Praha, capital da Tchecoslováquia, agora República Tcheca, é uma cidade do Leste Europeu cheia de encantos. Sua arquitetura medieval, rica em torres, capitéis e campanários, evoca talvez Florença, a sermos amigos de comparações.
A catedral Tyn, o torreão isolado no meio da rua, o Castelo de Praga: há um toque naturalmente sinistro nessas massas arquitetônicas que, se não vem de Kafka, o evocam ou, no mínimo, não o refutam.
Tampouco o que sobrou dos guetos negam o profundo escritor, autor de O Processo, A Colônia Penal e A Metamorfose, artífice dos mais sombrios pesadelos que já deram expediente no espírito humano.
A família do escritor foi assassinada nos campos de concentração, na década de 1940. Kafka morreu de tuberculose, aos 42 anos, apos intuir metaforicamente todos os terrores do Século XX, chefiá-lo literariamente e debelar nossas últimas ilusões. Foi o esteta superior daquele século, de uma desumanidade manifesta.
Praga está tomada de gratificados turistas. E cheia de música.
Volto agora das Quatro Estações, de Vivaldi.
Amanhã, o ossário de Sedlic e, quem sabe, jazz, à noite.
Praga, 22 de dezembro de 2005.
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