Somente quem já teve a
necessidade de ser medicado com morfina pode entender o uso dessa droga. Nada
contra: sentir dores é pior, muito pior. O problema maior é que ela oculta a
doença. Faz com que as dores sejam suportáveis e desapareçam. Mas elas retornam
ao fim da dose ainda mais intensas.
Durante a paz da droga,
não se consegue enxergar um metro à frente. A ausência da dor é tão bem-vinda
que leva o usuário a esquecer do entorno.
Existe morfina para um
país? O Brasil mostra que sim. Um país não morre. Não desaparece. Sempre
renascerá no dia seguinte. O que leva uma nação a usar morfina? Quem receitou
esta droga que alivia dores e elimina a capacidade de raciocinar, interpretar e
tomar para si as decisões?
Acompanhamos mares de lama
que nos afogam. Somos instados a escolher entre o bandido da Suíça e o canalha
de São Bernardo.
Como no conforto do
opióide, deliramos acordados. E ignoramos que há um mundo fora da agulha no
braço.
Quem está inebriado se
esquece que a dor maior vem depois. O fim do efeito da anestesia é o começo do
pesadelo.
O Brasil está anestesiado,
viciado em morfina. As doses são sempre mais elevadas.
Um mal é substituído por
outro. A terapia não busca a cura. Só prolonga a sobrevida.
Até quando? Um país não
morre. Mas o país somos nós. E nós somos finitos. Com ou sem morfina.
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