domingo, 16 de março de 2014

Subliminar

O universo de fato é um trabalho grosseiro, mas acho que vamos ter de nos virar com isso.
Leonard Mlodinow, o físico do Andar do bêbado, se propõe mexer no vespeiro do inconsciente.

Nosso cérebro subliminar é invisível para nós. (...) dispomos de uma vida inconsciente rica e ativa, que funciona em paralelo a nossos pensamentos e sentimentos conscientes, e exerce poderoso efeito sobre eles, diz o autor, de início.

Indaguei, algures, do inconsciente. Após alguma reflexão, que não dispensou a leitura de Gazzaniga, Mlodinow, Pinker, Damásio, Ariely, Kahneman, Juan de Mendoza, Freud, Jung, Buonomano, Nicolelis, Brian Christian, Dan Simons, Springer & Deutsch, Aamoth & Wang (Eccles & Popper aguardam), reformulei, estafado: existe consciente?

"The spirit is willing but the flesh is weak" foi traduzido para o russo e depois, de volta ao inglês, por um computador:

"A vodca é forte, mas a carne é podre".

O novo inconsciente.

Vamos parar de brincadeira. Se o leitor teve a audácia de pular a discussão dos últimos 60 anos sobre o inconsciente, aqui vão algumas dicas. Considere duas concepções: John Dunne & William James versus Freud-Jung & Cia. Estes últimos venceram, em prejuízo da Psicologia, caluniada pelas imposturas psicanalíticas e as quixotadas de Jung.

O inconsciente de Freud, essa sucursal do inferno, é uma criação literária daninha. O de Jung, seja o que for, é pouco menos que isso. Não, leitor, ninguém se desenvolve desejando sexualmente a mãe e premeditando matar o pai. Toda essa ociosa grosseria é apenas mau uso de metáforas das tragédias gregas. O inconsciente de Freud era "quente e úmido; fervilhava de ira e luxúria; era alucinatório, primitivo e irracional". Categorias como id, superego, pulsão e repressão pertenciam mais à religião que à clínica e à empírica. 

O novo inconsciente é mais "delicado, e gentil que isso, e está mais ligado à realidade".
Os processos são considerados inconscientes porque há parcelas da mente inacessíveis ao consciente por causa da arquitetura do cérebro, não por estarem sujeitas a formas motivacionais, como a repressão. A inacessibilidade do novo inconsciente não é vista como um mecanismo de defesa ou como algo não saudável. É considerada normal. (p. 24).
O novo inconsciente faz muito mais que nos proteger de desejos sexuais impróprios ou memórias dolorosas. É acionado para nos salvar de perigos inesperados, e para tocar o dia-a-dia sem dispendiosos gastos energéticos com raciocínios e reflexões. Assim, toda a rotina incorporada, como trocar marchas, abrir uma geladeira e pegar a água ou computar 2 x 2 é sediada no inconsciente, econômico, eficaz e automático. Muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado e julgamento são delegados a estruturas cerebrais separadas da percepção consciente (sistema 2, para Kahneman), que é muito lenta e custosa.

A maior parte de nossa mente é inconsciente (temos 2% de processos conscientes, especula-se); superposta a essa escuridão, temos um cérebro parcialmente consciente, com módulos funcionando em paralelo, a maioria fora do âmbito consciente. Há parcelas da mente inacessíveis ao consciente por causa da arquitetura do cérebro, não por estarem sujeitas a formas motivacionais, como a repressão. O piloto automático cuida de nosso equilíbrio, da sintaxe e da morfologia, enquanto escolhemos as palavras para impressionar a plateia.

Atinemos com o miolo do problema: nossas experiências anteriores podem moldar nossas expectativas para sempre. Nos casos de eventos traumáticos, a percepção pode ser distorcida pelo temor de que, a qualquer momento, justiça, normalidade e lógica percam a validade, força ou significado. A rotina terá incorporado uma distorção, que ignoramos. Os pontos de referência implícitos produzem comportamentos e ideações rotineiras. Se essa ancoragem afetiva compreender traumas substanciais, encerrados numa caixa-preta, podemos ter a gênese das "forças ocultas" que induziram Freud a construir seu castelo do terror psicanalítico. Enfatizo: as forças internas do novo inconsciente têm pouco a ver com as motivações inatas descritas por Freud.

