A Revolução Francesa, em princípio uma revolta da municipalidade de Paris contra a fome generalizada, solapou os fundamentos do Estado e trouxe a ruína para a pequena elite que orbitava a monarquia, inepta. A Convenção enfeixou o que hoje chamaríamos de funções executivas, legislativas, judiciais e do ministério público. Quem a controlasse, controlaria a França. Os poderes do rei foram minguando, minguando, até que nada restou. Ele fugiu, mas, também nisso foi inepto. Preso ao tentar chegar à Alemanha, sua sentença de morte era questão de dias.
O limitado Luís XVI e a vasta França, vítimas do encantamento mórbido da Revolução, enfrentam-se.
Após três votações da Convenção revolucionária, ele avança para a borda do cadafalso, com o rosto muito vermelho, dizendo: “Franceses, morro inocente: é do cadafalso e prestes a comparecer perante Deus, que vos digo isto.”
Atam-no à prancha. Numa página dramática, o Abbé Edgeworth profere esta imortalidade: “Filho de São Luís, sobe ao Céu”.
Cai o cutelo com um som áspero; e é cortada a vida dum rei. É segunda-feira, 21 de janeiro de 1793. Tinha trinta e oito anos.
O imperador pagão pergunta à sua alma: Para que lugares vais partir? O rei católico deve responder: Para a barra do julgamento do Altíssimo Deus!
Morto o monarca, o país galopa em vertiginosa insensatez.
1. Danton x Robespierre
Um Danton, um Robespierre, produtos principais duma revolução vitoriosa, chegavam agora à presença inadiável um do outro; têm de resolver como hão de viver juntos, governar juntos. Concebe-se facilmente a profunda incompatibilidade mútua que dividia os dois; com que terror de ódio feminino a pobre fórmula verde-marinho olhava para a monstruosa e colossal realidade, ficando mais verde ao contemplá-la (...)
Robespierre,
não um homem, com o coração dum homem, mas um pobre pedante espasmódico e incorrutível, com uma fórmula de lógica em vez de coração; de natureza jesuítica ou metodista; cheio de hipocrisia sincera, de incorrutibilidade, de virulência e poltronice; estéril como o vento do Leste! Dois produtos tais são demasiados para uma só revolução.
Incomodado com a rivalidade na liderança do Diretório ele alcança Danton.
Um amigo de Danton o desperta com a notícia de que um mandado estava feito contra ele. Em vão os amigos e a esposa tentam fazê-lo fugir para a segurança. “Não se atreverão”, ele diz, mas, na manhã seguinte, corre o boato da prisão do Titã da Revolução. Atreveram-se.
Ao Tribunal:
Faz doze meses que eu propus a criação desse mesmo Tribunal Revolucionário. Disso peço perdão a Deus e aos homens. São todos irmãos Cains; Brissot ter-me-ia mandado guilhotinar como Robespierre agora manda. Deixo tudo numa confusão tremenda; nenhum deles entende nada de governo. Robespierre seguir-me-á: eu arrasto Robespierre. Oh, preferível ser um pobre pescador a metermo-nos a governar os homens.
Devido à eficácia revolucionária, Danton esteve apenas três dias na cadeia. Às perguntas de presidente do tribunal revolucionário – Tinville – respondeu:
Meu nome é Danton e minha residência será em breve no nada: mas viverei no Panteão da História.
Carlyle reserva-lhe estas palavras:
Apenas por uma questão dum fio de cabelo, pode haver uma reviravolta súbita, trocando de lugares réus e juízes, e ficando alterada a História da França! Porque em França, o único que pode tentar ainda governar (...) é este Danton. Ele é o único, (...) e talvez aquele outro indivíduo cor de azeitona, o oficial de artilharia de Toulon.
Não por nada esse indivíduo era Napoleão.
Nada de fraqueza, Danton! É o dia da grande morte: não há como os mortos, que não voltam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário