sábado, 25 de outubro de 2008

Poema

Vou produzir um poema auto-evidente, sigilo em toda fome, notório. Um poema síndrome, padrão de toda dor, perdido. Um poema ansioso, difícil de sentir, angustiado. Vou produzir um poema que há de ser meu aparato e cópia minha imagem refletida, fugaz. Um poema que as editoras hão de recusar com entusiasmo. Depois vou me embrulhar nesse poema, esquecer a vida, dispensar os sentidos, desfazer-me em palavras. 23.02.2002.

Aos 30

algumas vantagens a contar: poemas algumas fotos (quantas válidas?) 1.000.000 páginas lidas muitas com entusiasmo outras com o nariz torcido outras com indisfarçável indiferença outras ainda com a sensação de dever cumprido. Aos 30 várias amizades confiscadas, outras entre famosos da literatura, e uma filosofia por se firmar. Parafraseando o capiau: não tenho tudo que amo não amo tudo que tenho não tenho tudo que tenho... mas que conversa aborrecida essa de ter e amar!

Tirania

Sob Bush e o vice-presidente Dick Cheney, a Constituição, a Carta de Direitos, o sistema judiciário e a separação entre os poderes sofreram ataques incessantes. Bush decidiu explorar a tragédia de 11 de setembro de 2001, o momento em que ele pareceu o presidente de uma nação unida, para tentar se colocar acima da lei. Bush reivindicou o poder de prender homens sem acusações e intimidou o Congresso a lhe conceder uma autoridade ilimitada para espionar os americanos. Ele criou um número incontável de programas "negros", incluindo prisões secretas e tortura terceirizada. O presidente emitiu centenas ou milhares de ordens secretas. Tememos que sejam necessários anos de pesquisa forense para descobrir quantos direitos fundamentais foram violados. Os dois candidatos renunciaram à tortura e se comprometeram a fechar o campo de prisioneiros na baía de Guantánamo em Cuba. Mas Obama foi além, prometendo identificar e corrigir as agressões de Bush ao sistema democrático. McCain se calou sobre o tema. McCain melhorou a proteção para os detidos. Mas depois ajudou a Casa Branca a aprovar o terrível Ato de Comissões Militares de 2006, que negou aos detidos o direito a uma audiência em um tribunal real e colocou Washington em conflito com as Convenções de Genebra, aumentando enormemente o risco para as tropas americanas. O próximo presidente terá a oportunidade de indicar um ou mais juízes para a Suprema Corte, que está prestes a ser dominada por uma ala de direita radical. Obama poderá indicar juízes menos liberais do que alguns de seus seguidores poderiam prever, mas McCain certamente escolherá ideólogos rígidos. Ele disse que nunca nomearia um juiz que acredite nos direitos reprodutivos da mulher. De quem é o texto acima, leitor? Noam Chomsky? Fidel Castro? Hugo Chavez? Meu? É o editorial do New York Times de apoio a Obama.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Borges e a realidade

Folheio o primeiro tomo das obras completas de Borges. Leio: (...)
"uma mula tordilha que anda pela chácara de Palermo, no limite desta cidade". Posso vê-la absurdamente clara e pequenina, no fundo do tempo, e não quero somar-lhe pormenores. Que nos baste vê-la sozinha: o confuso estilo incessante da realidade, pontuado de ironias, de surpresas, de previsões estranhas como as surpresas, só recuperável pelo romance, intempestivo aqui. Felizmente, o copioso estilo da realidade não é o único: há o da memória também, cuja essência não é a ramificação dos fatos, mas a perduração de traços isolados. Essa poesia é a natural de nossa ignorância e não procurarei outra.
Em outra passagem ele revela que: O mundo é um par de ternas imprecisões e:
confessei a estranheza do mundo.

Praga

Praga abandona-se em nossa memória e voga por aí, brincando com nossa inépcia.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Religião

O Globo de hoje:
ROMA - A religião é um "produto" da evolução do cérebro humano, de modo que a idéia de Deus, assim como os comportamentos religiosos, encontram seu fundamento no mundo real no qual o cérebro é predisposto a funcionar. A tese é do pesquisador americano Pascal Boyler, que publicou seu artigo na revista científica Nature. Boyler, professor do departamento de Psicologia e Antropologia da Universidade Washington, detalha em sua pesquisa que formas cognitivas predispõem o homem a praticar a fé religiosa.
"Um dia encontraremos as provas para demonstrar que nossa inata propensão ao pensamento religioso deriva do fato de que nossos antepassados tiravam disso uma vantagem evolutiva." Por exemplo, a tendência a criar imagens imateriais e a ver Deus como uma figura antropomórfica é explicada pelo hábito infantil de criar figuras semelhantes às reais em sua imaginação - aos moldes dos amigos imaginários. O pesquisador descreve que também os rituais religiosos seriam comportamentos padrão do cérebro humano, comportamentos estereotipados e repetitivos como os que ocorrem em distúrbios obsessivo-compulsivos, nos quais o fiel assume obrigações por sua crença, mesmo que não traga efeitos reais. Uma outra característica do cérebro humano que pode explicar alguns aspectos da religião, segundo Boyer, é a tendência a socializar, a tecer coalizões que vão além das relações de parentesco. Essa inclinação à vida em grupo cria a comunidade religiosa, que cria para si as regras próprias de cada crença. Segundo Boyer, não será descoberto o "circuito do pensamento religioso" ou os "genes da fé", mas constatamos que "a religião é um produto da nossa evolução". - Um dia encontraremos as provas para demonstrar que nossa inata propensão ao pensamento religioso deriva do fato de que nossos antepassados tiravam disso uma vantagem evolutiva - declarou o pesquisador. - Pensamentos religiosos parecem ser uma propriedade emergente de nossa capacidade cognitiva padrão. As informações são da Ansa

Poetas

O homem só deveria escutar a si mesmo no êxtase sem fim do Verbo intransmissível, forjar palavras para seus próprios silêncios e acordes audíveis apenas a seus remorsos. Mas ele é o tagarela do universo... E.M. Cioran in Breviário de Decomposição. Aos poetas foi dado nomear as aves marinhas e as flores da terra. Que ocupem seus postos. Outras coisas quiseram falar: vidamor, exorbitância. Tudo mentira, nada podem esclarecer. São poetas, apenas, não homens-força. Contribuem com o medo a lágrima quando em mais a aventura esses náufragos que bóiam na superfície do enredo agarrados a dicionário. Uns foram com o vento, espalharam-se; outros com a encantadora de serpentes. Quase poeta interagi com relâmpagos madrugada adentro. Poetas em metades, em quartos foram vistos emancipando semantemas, criando precedentes para a fuga que as palavras perseguem e nós, loucos, sancionamos. Poetas maduros preparam o café para a libação da rara poesia. Aos poetas foi dado, em secreta celebração sob sol e chuva, pedra de riscar nomes à luz das artérias. E um mapa para a criança primeira a ser achada no imenso dia, teu dia. Obs.: "vidamor" me veio independente, espontâneo, dezenas de anos depois de ter ocorrido a Drummond. Embora eu não pretenda que acreditem, uma solução poética pode, às vezes, ser reinventada, revisitada com tardança. Sinto-me honrado por essa estreita (e estrita) imitação do grande poeta, e resolvi mantê-la sem aspas. Campo Grande, 2000.

India

A velha Praga

Tasmania

Nova Zelândia

Maior ave marinha do mundo, o Albatros Real (Toroa maori) se divide em duas subespécies. Chegam a 3,3 metros de envergadura e 1,5 metro do bico à cauda. Cliquei esse rapaz nas cercanias de Dunedin, ilha sul da abençoada Nova Zelândia.

Nova Zelândia

Nova Zelândia

San Francisco

Como vencer o oceano?

Como vencer o oceano se é livre a navegação mas proibido fazer barcos? C.D.A, Rola Mundo, in A Rosa do Povo Agora é permitido fazer barcos mas proíbe-se navegar. Meus barquinhos apresento:

tão alvo o papel, vejo-os recusados. O mar está calmo, mas não consente embarcação. Em vão recorro à hidrodinâmica, às leis da terra e dos céus: há vedação em estatuto humano. Então lanço meus navios, a procurar em oceanos de sonhos. Janeiro/2002. II. Agora é proibido: embandeirar barcos navegar ou sonhar cabendo o escolho aos infratores. Então lanço-me em atavios a vogar em ermas marés. 13.12.02

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Havaí

Kauai: cânion admirável. Ilha mais antiga e desbastada do arquipélago. Navegamos um de seus rios. Maui: ilha dominada por imensa montanha, no centro. Estava encoberta pelas nuvens e se mostrou fria. Em dois mil anos o Havaí foi invadido por povos polinésios, pelos chineses, filipinos, europeus e, finalmente, pela mais implacável das criaturas: o turista.
A verdade é que, na breve história humana no arquipélago, a parte mais rósea – ou menos encarniçada – começou há cerca de dois séculos. Mesmo assim, não pode ser contada às crianças.

domingo, 19 de outubro de 2008

Richard Dawkins

Eu quis acreditar um deus que, ao contrário dos deuses em uso, públicos ou secretos, pudesse ser intuído de forma não-contraditória. No link acima, vídeo com Richard Dawkins, produção da BBC. Para mais informações sobre o eminente zoólogo, aqui.

China

Niagara Falls

Friozinho em Niágara (lado canadense).