Decorrido mais de um ano do escândalo do mensalão, Delúbio Soares mantém-se em obsequioso silêncio. Trancado em seus rancores, carrega sozinho todas as culpas –as particulares e as alheias.
É eloqüente a mudez de Delúbio. Convém dar ouvidos ao seu silêncio. Apurando-se os tímpanos, pode-se escutar a denúncia embutida na ausência de manifestação do ex-gerente de arcas.
Há virtude no silêncio de Delúbio. As palavras que ele não diz gritam que o país foi governado sem método. Alardeiam o uso de meios que não justificam os fins. Bradam o emprego de táticas vis.
Silvinho Pereira, um sub-Delúbio, ousou triscar os lábios no trombone. Um emissário do politburo chamou-o à razão. E ele se fez de doido. Melhor assim. Os 53 milhões de eleitores vitoriosos em 2002 não suportariam a condição de cúmplices involuntários.
Há utilidade no silêncio de Delúbio. Sua quietude ajuda a amplificar pequenos rumores. Ruídos como o que foi produzido no último encontro nacional do PT. De tudo o que já foi dito acerca das perversões do petismo, nada soou mais desconcertante do que a decisão de adiar sine die o julgamento dos que conspurcaram a legenda.
O desaparecimento da voz de Delúbio pôde berrar ainda mais alto. Proclama que a história não-contabilizada do PT conduz o governo petista da prometida Canaã ética para algum obscuro inferno de depravações.
Há compaixão no silêncio de Delúbio. É graças a ele que o país pode conviver com a figura inacreditável do presidente cego. Mais do que nunca, entende-se a profunda grandeza das respostas que Delúbio vem calando há mais de 12 meses.
A mensagem invisível de Delúbio, expressada no silêncio de dezenas de entrevistas negadas, é cristalina. Informa que remoer o escândalo significaria trazer à tona um Luiz Inácio indigno do velho e bom Lula da Silva.
Há sabedoria no silêncio de Delúbio. Sem ele, a nação teria de conviver com a imoralidade do presidente conivente. Teria de enfrentar o escárnio do governo inaceitável. Teria de encarar a vergonha do Estado ocupado por saqueadores.
Há higiene no silêncio de Delúbio. Com sua mania deletéria de espiar pelas frestas de fatos idos, jornalistas, procuradores e outros desocupados apenas tentam remoer lixo. Não há do outro lado senão cenas de uma película sem mocinhos. Um filme cuja reprise inspiraria ânsia de vômito.Um brinde, portanto, à insanidade de Silvinho! Uma salva de palmas às meias-verdades de Marcos Valério! Loas ao silêncio de Delúbio, a cada dia mais ensurdecedor!
Josias de Souza perpretou essa maldade às 22h46 de ontem. Não devia. Estou cada vez mais alarmado com jornalistas metidos a falar "cousas". O estilo é raro, sóbrio e límpido. Seria lícito um estilo quase poético para falar de política? Não importa...
* a foto acima foi tirada numa aldeia indígena próxima a Manaus.
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