quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Urnas eletrônicas

Ubaldo Ribeiro disse, mais de uma vez, não confiar nas urnas eletrônicas brasileiras - "urnas americanas" -, nas quais nem os americanos confiariam.
Com seu jeito de ébrio humilde, Ubaldo conta com a boa vontade do leitor. Abusa, nesse caso.
Fisicamente falando, as urnas eletrônicas são um microcomputador, dos mais modestos, que roda um programa simplificado do Windows, (o mesmo de um palmtop). Nesse sentido, como todo microcomputador do planeta, a urna brasileira é "americana". Norte-americana? Talvez estadunidense, mas Ubaldo não atina com o gentílico.
A urna eletrônica não é senão um conceito, uma forma de trabalhar dados. Consiste de um microprocessador estanque (não conectado a nenhuma rede) e que trata o problema da coleta do voto com uma abordagem aritmética: o eleitor tem de saber números. O que ela faz é reunir o colégio de eleitores da seção (400 eleitores, em média) e o nome e número de todos os candidatos da eleição em questão. Alguns operadores lógicos (teclas confirma, branco e corrige) ajudam a fechar o quadro.
Ubaldo arenga que, não havendo a "materialização" do voto em papel, não há como aferir a "sinceridade" da urna; não há como recontar os votos. Ubaldo já fez "recontagem" de todos os créditos e débitos que brotam em sua conta bancária? Ou será que transação eletrônica é avançado demais pra ele?
Pobre Ubaldo.
Deixando os argumentos técnicos para os técnicos, vamos a um exercício. Lula não fei eleito no 1º turno, como esperava. Marco Aurélio e sua gangue de técnicos torturadores de bits devem ter amestrado as urnas na direção tucana, será que não? Então, por que Lula não abriu o bico, sendo presidente da República? A resposta, claro, é que Lula foi comprado pelo PSDB, como Marco Aurélio (e eu e você, leitor).
Na Bahia o candidato petista venceu no 1º turno, ao contrário do veemente vaticínio das pesquisas. Lula comprou o TRE da Bahia, está claro. Então, por que Painho não mete a boca? Painho foi comprado por Lula, é evidente...
Como, diabos, essa urna consegue o silêncio de todos os políticos derrotados, instituições, especialistas? Só pode ser lavagem cerebral, ou então todo mundo comprou todo mundo... Coisa de "americanos", não pode haver dúvidas. Em toda essa história, muito suspeita, só confio em Brunazo. Mas, esperem, Brunazo não é o cara que reivindicou a "invenção" da urna eletrônica? Que maroto, esse Brunazo. Sai por aí inventando urnas eletrônicas e depois quer nos convencer de que não são seguras...
Ubaldo diz que os "americanos" não usam nossas urnas. Pudera: eles estão ocupados demais com máquinas de cartão perfurado, tecnologia avançada, inventada por Charles Babbage, por volta da independência norte-americana, há 220 anos... Também é verdade que eles não se interessaram pelo Protocolo de Quioto, pelo Tribunal Penal Internacional, pela convenção que proíbe prisões sem o devido processo legal e outras frescuras sem a menor importância, a menos que você seja comunista. Você não é comunista, não é mesmo, leitor?
Elio Gaspari, na Folha de 2.10.06:
Na segunda-feira, com aquelas olheiras que só a adversidade eleitoral produz, 'nosso guia' se candidatou ao lugar de coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Fez isso quando tratou do dossiê Vedoin e disse o seguinte: 'Eu quero saber quem arquitetou essa obra de engenharia para atirar no próprio pé'. Quer? Pergunte a Ricardo Berzoini e a Aloizio Mercadante. Eles podem ajudar.
Ao tratar de um crime como curiosidade, Lula assumiu a condição de padrinho dos malfeitores petistas, aloprados e trambiqueiros. Padrinho no sentido da figura de Don Corleone/Marlon Brando.
E viva a urna americana!

Nenhum comentário: