quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Amtrak

Lembro-me que paramos nos fundos de umas casas não muitas milhas depois de termos parado em Anaheim. Que, por sua vez, fica colada em Los Angeles. Casas bonitas, quintais aconchegantes, onde se criam galinhas. São muito prazerosas essas paradinhas, de quando em quando. Inda mais porque aleatórias e sem previsão de duração. Você anda um pouquinho e, de repente, nos fundos de uma insuspeitada casinha de subúrbio, pára e desfruta a vista por meia hora, quem sabe mais. Impossível saber quando será a próxima parada, pela qual fica-se torcendo. Só se sabe que será em breve, anyway. Nesse período, explorei as possibilidades do trem. Descobri uma tomada na parede, e lá pluguei o ipod, para a recarga. Com a multiplicação das paradas, fui plugando outros apetrechos: o laptop, a máquina fotográfica, o barbeador, as baterias, outra máquina. Lá pela metade da viagem a tralha elétrica, que há cinqüenta dias aguardava a vez, estourava de tanta carga (fato assaz surpreendente e divertido, sem dúvida). Embarque. No longo corredor, nenhuma informação sobre San Diego. A quem perguntei, ninguém nunca ouviu falar de um trem que para lá se dirigisse; também acharam improvável a existência de uma plataforma para semelhante composição. Ademais, aduziram, que necessidade eu tinha de ir justamente para um lugar tão difícil, na lógica dos trens? No bilhete, nem uma única letra deixava transpirar a plataforma, trem, baia, estação, horário, nada. Encontrei dois funcionários da empresa, mas eles foram acudir uns imigrantes, que não tinham a menor idéia do que faziam naquela estação. Subi para uma das plataformas. Um trem fantasma de cada lado da plataforma, com motores ligados. Ninguém a bordo. Nem ao lado, nem longe nem perto. Nisso chega uma senhora com uma criança. Sim ela não sabia de nada. Chegou outro mexicano, indagando sobre aquele estranho trem, de motores ligados. Não, eu não sabia se aquele trem ía para San Diego. “Como eu iria saber uma coisa dessas?”, disse-lhe. Desci as escadas e fui para outra plataforma, cheia de gente. Eles obsequiavam um trem, com motores ligados. Lá me informaram o endereço do trem de San Diego. Plataforma 10. Exatamente onde eu estava anteriormente. Chega um trem, vagaroso, vindo do norte. Os passageiros receberam ordem de descer, para fumar. Indaguei sobre o destino. A pergunta tocou um assunto secreto, delicado ou penoso, porque ninguém quis ou pôde dizer para onde ía aquele trem, mas o maquinista, flagrado no ato de subir à sala de controle, decretou: "Engana-te. Vamos para San Diego!".
Definitivamente. O número da composição de modo algum correspondia ao anotado pela moça do guichê, quando lá voltei, em desespero de causa. Nem o horário. Poder-se-ía concluir, com base nesse exemplo, que os americanos estão 600 ou 700 anos atrás dos europeus, em transporte ferroviário. Isso de transporte ferroviário, não sei nada, de modo que me abstenho de contribuir com uma opinião. Em todo caso, um de meus guias diz que os trens estão em decadência nos Estados Unidos. Well, receio não ser possível cair mais que isso... Amtrak: presentei um seu inimigo com uma passagem. San Francisco a San Antonio...

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Gerson!
Pelo visto vc adorou a viagem de trem!!! Conte-me sobre o balão! Por aqui está tudo bem, só volto a trabalhar dia 6. Estou ficando intediada! Segui o seu conselho e fui à Chapada. Achei maravilhoso!! Bom retorno! Abraços.

Anônimo disse...

Grazi:

pra variar, o balao nao voou (ou, se o fez, nao me chamaram).

Hoje vou para San Francisco, na ultima etapa da viagem.

Abs,