quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Que porqueira

Rolf Kuntz, no Estadão de hoje: O presidente Lula promete não fazer distinção entre pocilgas. Atolado na campanha, ele faz um discurso de comício e ao mesmo tempo se apresenta como o governante acima das facções, ou, para seguir seu critério, o porqueiro supremo e imparcial. Não haverá, segundo ele, tratamento diferenciado para esta ou aquela porcada, municipal ou estadual, pouco importando as vinculações partidárias. "Você não pode deixar de dar comida para um porco porque você não gosta do dono do porco", disse o presidente na terça-feira, ao inaugurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na periferia de São Bernardo do Campo. O dono dos porcos locais, neste caso, é um petista, o prefeito Luiz Marinho, eleito, segundo Lula, graças à competência de Deus para escrever certo por linhas tortas. Antes de Marinho, disse o presidente, o PT perdia eleições por ser metido a besta e recusar alianças. Agora isso acabou. Alguém poderia levantar a mão e perguntar: por que discutir um assunto interno do PT na inauguração de uma unidade médica? A festa não é para todos? Os suínos não são todos iguais? Mas a mistura de assuntos - inauguração de um equipamento público, elogio a Marinho, crítica ao PT metido a besta e defesa das alianças - é esclarecedora. Serve como radiografia da cabeça presidencial. Mostra como ali se misturam, na maior promiscuidade, o público e o partidário, as questões de governo e os interesses meramente eleitorais. A distinção entre essas questões talvez tenha tido alguma importância para Lula, em algum momento. Mas deixou de ser mandatória há muito tempo. É apenas lembrada, como elemento de oratória, quando ele afirma, como em São Bernardo, a obrigação de cuidar de todos os porcos, sejam quais forem os donos.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Machu Pichu

Machu Pichu, cidadela inca que floresceu pouco antes de os espanhóis chegarem com seus cavalos e germes, é o maior sítio arqueológico da América do Sul. Impressionante, eu diria, para uma civilação que sequer conhecia a roda. Se o leitor quer saber mais, clique aqui.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Kakapo

Infelizmente, disse Douglas Adams, o kakapo não só esqueceu como se voa, mas também não se lembra de que esqueceu como se voa. Às vezes um kakapo dá a impressão de estar seriamente preocupado, sobe correndo numa árvore, salta lá de cima, voa como um tijolo e se estatela feita uma trouxa no chão.

O kakapo (Strigops habroptilus) é uma espécie de papagaio noturno, endémico da Nova Zelândia, notável por ser a única espécie da ordem Psittaciformes incapaz de voar. O seu nome comum significa papagaio da noite em maori. O kakapo é uma ave em em perigo crítico de extinção, com uma população total de apenas 86 exemplares, todos eles monitorados por equipas científicas.

O kakapo é um papagaio de constituição robusta que pode medir até 60 cm de comprimento e pesar entre 3 a 4 quilos, um valor relativamente elevado em relação a outras aves do seu tamanho e que só é possível por ser não voadora. As asas são atrofiadas e pequenas e servem apenas como balanço quando estas aves circulam entre ramos de árvores. A ausência de músculos de voo faz também com que o esterno seja relativamente reduzido por relação ao seu tamanho.

A plumagem do kakapo providencia uma boa camuflagem contra a vegetação nativa e é em tons de verde-seco, listado de preto na zona dorsal, sendo a zona ventral e garganta de cor amarelada. Como não têm penas de voo rijas, os kakapos têm uma plumagem muito suave e macia, o que lhes valeu o epíteto específico habroptilus, que significa precisamente pena suave em Grego. Os kakapos têm penas especializadas na zona do bico, que servem a função de bigodes sensoriais e lhes permitem um melhor reconhecimento do ambiente durante a noite, o seu período de actividade. Como complemento, estas aves têm um sentido de olfacto muito apurado.

