificações "romantisno", "realismo", "modernismo" etc . Quanto aos demais, somente Getúlio e Guimarães Rosa são dignos de menção. Getúlio foi o mais importante político do País. ponto. (Para que diabos precisamos de políticos?). Guimarães é o gênio da criação lingüística. Impossível não se emocionar com seus achados, risonhos.
Os outros, bem, daqui a 500 anos nem os mais empedernidos eruditos serão capazes de dizer o que fizeram. A lista correta é:
1) Machado de Assis 2) Getúlio Vargas 3) Guimarães Rosa Depois vem uma profusão de nomes, tais como Pedro II, Regente Feijó, Bonifácio de Andrada, Barão de Mauá et cetera. É importante dizer que Rui Barbosa não está (não pode estar) na lista. Nem por engano.