sábado, 17 de setembro de 2011

Dorsal


Jubarte












Muito além do nosso eu

O brasileiro Miguel Nicolelis apresenta, com sólida argumentação, a tese do cérebro como um formidável simulador da realidade ou, mais precisamente, como o construtor permanente das realidades por nós percebidas como o mundo real.

Para ele a percepção é um processo ativo (...) por meio de uma série de comportamentos exploratórios, o cérebro testa continuamente seu próprio ponto de vista diante do fluxo de novas informações que recebe.

Para Miguel, ecoando Dawkins, as sensações são cuidadosamente esculpidas pelo cérebro e depois doadas à nossa consciência: vastas tempestades elétricas cerebrais a que costumamos nos referir (...) como pensamentos.

O cérebro - por meio do trabalho coletivo de uma vasta rede de circuitos neurais distribuídos - se encarrega de construir modelos altamente refinados do mundo exterior, de nós mesmos e da interação dinâmica entre os dois; de explorar ativamente o ambiente, para testar e atualizar seus modelos internos; de gerar expectativas para os possíveis resultados, custos e benefícios dessa modelagem.

A própria dor não passa de uma simulação do cérebro, como provado no caso dos membros fantasmas, com suas dores inexistentes, mas excruciantes. Outras síndromes são ainda mais eloqüentes, como a hemiagnosia, em que o cérebro passa a "negar" a existência de metade do campo visual, e do próprio organismo; ou a "rejeição" mental de parte do corpo, evidências de que o mundo, e nossos corpos, são o que nosso cérebro vier a modelar, ao menos do ponto de vista da consciência.

E assim percebemos que o mundo inteiro não passa de uma construção virtual, como enfatiza David Deutsch, citado pelo autor.

Nicolelis insiste num ponto: a atividade mental é função de uma população de neurônios, sem localização precisa e que pode mudar de acordo com as circunstâncias e necessidades do cérebro. Não existe, assim, uma área da fala, outra do controle da mão etc, mas um cérebro plástico, que aloca neurônios sob demanda, buscando a resposta ótima para o processo mental a cada instante. De uma tacada, elimina-se o problema da encadernação, que agora sabemos falso, exatamente como outros grandes becos sem saída, como o livre arbítrio. A encadernação era a necessidade de integração das diversas partes especializadas do cérebro. Esse problema só existia na mente dos localizacionistas, que prevaleceram por todo o século XX. O cérebro nunca o enfrentou, porque sempre se conduziu de forma muito mais sábia, alocando os neurônios disponíveis, onde quer que se encontrem, just in time.   

Se o livro consentir um resumo, ou pelo menos a extração de uma idéia forte, seria o que segue:

O que importa é uma dada população de neurônios; quanto ao neurônio individual, sua freqüência de disparo é insuficiente para sustentar uma função particular ou qualquer comportamento mediado pelo córtex [por] falta de consistência estatística.

Assim, a unidade funcional básica do pensamento não pode ser um neurônio único, mas uma população de neurônios.   (...) o cérebro aparentemente utiliza um mecanismo fisiológico similar a uma eleição; um voto neuronal no qual grandes populações de células, localizadas em diferentes regiões do cérebro, contribuem, cada uma de uma maneira diminuta e peculiar, para a geração de um produto cerebral final.

Os neurônios, e seus padrões de disparo probabilístico, podem participar simultaneamente de múltiplas populações neurais. Eles são capazes de participar da representação de múltiplos parâmetros motores e cognitivos, configurando, assim, a democracia neural: capacidade de populações distribuídas de esculpir cada um de nossos comportamentos.  


Ora, se a palavra milagre não tivesse sido apropriada indevidamente por outro ramo de negócios (...) a sociedade deveria licenciar o termo para uso exclusivo da neurociência.

É o que penso. Mas, por favor, compre e leia o livro.

Jubarte










terça-feira, 13 de setembro de 2011

Jubarte






Abrolhos ao fundo.

A riqueza das nações

A BBC fez uma animação mostrando, em quatro minutos, como as 200 nações se desenvolveram, ao longo dos últimos 200 anos, uma pesquisa assombrosa, que desmente os catastrofistas de plantão, e mostra um padrão consistente de aumento de saúde, riqueza e bem-estar em todos os países, em graus e velocidades variáveis. O Brasil aparece bem, mas sem brilho, no pelotão intermediário superior.


Ignoro a acuidade dos dados. Em qualquer caso, trata-se de trabalho fabuloso. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Oslo






Fotografara o dia inteiro, a começar pelo parque Vigeland, cujas esculturas professam uma forma de vida em bronze e granito. Depois, fui ao museu dos barcos vikings. O castelo da cidade, a ópera, o museu que apresenta o tradicional modo de vida norueguês: um dia frenético.

Oslo se recuperava da dolorosa agressão de um demente social, que chacinara 77 jovens, pretextando pureza religiosa, racial e ideológica. No fim de uma tarde plena eu caminhava contra o sol, desde o Huset, e toda a Oslo vinha de encontro, tristonha.

Nos rostos, dorida comunhão cívica, ao contrário do ódio incitado na América, dez anos antes. Saudei-os, em silêncio.


Cada um e todos eles com uma flor nas mãos.

Jubarte









Jubarte