Outra característica distintiva dos kakapos é o seu odor intenso, descrito como uma mistura de flores e mel. Apesar de agradável ao nariz humano, este odor provou ser uma enorme desvantagem para a espécie com a introdução dos primeiros predadores, que depressa aprenderam a reconhecer o cheiro do kakapo. Quando em perigo, o kakapo fica paralisado à espera que a sua camuflagem o proteja dos predadores, o que pode ter funcionado com as águias-de-haast e outras aves sem olfacto, mas representava uma estratégia perigosa junto de mamíferos de nariz apurado.

Os kakapos são aves herbívoras que se alimentam de várias espécies nativas da Nova Zelândia, consumindo sementes, frutos e pólen. A sua fonte de alimento favorita é o fruto do rimu, uma árvore endémica do seu habitat. Ocasionalmente, os kakapos podem também alimentar-se de insectos e outros pequenos invertebrados.

Fonte: Wikipedia. Citação de Douglas apud R. Dawkins.

Torres del Paine

Geleiras do entorno de Torres.

Nova Zelândia

Olha, mãe, sem rodinhas!

Chapada Diamantina

Francamente não me lembro se jogaram, ou não, esse gajo lá de cima.

Paul Krugman

O prêmio Nobel Krugman passa, com a ironia que lhe é peculiar, em revista os últimos dez anos, no Estadão de hoje. Citarei um discurso feito em 1999 por Lawrence Summers, então vice-secretário do Tesouro (e hoje principal economista do governo Barack Obama): "Se me perguntarem o motivo por trás do sucesso do sistema financeiro americano", disse ele, "minha leitura seria que não existe inovação mais importante do que os princípios contábeis amplamente aceitos: eles significam que todos os investidores recebem informações apresentadas numa base comparável; que há disciplina entre os administradores das empresas em relação à maneira com que relatam e monitoram suas atividades". E ele foi além, declarando existir "um processo contínuo que é afinal responsável pelo funcionamento do nosso mercado de capitais e pela estabilidade desse funcionamento". Eis, portanto, a crença sustentada em 1999 por Summers - e, para ser franco, também por praticamente todos os demais envolvidos no governo: os EUA contam com uma contabilidade corporativa honesta; isto permite que os investidores tomem decisões sábias, e também obriga os administradores a se comportarem de maneira responsável; o resultado disso é um sistema financeiro estável e plenamente funcional. Quanto, de tudo isto, se mostrou verdadeiro? Zero. Entretanto, o mais impressionante em relação à década passada foi a nossa indisposição, enquanto país, em aprender com nossos próprios erros. Mesmo enquanto a bolha das empresas pontocom murchava, banqueiros e investidores crédulos começaram a inflar uma nova bolha imobiliária. Mesmo depois que empresas famosas e admiradas como Enron e WorldCom revelaram-se farsas de fachada construídas sobre a criatividade contábil, analistas e investidores acreditaram nas afirmações dos bancos sobre sua própria solidez financeira e caíram na empolgação criada em torno de investimentos que não eram capazes de compreender. Mesmo depois de terem detonado um colapso econômico mundial, e precisarem recorrer a um resgate pago pelo contribuinte, os banqueiros rapidamente retomaram sua cultura de bonificações gigantescas e alavancagem excessiva. Temos também os políticos. Mesmo agora, é difícil extrair dos democratas, incluindo Obama, uma crítica sem meias palavras contra as práticas que nos levaram à situação atual. E, quanto aos republicanos: agora que suas medidas de corte de impostos e redução da regulamentação nos levaram a um desastre econômico, sua receita para a recuperação consiste em: cortes de impostos e redução da regulamentação. Assim, vamos nos despedir sem saudades do Grande Zero - a década em que nada realizamos e nada aprendemos. Será a próxima década melhor? Permaneçam sintonizados. Ah, e feliz Ano Novo.

Machu Pichu

Terraços. As batatas subiam ao parecer das nuvens.

