Josias de Souza arrombou a festa, de novo. Fez um comentário tão incisivo e inteligente que terei de reproduzi-lo, quase na íntegra:
Começa daqui a dez dias a campanha eletrônica. Candidatos vão ao rádio e á TV para seduzir você. Será o teatro de praxe. (...)
Ao votar em Collor, o eleitor imaginou ter escolhido um salvador da pátria. Descobriu depois que escolhera o absurdo levado longe demais. Ao optar por FHC, pensou ter votado na tese. Elegera, na verdade, a antítese. Ao escolher Lula, presumiu ter restaurado os bons costumes. Viu-se diante de um bordel partidário.
É provável que você se identifique com várias propostas dos candidatos. Desgraçadamente, isso não quer dizer nada. As modernas técnicas do marketing político põem ao alcance dos comitês de campanha ferramentas sofisticadas. Uma delas, chamada no jargão publicitário de “pesquisa qualitativa”, permite aos candidatos instalar uma sonda na cabeça do eleitor.
As campanhas, antes intuitivas, evoluíram para um esquema baseado em estatísticas. Encontrou-se uma forma de captar as vontades e as angústias da sociedade. Dá-se o seguinte: atraídos por salgadinhos, refrigerantes e brindes, grupos de eleitores são reunidos em salas fechadas. Ali, avaliam vídeos de campanha, discutem propostas de governo, condenam e aprovam candidatos.
Há nessas salas um vidro semelhante àquele que a polícia instala em cabines dedicadas à identificação de criminosos. A vítima vê o bandido, mas não pode ser enxergada por ele.
Nos ambientes preparados para a realização de pesquisas qualitativas, o eleitor é observado, do outro lado do vidro, por magos da publicidade eleitoral. Eles passam horas ouvindo e anotando as discussões travadas nos grupos.
O método permite aos candidatos afinar suas campanhas com a vontade do eleitorado. Na prática, as opiniões do eleitor são recolhidas, embrulhadas para presente e, depois, devolvidas ao dono na forma de comerciais de rádio e de TV.
A mesma tática é utilizada por grandes empresas. Antes de jogar um produto novo no mercado, elas testam o gosto do consumidor por meio dessas pesquisas qualitativas. A diferença é que, adquirindo um sabonete de má qualidade, você sempre poderá substituir por outro sabonete produzido pelo concorrente. Se escolher um presidente defeituoso, terá de consumi-lo por quatro anos. Portanto, atenção. Muita atenção.
(Escrito por Josias de Souza às 19h40)
Infelizmente, é verdade. Pesquisa qualitativa é o meio pelo qual o promotor de um produto qualquer (um político, por exemplo) se informa sobre o exato desejo do público-alvo. Não erra nunca.
Isto só empobrece a política, em crise.
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