O cerne é: processos mentais que não percebemos, e cujas origens não conhecemos, geram sentimentos e emoções, às vezes à nossa revelia, contra nós ou para nossa mortificação. Muitos desses processos jamais estarão abertos à consciência, e a autorreflexão terapêutica da psicanálise resulta inútil.  

A verdade é que nossa mente inconsciente está ativa, é independente e tem um propósito. Oculta embora, seus efeitos são visíveis, e têm papel crítico na maneira como nosso consciente vivencia e responde ao mundo.

O processo de chegar aparentemente por acaso a uma resposta correta que não temos consciência de conhecer é agora chamado de experimento de “escolha forçada”, o mais promissor meio de sondar o inconsciente.

Sentidos + mente = realidade

Para Kant (alvo da zombaria de Nietzsche), construímos ativamente uma imagem do mundo, cheia de "licenças poéticas" e longe do inventário objetivo que imaginamos, ingênuos. A realidade é gerada, constrangida pelos vieses prediletos da mente. (...) nossa percepção não se baseia apenas no que existe, mas é de alguma forma criada – e restringida – pelos aspectos gerais da mente.

Atualizando Kant: o inconsciente desenvolveu-se cedo na evolução, sentindo e respondendo com segurança ao mundo externo. É a infraestrutura-padrão no cérebro de todos os invertebrados (p. 42). A consciência é item luxuoso, opcional (mas vem de fábrica, no caso humano). Os animais não precisam de (e não suportariam) uma mente deliberativa. Cavalos filosóficos, predadores com dilemas existencialistas seriam um aborrecimento. O cérebro inconsciente processa doses maciças de informação, entregando nossa sobrevivência num mundo incerto e complexo. Enquanto as espécies não humanas sobrevivem com pouco ou nenhum processo consciente (jamais saberemos) nenhum animal pode existir sem um inconsciente.

Calcula-se que nosso cérebro recebe 11 milhões de bits de informação por segundo, mas a consciência só consegue lidar com algo como 16 a 50 bits por segundo. A evolução nos deu uma mente inconsciente porque é ela que permite nossa sobrevivência num mundo que exige assimilação e processamento de quantidades colossais de informação, que não poderiam passar pela angustura da consciência.

Nosso cérebro gasta horrores com o módulo da visão, entre 25 e 30 por cento de todo o processamento.

Visão é o efeito cumulativo da informação percorrendo múltiplos caminhos, tanto conscientes quanto inconscientes (p. 53), o que explica a visão cega. Pessoas com essa condição reagem subliminarmente a imagens eróticas, por exemplo, mesmo sem saber a fonte.

Quando declaramos ver uma cadeira, queremos dizer apenas que nosso cérebro criou o modelo mental de uma cadeira. Com a audição não é diferente. Palavras entrecortadas, pela metade, são completadas mentalmente, com base no contexto (restauração fonêmica). O que você pensa ter ouvido no começo de uma sentença pode ser afetado pelas palavras que vêm no final. O mundo que percebemos é um ambiente artificialmente construído (...) produto dos nossos processos mentais inconscientes dos dados reais (p. 62).

O inconsciente basicamente preenche as lacunas de informação de nossos sentidos, a fim de construir um modelo de mundo tratável:
partes do cérebro que funcionam no nível inconsciente fazem truques para preencher a informação que falta. A memória é outra [arena de processamento mental], pois a mente inconsciente se envolve ativamente na tarefa de moldar nossa memória.
Memória.

Guardamos os aspectos principais dos eventos, quando muito, não os detalhes. Defrontamos quantidade intolerável de dados a todo momento, e precisamos esquecê-los, sob pena de sermos soterrados pela irrelevância. Uma única árvore pode abrigar zilhões de ângulos entre galhos e folhas, entre outros detalhes, mas só retemos o esquema geral de como uma árvore deve ser, ordinariamente. Ora, as técnicas de esquecimento do cérebro são a origem dos erros de memória. Mesmo pessoas bem intencionadas preenchem os detalhes inventando coisas, e acreditam nas lembranças que inventam. Nos lembramos da memória, não do evento.