Machu Pichu

A majestosa cidadela dos incas, recuperada à humanidade por um aventureiro, alpinista social e depois senador chamado Hiram Bingham.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Blackbird, o supremo espião


Passei a adolescência cultivando a amizade de aeronaves militares. Muitas linhagens civis também me cativavam. Um apego a jatos militares, caças, modelos aeronavais: um mundo apolítico, repleto de armas voadoras. Perdoe o leitor o aborrecimento dessas memórias, e a descrição de algumas dessas máquinas. O texto é baseado na revista Aviões de Guerra, editada pela Nova Cultural na década de 1980. 

A força aérea americana, de longe a mais importante do mundo, designa seus aviões de superioridade aérea (caças), pelo prefixo F, seguido de um número. O supercaça F-15 Eagle foi o mais importante avião de guerra do mundo durante mais de 25 anos. Era o único capaz de iniciar uma corrida supersônica na vertical; perfeito em qualquer quesito, ainda está em serviço, mas começa a ceder o lugar para o impressionante F-22 Raptor. Ao lado dos caças, temos os bombardeiros: dentre eles, o B-1B Lancer, monstro do ataque nuclear, ainda em serviço, e o Mirage IVP, gigante francês da dissuasão nuclear, já aposentado. 

A mais espetacular aeronave já construída, o SR-71 Blackbird, servia à espionagem. Inspecionei-a no convés de vôo do porta-aviões Intrepid, lasso vaso de guerra estacionado no rio Hudson, em Manhattan. Mesmo ali, despido da mística de hangares secretos, impregnou-me a vertigem de seus vôos de espionagem sobre territórios inimigos, nunca admitidos; acometeu-me um tremor, próprio de quem presenciou a sinistra ascensão desse monstro negro de 85 toneladas. À guisa de propulsores, dotou-lhe a Lockheed de duas explosões estelares, que emitiam fúrias de fogo. O avião sintetiza o gênio militar aplicado à engenharia aeronáutica. Eu me deliciava com os detalhes de sua construção e características, e com os relatos de sua operação, um minucioso roteiro de delírios. 

A ninguém que o tenha visto operar num dia chuvoso deixou de ocorrer que o monstro, tirante a raia, tem predicados que o situam entre o tubarão mais senhoril e a cobra mais ameaçadora. Daí, talvez, seu apelido, Habu, agressiva cobra da ilha de Okinawa. Ele voava a 3.500 km/h, a mais de 25.000 metros de altura, ou 85.000 pés. Especula-se que podia superar mach 3,5, e chegar a 30.000 metros de altura. Esses dados sugerem o esforço de engenharia envolvido em sua construção: Uma vez que fica sujeito a temperaturas de 500°C em velocidade de cruzeiro, o avião é construído com resistentes ligas de titânio. Mesmo assim, para fazer face à expansão do material, o revestimento das asas é corrugado: em vôo, as ondulações “alisam”, e os interstícios se fecham; frio, no solo, o Blackbird deixa vazar grande quantidade de combustível. O regime de altas temperaturas também exige o emprego de outros materiais exóticos e caros, que vão desde o revestimento de prata nos pneus até o fluido hidráulico sintético que praticamente solidifica abaixo de 30°C. 

A aeronave, uma raia malvada que jurou os céus, consiste na união de uma fuselagem achatada a uma asa-delta, subordinada a dois enormes reatores Pratt Whitney, que geravam 15 toneladas de empuxo, em pós-combustão plena. Únicos no mundo, esses motores mudavam de ciclo a 3.220 km/h, quando os compressores se tornavam desnecessários, e o aparelho seguia em ramjet, sempre furioso. Paradoxalmente, nessa velocidade ele requeria apenas 1/10 do empuxo total, trabalhando próximo do conceito de estatojato, em que compressor e turbina são dispensados. O combustível, a 316°C e sob violenta pressão, simplesmente aspergia a ultradensa coluna de ar e explodia, gerando a tremenda força necessária para todas as injúrias do monstro. 

