Há muitos domingos escondidos sob a aparência enganosa de um único domingo. Nos meus cabem leitura e dúvidas. Os jornais mentem com assombrosa lealdade. Às vezes os troco pela tela plana, que dá para o mundo.
Rarefeito em minha casa, meus móveis assumiram que eu não existo e que a multiplicação de exauridos jornais é fenômeno inexplicável (confidenciou-me a cômoda).
Eles são reais, mas, sem mim, também carecem de verosimilhança. Em verdade, durante as muitas viagens eles existem, mas emitem estranha escuridão, e se rearranjam um pouco menores, no que divergem, algo desairosamente, dos leais móveis que sonhei para meu apartamento.
Desconfio que também eu divirjo nessas quase viagens, e ao não me encontrar reagrupo-me em tantas formas de quereres; sou levado a assumir valores não neutros de saudade.
Na gira do mundo, assiste em mim outra pessoa, titular de paixões e vagares.
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