Como a memória atravessa o tempo? Não há só memórias perdidas. Elas também são acrescentadas. No geral, as histórias ficam mais curtas e simples. Fornecemos uma organização pessoal, fazendo-as parecer mais coerentes. Elimina-se toda forma surpreendente, errática e inconsequente, num aplainamento da memória. Tendemos ao regular, simétrico e familiar (conforto cognitivo).
Falsas memórias e informações errôneas são tão facilmente implantadas que foram induzidas em bebês de três meses, gorilas e até pombos e ratos.  
Ser social.

Nossas ligações emocionais e sociais transcendem as palavras e pensamentos conscientes. A maior parte de nossa interação emocional é inconsciente. E a teoria da mente, que nos habilita a viver em sociedade, também. 

Uma das medidas da teoria da mente é a chamada intencionalidade, que tem em Daniel Dennett meu predileto. “Quero um pedaço do assado que minha mãe assou” é o que se chama “intencionalidade de primeira ordem”. A maioria dos mamíferos vive nesse estágio mental. Na segunda ordem, o agente passa a considerar o estado mental de outra pessoa: “acredito que meu filho quer um pedaço do assado que preparei”. É o nível mais rudimentar de uma teoria da mente e sua abordagem é probabilística.

Na terceira ordem, pode-se raciocinar sobre o que uma pessoa pensa que uma segunda pessoa está pensando, como em “acredito que minha mãe acha que meu filho quer um pedaço do assado que ela preparou”. Você pode subir um nível: “Acredito que meu amigo Sanford acha que minha filha Olivia acha o filho dele uma gracinha” ou “Acredito que minha chefe, Ruth, sabe que o nosso diretor financeiro, Richard, acha que meu colega John não acredita no orçamento dela ou que projeções de receita são confiáveis” (intencionalidade de quarta ordem, necessária para a criação literária, por exemplo).

Primatas parecem capazes de pensamento situados entre primeira e segunda ordens. Humanos não petistas podem alcançar a sexta ordem, que exige raciocínios sobre longas cadeias de conceitos inter-relacionados (puro Sistema 2).

Enfatizo o caráter estocástico, probabilístico da inferência, presente no “acredito”. Nunca temos certeza sobre o que o outro está pensando. Muito menos sobre o que o outro está pensando que um terceiro está pensando. Podemos ter um bom palpite, baseado na experiência, quando muito.   

Se as pessoas não têm consciência dos processos subliminares, e se não podem segui-los com o cérebro, que provas temos de que tais estados mentais existem?, pergunta o autor. E responde:
(...) seguir roteiros inconscientes preestabelecidos “pode na verdade ser o modo mais comum de interação social”. (...) aqui, é o inconsciente desempenhando seu dever normal, automatizando tarefas de modo a nos libertar para responder a outras exigências do ambiente.  
Podemos dividir o cérebro humano em três regiões, de uma perspectiva evolutiva: cérebro reptiliano, sistema límbico (ou “velho cérebro mamífero”, fonte de nossa percepção social inconsciente e de nossas emoções sociais) e neocórtex, ou “novo cérebro mamífero” (um tecido convoluto em seis camadas, da espessura de um guardanapo, com 190 cm², o tamanho de uma pizza grande).

Integrando o neocórtex, “O córtex pré-frontal é responsável pelo planejamento e pela orquestração de nossos pensamentos e ações de acordo com nossos objetivos; e pela integração entre pensamento consciente, percepção e emoção; acredita-se que seja o local de nossa consciência” (p. 123).

Sintetizando até agora, muito da nossa percepção social – como visão, audição e memória – parece seguir caminhos que não estão associados à consciência, intenção ou a um esforço consciente. (p. 124-5)

Estereótipos.

“O ambiente real é na verdade grande, complexo e transitório demais para um conhecimento direto. (...) precisamos reconstruí-lo em um modelo mais simples antes de conseguir lidar com ele (Lippmann, citado pelo autor, p. 178). Esse modelo mais simples corresponde ao estereótipo.

Essencial é que a estereotipagem inconsciente, ou implícita, é a regra, não a exceção; surge de processos cognitivos normais e inevitáveis, não como processo consciente e intencional.  