Os preparativos para uma missão tomavam quase um dia inteiro. Enquanto a tripulação vestia trajes espaciais e respirava oxigênio puro, para eliminar o nitrogênio do corpo, a equipe de terra aquecia o fluido hidráulico. O embarque ocorria uns trinta minutos antes da decolagem, com os motores já ligados pelo pessoal de terra. Tinha início um longo processo de checagem, que terminava com a aceleração de cada motor até o máximo de sua força, sem a pós-combustão. Na decolagem, um comboio de veículos de observação fazia uma última inspeção, e um diria tratar-se de um desfile. 

O Blackbird era vigiado, nos pousos e decolagens, por um helicóptero, apelidado “Pedro” (em referência ao apóstolo). A corrida era rápida: em afterburn, os brutais motores faziam o monstro negro e trovejante avançar sobre a pista, enquanto as janelas da base estremeciam e um leve tremor tomava conta da terra. Após toda sorte de ignorâncias ele despegava, a 740 km/h, e subia sem dar confiança a seus pajens, insultando a base com poderosas línguas de fogo e um intolerável trovejar. Desaparecia rapidamente do campo visual da multidão de curiosos, que provocava grandes engarrafamentos na autopista vizinha, em Okinawa, destacamento de onde partia para vigiar os clientes preferenciais: Coréia do Norte, China, Vietnã. Subia quase verticalmente, até 25.000 pés, para se encontrar com um avião-tanque, já que o perdulário consumia todo o combustível no esforço da decolagem. Após o lanche (45.000 litros), o Blackbird subia até 33.000 pés e, num insensato mergulho de 3.000 pés, quebrava a barreira do som, retomando, então, a longa marcha até a altitude de serviço. Na subida final, nada podia fazer o SR-71 parar. 

A missão. Alcançada a altitude operacional (18.000 metros), a tripulação desligava os instrumentos de rastreamento de solo, e as comunicações eram desviadas para freqüências confidenciais. O avião se orientava por um sistema astro-inercial de precisão extrema, que trabalhava rastreando as cinqüenta estrelas de seu catálogo. As missões eram feitas em curvas suaves sobre a área de interesse, já que o raio de giro mínimo do aparelho era de 260 a 290 km, a mach 3. Nas altitude e velocidade de cruzeiro o avião ficava instável, e o piloto automático comandava quase totalmente. Mesmo em vôo “manual”, um sistema de aumento de estabilidade de oito canais corrigia as oscilações do aparelho. Era necessário, ainda, que um mecanismo selecionasse os coeficientes e as deflexões dos elevons, internos e externos. O avião padecia de instabilidade inerente quando ganhava ou perdia altitude e simultaneamente dava guinadas; a centragem não podia ser obtida senão bombeando combustível para frente ou para trás do negro corpo. Não chegava a ser como o impensável vetor nuclear B-2 Spirit, a asa voadora, comandado por uma junta de computadores, quadruplamente redundantes, que vota a cada microssegundo a atitude de vôo. Misteriosas, as missões duravam de duas horas e meia a cinco horas, e podia incluir cinco reabastecimentos em vôo. 

O SR-71 era ideal para trabalho fotográfico, e cobria um país, em pouco tempo (suas câmeras fotográficas oblíquas focalizavam 113 km de cada lado; ele podia varrer 259.000 km² por hora). Bem adaptado para Elint (espionagem eletrônica) e obtenção de imagens por radiação infravermelha ou por radar, não era muito bom em Comint (espionagem de comunicação), porque simplesmente não permanecia tempo suficiente no mesmo lugar para ouvir uma conversação inteira. Diferia radicalmente do U-2, o rei da Comint, utilizado pela CIA, capaz de vadiar durante horas ao redor de uma área, assuntando a conversa alheia. Pintado de cinza escuro fosco, em velocidade de cruzeiro o supremo espião tornava-se azul, talvez pelo acúmulo de iras, e não podia ser visto acima de 12.000 metros. Incontáveis mísseis se perdiam, desolados, no espaço onde um SR-71 tinha acabado de passar. Deslocando-se a aproximadamente 50 km/min ele simplesmente era mais rápido que os mísseis que deveriam interceptá-lo. Teria sido inteligente fazer uma barragem de mísseis à sua frente, provocando um choque, mas a estratégia nunca foi tentada. 

