domingo, 21 de setembro de 2014

A Prisão da Fé


Laurence Wright descreve, em tom jornalístico, a saga de L. Ron Hubbard e sua cientologia, o horrendo pesadelo que galgou o duvidoso status de religião, muito em função da incompetência do IRS, a receita federal norte-americana ("hostilidade tributária baseada nas escrituras", alguém definiu).

Hubbard era uma fraude ambulante. Em certa foto, ele aparece com um e-Meter, aparelho por ele inventado e usado para medir a "dor das plantas", entre outras coisas muito úteis.

Lá pelos anos 1960 a cientologia estava em gestação na cabeça atormentada de Hubbard e isso explica a apelação ficção científica da seita (quando comparada a uma de dois mil anos, por exemplo), mas principalmente explica a ausência de artefatos mais complexos, como os multiversos, inerentemente delirantes e perfeitos para um amontoadinho qualquer de tagarelices místicas.

À certa altura Hubbard ficou pra lá e pra cá em sua barcaça de 3200 toneladas, antes usada para transporte de gado, fatigando águas mundo afora com discípulos bovinos.

Procuraram tesouros escondidos na Sicília e Calábria; na Córsega, buscaram uma estação espacial subterrânea e muitas outras coisas do gênero fizeram, com sua Sea Org em orgias etílicas.

Após algumas peripécias, e uma sentença criminal de 4 anos à revelia, na França, Hubbard foi dar com os costados no Queens, onde passeava de peruca e chapéu, para evitar a polícia.

Em algum momento morreu, deixando um bando de seguidores desmiolados, e um empreendimento corrupto com fins lucrativos.

"A cientologia é, muito provavelmente, o culto mais implacável, mais classicamente terrorista, mais litigioso e mais lucrativo que o país jamais conheceu", sintetizou Cynthia Kisser.

Que dizer desses desatinos?

Pode-se pensar que essas seitas nascem da pura ignorância, mas esse pode não ser o caso. Os seguidores do Templo Solar, por exemplo "eram membros cultos e prósperos de suas comunidades, com família e emprego fixo; mesmo assim, tinham se entregado a uma fantasia mística de ficção científica que os transformou em assassinos, suicidas ou vítimas indefesas".

Apesar dos milhões de adeptos que a cientologia afirma ter, o Censo norte-americano estima em míseros 25 mil o total de americanos vítimas dessa sandice, metade da comunidade rastafári.

Concluo: se Hubbard foi um Hitler em busca de uma máquina de fazer dinheiro, Miscavige é um Stalin, com as bênçãos do IRS. Patético.