Discriminação, assim, é mais bem descrita como processo inconsciente. Nosso juízo inconsciente, amplamente apoiado em categorias que atribuímos às pessoas, está sempre em competição com nosso pensamento mais deliberativo e analítico (p. 188). É preciso esforço se quisermos superar os vieses inconscientes.

O que acontece quando categorizamos a nós mesmos?

os pontos de vista de outros no grupo infiltram-se nos nossos pensamentos e dão cores à maneira como percebemos o mundo. São as “normas grupais”.

Quando trabalho algum bairro muito humilde, ou pobre mesmo, me surpreendo com as falas e atitudes da molecada. Não me refiro ao sotaque, nem a modismos como celular, roupa e bordões do momento. Abaixo desse verniz contemporâneo, vejo neles o mesmo garoto que fui, nos anos 70/80, com as mesmas conversas, motivação e comportamento. Constato que a favela em que morava se insinuava em minha atitude, motivos e ideações, da mesma forma como o meio profissional, os livros e a classe a que pertenço subsidiam e acabam por condicionar minhas ideias, de uma maneira inconsciente e automática, por mais que desgoste admiti-lo.   

Sentimentos.

Nossa personalidade é dinâmica e mutável. Não somos apenas diferentes de nossa versão adolescente, (...) podemos ser duas pessoas diversas ao mesmo tempo: um “eu” inconsciente, que nutre sentimentos negativos em relação a negros – ou a pessoas mais velhas, gordas, gays, muçulmanos –, e um “eu” consciente, que abomina o preconceito (p. 211). 

(...) a fonte de nossos sentimentos costuma ser um mistério para nós, assim como os próprios sentimentos. Sentimos muitas coisas de que não temos ciência. Contamos estorinhas a nós mesmos, escolhendo as prediletas, como se tivessem sido submetidas a rigorosos testes de validade. E acreditamos nelas.

De onde vêm nossos sentimentos? Se você acha que sabe, pensou mais profundamente que qualquer outra pessoa na face da Terra, ou está se enganando. 

As emoções, (...) são como percepções e memórias – reconstruídas a partir dos dados à mão. Muitos desses dados vêm da mente inconsciente, diz o autor. E é assim que, mesmo uma resposta fisiológica, como a dor física, pode variar, ainda que os sinais enviados pelas células nervosas não variem.

Com frequência alarmante não compreendemos nossos sentimentos mas, se nos pedem para justificá-los, achamos depressinha bons motivos. Onde encontramos essas razões para sentimentos que podem não ser o que pensamos? Nós [nosso módulo gerador de conversa fiada – hemisfério esquerdo] as inventamos

Experiências escancaram isso. Quando cortamos a ligação dos dois hemisférios, e fornecemos informação isoladamente ao direito (uma ordem de aceno, um motivo para risos etc), o hemisfério esquerdo, observando a conduta, depressa inventa uma justificativa para o comportamento, do qual não tomou parte. Parece que essa região do cérebro recebeu mandato para buscar ordem e razão em tudo que acontece. O hemisfério esquerdo fabrica significado mesmo quando fora de seu alcance, ou quando não há nenhum; está sempre a “produzir significado, de uma maneira desesperada, continuamente inventando, lançando pontes de significado sobre abismos de falta de significado” (Oliver Sacks, citado pelo autor, p. 226).

Em resumo, confabulamos para preencher lacunas no conhecimento de nossos sentimentos (...) ainda que julguemos saber o que estamos sentindo, em geral não conhecemos nem o conteúdo nem as origens inconscientes desse conteúdo.  (...) o cérebro (...) faz uma busca no seu banco de dados mental de normas culturais e escolhe algo plausível. (p. 227). Nosso inconsciente, retroativamente, utiliza normas sociais para explicar nossos sentimentos.

Apresento agora uma provocação: será possível que observadores externos (os outros) tenham maior consciência sobre nós, que nós mesmos? Conheço ao menos um caso em que isso ocorre, para minha mortificação. A evolução não projetou o cérebro humano para entender a si mesmo com precisão, mas para nos ajudar a sobreviver (p. 230).