Frente a mim, apesar de seus bordos de ataque, descomunais cutelos que ardiam a quase 500°C em velocidade de cruzeiro; apesar de sua alma furtiva e inclinada a sigilos, o monstro estava dócil, e cabia um carinho. No frio intenso do inverno novaiorquino, escaparam homenagens ao feroz pássaro negro, síndico-geral dos céus durante tanto tempo. Nas alturas em que operava o céu é escuro, e vigem estrelas abandonadas. Rendi sofridas homenagens a esse senhor dos céus, namorador de estrelas, vetor de todas as espionagens e de vastas insolências. Campo Grande, 27 de novembro de 2005.

Queenstown

Descendo para o Shotover, arredores de Queenstown.

Nova Zelândia

Abel Tasman Park

Abel Tasman, no dia seguinte ao tsunami.

Floripa

sábado, 17 de outubro de 2009

Sapito

Saramago

Saramago, no Estadão de hoje: O senhor ainda sente necessidades de ajustar contas com Deus, mesmo acreditando que ele só existe na cabeça das pessoas? Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele creem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que durante a eternidade anterior ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe para onde. O cérebro humano é um grande criador de absurdos. E Deus é o maior deles.

sábado, 4 de abril de 2009

Paul Krugman

(...) a China optou em lugar disso por manter mais ou menos fixa a paridade entre o yuan e o dólar. Para tanto, o governo tinha de comprar dólares à medida que estes inundavam o país. Com a passagem dos anos, os superávits comerciais continuaram subindo - e o mesmo aconteceu com a reserva chinesa de ativos estrangeiros. Será que havia uma estratégia profunda por trás desse acúmulo de ativos de baixo rendimento? Provavelmente não. A China adquiriu sua imensa reserva de US$ 2 trilhões - o que transformou a República Popular em República dos Títulos - da mesma maneira que os britânicos adquiriram seu império: em um ataque de distração. E não muito tempo atrás, ao que parece, os líderes chineses despertaram e compreenderam que tinham um problema.O baixo rendimento não parece incomodá-los muito, mesmo agora. Mas aparentemente o fato de que 70% desses ativos estão denominados em dólares os preocupa, porque qualquer queda futura do dólar poderia significar uma grande perda de capital para a China.

domingo, 22 de março de 2009

Procura

Às vezes busco alguém no fundo do espelho, 
pesquisa insatisfatória. Às vezes 
é muito difícil me reconhecer na
pergunta que o espelho irradia, e que 

me responde? 

Às vezes torturo o espelho, 
anseio geral por um mínimo 
atributo de mim. Tardonho, 
sindico o espelho. Irrisão, 
vasta procura, que mal comecei 
e admite errâncias. 
12 de novembro de 2008.

domingo, 15 de março de 2009

Dani Rodrik

Dani Rodrik, economista, professor de Harvard, no blog do Vinicius:

Foram os economistas os que legitimaram e popularizaram a ideia de que um setor financeiro sem amarras representava um benefício para a sociedade. Eles falavam quase de maneira unânime quando se tratava dos "perigos da regulamentação excessiva do governo". Seu conhecimento técnico - ou o que se assemelhava a isso à época - lhes conferiu uma posição privilegiada de formadores de opinião, bem como acesso aos corredores do poder.

