Sobre viagens, um relato (não sei com que grau de verossimilhança):
40º dia de viagem. O cabelo, pela nuca. Fernando, meu estilista, atende no Paraguai, não na Nova Zelândia. Após jogar-me de um avião, caindo por 2 minutos, e de um passeio a 100 km/h em lancha a jato, num furioso rio povoado por pedras inamistosas, uma cabeleireira cheinha me aguardava.
Ela começou com uma máquina sub-zero, que aplicava com grande convicção. Depois a trocou por outra, para um corte ainda mais impiedoso (senti que ela acreditava naquele corte, para o qual se preparara a vida inteira). Alguns movimentos enérgicos com uma tesoura e, sim, tudo estava consumado.
Sabem, a tolerância do meu cabelo para com erros é exatamente zero.
"Well, tenho dois bonés. Tranquilo, no más", reconfortei-me. Por insegurança, ou costume, comprei mais um.
"Que marmota é essa?" exclamou uma das moças da inspeção sanitária em Honolulu, dias depois, ao me comparar à fotografia do passaporte. "Acaso vieste zombar do povo havaiano?".
"Deveras divertido esse seu corte, em rodelas", retalhou a outra.
Sem ligar para o elogio, agendei com o Fernando: "Aparentemente fracassou esse seu corte neo-zelandês, será que não, Nhonho?
Tudo isso me lembra o método de um renomado estilista.
Nunca o vi cortar o cabelo de suas clientes - modelos famosas - mas, pelos resultados, fica claro que a operação toda não requer mais que um lança-chamas e um (opcional) extintor de incêndio. Ao estilo "que me carregue o diabo".
Arnaldo Antunes é outro que vive às turras com seu cabeleireiro. O que ele tem contra costeletas?
Bem, chega de experiências estilísticas.