O eu. 

Somos bons atores. E nossa platéia mais crédula. 

Com que frequência será que entendemos errado o sentimento alheio? Com que exatidão percebemos a nós mesmos?

Bem, em 1959, no hospital psiquiátrico Ypsilante State, três Jesus Cristos foram colocados no mesmo quarto, para se examinar “como eles processariam em conjunto essa ideia”. Ao menos dois tinham de estar errados. Antes, no século XVII, um sujeito mandado ao hospício por se dizer Jesus Cristo lá encontrou outro Cristo e “ficou tão chocado com a loucura de seu companheiro que reconheceu a própria sandice”. Infelizmente ele logo voltou a ser Jesus e recebeu os honorários correspondentes, ardendo na fogueira da Inquisição.

Dois dentre os três Jesus mantiveram a autoimagem, contra a realidade. Só um renunciou à divindade e deveríamos ser gratos a ele.
Nossa autoimagem e a imagem objetiva que os outros têm de nós não estão bem sincronizadas. (...) nosso ego luta ferozmente para defender sua honra (p. 236).
Normalmente, partimos de uma conclusão e depois buscamos evidências que a apoiem, em vez de partir das evidências para chegar a conclusões. O cérebro pode ser um bom cientista (quando emprega o Sistema 2, racional e ponderado), mas é um advogado absolutamente brilhante (sistema 1, inconsciente e automático), sempre pendendo para o que nos faz felizes no momento, em vez do que é melhor para nós.
a mente inconsciente é mestra em usar dados limitados para construir uma versão do mundo que parece completa e realista para sua parceira, a mente consciente (...) o lado advogado do nosso inconsciente mistura fato e ilusão, exagerando nossas forças, minimizando fraquezas, criando uma série de distorções picassianas em que algumas partes foram ampliadas em proporções enormes (as partes de que gostamos) e outras encolheram até quase se tornar invisíveis. Os cientistas racionais de nossa mente consciente depois admiram o auto-retrato com inocência, acreditando ser um trabalho fotográfico de precisão. (p. 238).
Acreditamos piamente em nossa bondade e competência; sentimo-nos no controle e nos vemos sob luz favorável.  

Ora, nosso inconsciente pode escolher entre um número enorme de interpretações para alimentar nossa mente consciente. No fim, pensamos que lidamos com fatos, quando na verdade estamos lidando com nossa (prévia) conclusão preferida.

Como os raciocínios interessados são inconscientes, as pessoas podem ser sinceras ao afirmar que não são afetadas por vieses ou interesses próprios (p. 243). Pode-se ver um reflexo disso: na Grã-Bretanha, metade das população acredita no céu, e apenas ¼, no inferno. Irracionalidade direcional, interessada. 

Contudo, a parte consciente da mente não é trouxa. O inconsciente deve ao menos manter a “ilusão de objetividade”.

Pense no caso do aquecimento global. Ou na Teoria de Evolução. Muitos precisam – porque seu ganha-pão ou ideologia impõe – de que esses consensos racionais estejam errados. Mas não estão. G.K. Chesterton inaugurou a moda dos carolas dizerem que o catolicismo é a única resposta racional ao problema religioso.

Racional! Ele disse racional! O catolicismo pode ser uma resposta ao problema (não para mim), mas não é racional.

Mantemos nossas ilusões de objetividade através de filtros de parcialidade inconscientes. Invocamos inclusive nossas memórias para validar vieses, iluminando nossa auto-imagem.

Nosso inconsciente está em suas melhores condições quando nos ajuda a criar um sentido positivo e sólido de nosso eu, uma sensação de poder e controle num mundo aleatório, incerto e vasto (p. 256).   

O raciocínio motivado [interessado] permite que nossa mente nos defenda contra a infelicidade.

O autor conclui, e penso que com razão:
O que acontece na verdade pode depender muito da teoria em que escolhemos acreditar. É um dom da mente humana estar aberta para aceitar a teoria de nós mesmos que nos impulsiona em direção à sobrevivência e até à felicidade.
Mencionei vários livros sobre o inconsciente. Subliminar, junto com os citados, fingem que não mudam nossas vidas. Acredite em mim, leitor: mudam.