A falta não reside no campo da economia, mas no campo dos economistas. O problema é que os economistas (e os que lhes dão ouvidos) ficaram excessivamente confiantes nos seus modelos preferidos do momento: os mercados são eficientes, a inovação financeira transfere risco aos melhor capacitados para arcá-lo, a auto-regulamentação funciona melhor e a intervenção do governo é ineficaz e prejudicial.

A macroeconomia pode ser o único campo aplicado na disciplina de economia no qual mais treinamento aumenta a distância entre o especialista e o mundo real, devido à sua dependência de modelos altamente irreais, que sacrificam a relevância em favor do rigor técnico. Lamentavelmente, em vista das necessidades atuais, os macroeconomistas fizeram pouco progresso em planos de ação desde que John Maynard Keynes explicou como as economias podem ficar atoladas no desemprego devido à demanda agregada insuficiente. Alguns, como Brad DeLong e Paul Krugman, dirão que o campo já regrediu. "

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Paul Krugman: (...) Vamos ser diretos aqui. Há uma chance razoável, não uma certeza, de que Citi e BofA [Citibank e Bank of America], juntos, percam centenas de bilhões de dólares nos próximos poucos anos. E seu capital não é nem remotamente suficiente para cobrir as possíveis perdas.De fato, a única razão pela qual ainda não quebraram é a de que o governo está agindo como um esteio, implicitamente garantindo sua obrigações. Mas são bancos zumbis, incapazes de fornecer o crédito de que a economia precisa. (...) Mas o que temos agora não é empreendedorismo privado, mas um socialismo de araque: os bancos se beneficiam, mas os contribuintes arcam com os riscos. E os bancos zumbis se perpetuam, bloqueando a recuperação econômica.
O que queremos é um sistema no qual os bancos assumam os ganhos e as perdas. E o caminho para esse sistema passa pela estatização.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Gato

Folha: Recebido pela mulher do coordenador, o agente quis saber por qual motivo a criança Billy Flores da Rosa não havia sido levada para fazer a medição e a pesagem, exigidas para os cadastrados no programa. A mulher estranhou a pergunta: "Mas o único Billy aqui é o meu gatinho". O agente relatou o diálogo à prefeitura, que abriu sindicância. O pobre animal teve seu benefício (vinte reais) cortado, sem direito a defesa. Nem precisa dizer que sou contra essas ações, drásticas. Totalmente contra. Numa rara aparição neste blog, meu irmão comentou: manda uma foto desse Osho. Gostei do nome; vou rebatizar meu gato, que se chama Guarayo. Assim como Billy, Guarayo e tantos outros também merecem um dinheirinho... Nem digo isso em benefício de meu irmão, que tem uns 30 gatos em casa...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama

No início de seu "governo", Bush cortou furiosamente impostos dos milionários. 400 dos mais respeitados economistas do mundo assinaram manifesto denunciando essa impostura, pregada pelos Supply-Side economics. Nada adiantou. A farsa continuou e foi ampliada, com a cumplicidade irresponsável do Congresso, de maioria republicana.

O povo, que tinha o poder de punir essas práticas de lesa pátria, reelegeu os criminosos. Os mais tétricos prognósticos dos economistas acerca das políticas de Bush foram ultrapassados pela realidade.

Miriam Leitão, no panorama econômico de hoje:
Barack Obama vai herdar terra arrasada. Começa a governar um país em recessão e que gasta demais - cada vez mais. O déficit no orçamento superou US$ 400 bilhões, mas sem contar os efeitos do pacote contra crise.

Há oito anos, antes de Bush, sobrava dinheiro. Agora, as previsões são sombrias. Para evitar o pior e reativar a economia, Obama vai ter de aumentar essa conta. O déficit deve chegar a US$ 1,3 trilhão até o fim de 2009. Isso significa queimar mais que tudo que o Brasil produz em um ano.

O desemprego se transformou em prioridade número 1. Bush entregou uma economia arruinada. Pessoas perderam suas casas, bancos foram socorridos com dinheiro público, empresas com enormes prejuízos estão demitindo. Obama tem que começar protegendo os trabalhadores.

