sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Torres del Paine

Chego agora de Torres. Depois de duas horas e meia de onibus, chega-se à entrada do parque nacional. Daí, um transporte até uma hosteria. Essa é a parte fácil. Daí, à pé, montanha acima. A estrada começa com uma ponte dançante, que logo te sugere a encosta. Começamos a subir, eu e uma bonita americana, desafiando um vento fortíssimo, sem igual. Ela, que vinha de três dias nos andes peruanos e tem experiência em montanhismo, disse que nunca vira nada parecido. Muito menos eu. Alguns dizem que o vento pode chegar a 100 km/h. Para mim, ele partiu de 100 e deve ter chegado facilmente a uns 180 km/h, no mínimo. Nos agarrávamos às pedras (às pedras, vejam bem), corpo colado, pernas coladas, pés colados, tudo apoiado nas pedras, e o vento tentando nos convencer do abismo. Houve um momento, já quase chegando ao refúgio chileno, em que ficamos muito tempo sem dar um passo, agarrados às pedras, o abismo se abrindo à nossa frente, o vento açoitando, todo se rindo de nossa fragilidade. Mas aí chegamos, paramos um tempo para chocolates, frutas, castanhas, água, e depois partimos para a base das torres propriamente ditas. Caminha-se por um bosque muito agradável, com subidas e descidas suaves, e chega-se ao pé da morena. O argumento final dessa caminhada de 14 quilômetros é uma cascata de pedras com uns 600 metros de altura. Você tem de escalá-la, se quiser acercar-se dos maciços graníticos. Subimos, subimos, e nada. Uns japoneses, em descida, nos disseram que faltavam só "uns dez minutinhos". Sádicos. Subimos, subimos, e então chegamos, resfolegando. As três torres (quatro, na verdade), são como edificios gigantescos, perversos em sua verticalidade, com um lago por vezes verde em sua base. Não vou tentar descrevê-las, o que deixo às fotografias, mas afianço que são majestosas. O vento não te abandona um segundo, mas muda de direção. O tempo todo contra e, de repente, já quase no alto, começa a soprar a favor, empurrando para cima, induzindo pânico adicional, à vista de pedras gigantes, pouco amistosas. Mas foi fantástica a caminhada. Ficamos um tempão lá encima, tiramos vários fotos, que logo revelarei. Pausa para o lanche, mais fotos, e regresso. Na descida, uns italianos esbaforidos perguntaram quanto tempo faltava para o topo. "uns dez minutinhos", pois sim. Harvest, a americana, ficou no camping da base, aos pés das torres. Eu fiquei no refúgio, a 45 minutos pelo bosque. Aguardava-me um jantar o mais maravilhoso que já provei, haja vista a fome. Primeiro, uma sopa de legumes, a coisa mais saborosa, depois um frango com arroz, bem ao gosto brasileiro. Depois, uma sobremesa (com a fome domada, a sobremesa não me convenceu) e depois, cama. Dormi umas dez horas sem parar, e só acordei com a sinfonia de despertadores dos montanhistas, prontinho para o café-da-manhã. Nunca havia ficado em um refúgio de montanha, e a experiência de ver as torres através da alta vidraça, e os pingos de chuva, e um vento cortante lá fora são coisas difíceis de esquecer. Hoje eu poderia ter montado a cavalo, para ir à Lagoa Azul (de onde se avista as torres), mas preferi voltar a Natales e descansar. Amanhã volto ao parque, para outra aventura, dessa vez em outro refúgio. P. Natales, 14 de janeiro de 2005.

6 comentários:

Anônimo disse...

E ai Gerson,

Da forma como vc faz a narracao, esse lugar parece realmente fantastico.

Eu soh fiquei em duvida sobre "o corpo e pernas colados". Afinal vc ficou com o corpo e as pernas colados na americana ou na montanha???

:-))

Abraos...

Cesar

Manelim disse...

Cesar, seu tarado!

"corpo colado" se refere a necessidade de nao cair no abismo, so isso. Tudo o mais e fruto de uma imaginacao excesiva.


Um grande abraco (seu presente ja esta comprado, e logo chego ai).

Gerson

Anônimo disse...

Eita Gérson... engraçado que fiquei com a mesma dúvida do seu amigo César... haha, tem certeza que eram nas pedras que o corpo e as pernas estavam colados???!!!

Beijos

Keila (maninha)

Anônimo disse...

Ah! e kd o meu presente???!!! afinal meu aniversário é na quinta dia 24/02... num quero nem saber... trouxe pro César então tbm quero... haha

Bjs
Keila (maninha)

Anônimo disse...

Parabéns pelo Blog. Está tão fantástico que me deu vontade de fazer um parecido para mim.
Sua narração é sempre feita com estilo exemplar, bom humor e excelente critério de seleção de pontos de destaque dentre as diversas fatias do mundo que você tem percorrido.
Mais uma vez, parabéns por elevar o pensamento regional acima do tímido patamar corriqueiro.

Um grande abraço.

Manelim disse...

Júlio:

São muito gentis suas palavras, o que atribuo à nossa amizade (inclusive de longas viagens).

Meus relatos são como rapsódias: tento não fatigar realidades. Muitíssimo obrigado pelos comentários, talvez excessivos, já que escrevo sem qualquer compromisso ou projeto.

O blog está em construção, e breve pretendo incrementá-lo.

Um grande abraço.