quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Que porqueira

Rolf Kuntz, no Estadão de hoje: O presidente Lula promete não fazer distinção entre pocilgas. Atolado na campanha, ele faz um discurso de comício e ao mesmo tempo se apresenta como o governante acima das facções, ou, para seguir seu critério, o porqueiro supremo e imparcial. Não haverá, segundo ele, tratamento diferenciado para esta ou aquela porcada, municipal ou estadual, pouco importando as vinculações partidárias. "Você não pode deixar de dar comida para um porco porque você não gosta do dono do porco", disse o presidente na terça-feira, ao inaugurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na periferia de São Bernardo do Campo. O dono dos porcos locais, neste caso, é um petista, o prefeito Luiz Marinho, eleito, segundo Lula, graças à competência de Deus para escrever certo por linhas tortas. Antes de Marinho, disse o presidente, o PT perdia eleições por ser metido a besta e recusar alianças. Agora isso acabou. Alguém poderia levantar a mão e perguntar: por que discutir um assunto interno do PT na inauguração de uma unidade médica? A festa não é para todos? Os suínos não são todos iguais? Mas a mistura de assuntos - inauguração de um equipamento público, elogio a Marinho, crítica ao PT metido a besta e defesa das alianças - é esclarecedora. Serve como radiografia da cabeça presidencial. Mostra como ali se misturam, na maior promiscuidade, o público e o partidário, as questões de governo e os interesses meramente eleitorais. A distinção entre essas questões talvez tenha tido alguma importância para Lula, em algum momento. Mas deixou de ser mandatória há muito tempo. É apenas lembrada, como elemento de oratória, quando ele afirma, como em São Bernardo, a obrigação de cuidar de todos os porcos, sejam quais forem os donos.

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