Fábio Konder Comparato

Utilizando textos de Adam Smith, pai da Economia, Fábio Konder Comparato faz uma excelente análise da atual singularidade econômica: O preço natural, correspondente ao custo de produção, seria o centro em torno do qual gravitariam os preços de todas as mercadorias, não obstante alguns desvios de órbita temporários. Entre as mercadorias, Adam Smith incluiu o trabalho subordinado. Ao analisar a escravidão, observou cruamente que o custo de manutenção de um escravo fica inteiramente a cargo do seu proprietário, ao passo que o do trabalhador assalariado é partilhado entre ele próprio e seu patrão. O que conduz logicamente à conclusão - ignorada pelos senhores de escravos no Brasil até o final do século 19 - de que a servidão é menos vantajosa que o trabalho assalariado. Como se vê, o raciocínio é puramente contábil. Sob a influência dos fisiocratas franceses, A. Smith sustentou que só a agricultura produz riqueza. O conjunto dos comerciantes, artesãos e fabricantes, escreveu, constitui "uma classe improdutiva", sustentada à custa dos proprietários rurais e dos cultivadores. Os banqueiros, ao contrário, exercem a útil função de transformar o "capital morto" ("dead stock") em capital produtivo (como se acaba de ver...). Igualmente improdutivos seriam os agentes políticos. São textuais palavras suas: "O soberano, com todos os ministros que o servem, tanto na guerra quanto na paz, o conjunto dos militares, tanto do Exército quanto da Marinha de guerra, são trabalhadores improdutivos. São servos do povo, mantidos por uma parte do produto do trabalho das outras pessoas". Por que, então, não extinguir a organização estatal? Adam Smith responde, sem rodeios, que o poder político foi instituído para a garantia da propriedade. Por conseguinte, ele "existe, na verdade, para defender o rico contra o pobre, vale dizer, aqueles que possuem algo contra os que nada têm" ("A Riqueza das Nações", livro 5, capítulo 1). Como, então, explicar o funcionamento do sistema econômico? É pela força do egoísmo racional, responde Adam Smith. "Cada indivíduo forceja continuamente por encontrar o emprego mais vantajoso do capital de que dispõe. É a sua própria vantagem, na verdade, e não a da sociedade, que ele tem em vista" (mesma obra, livro 4, capítulo 2). Mas, apressa-se em acrescentar, a procura da vantagem própria leva o indivíduo, necessariamente, a escolher o emprego de capital que se revela mais vantajoso para a sociedade. Quer isso dizer que os verdadeiros criadores da riqueza nacional deveriam ser chamados a governar as nações e a formar o futuro governo mundial, igualmente preconizado pelo presidente Sarkozy? Não foi esse o entendimento do primeiro grande teórico do capitalismo. Sustentou ele que a injustiça e a violência dos governantes dificilmente admitem um remédio. Mas, aduziu, "a mesquinha rapacidade, o espírito monopolista dos comerciantes e fabricantes, que não são nem devem ser governantes, embora não possam talvez ser corrigidos, podem ser facilmente impedidos de perturbar a tranquilidade alheia" (idem, livro 4, capítulo 3). Facilmente? Não foi o que vimos nos últimos meses. Até há pouco, os bem pensantes justificavam as injustiças do capitalismo, pondo em realce a sua imbatível eficiência econômica. Agora, descobrem todos, um pouco tarde, que a imoralidade do sistema alia-se à sua arrasadora ineficiência. FÁBIO KONDER COMPARATO, 72, é professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP e autor, entre outras obras, de "Ética - Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno" (Companhia das Letras).

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Responsabilizando os culpados

FRANK RICH, no NYT de hoje: Três dias depois de o mundo descobrir que US$ 50 bilhões podem ter sumido na pirâmide financeira de Bernie Madoff, o "New York Times" divulgou, em 14 de dezembro, a revelação de outro golpe de US$ 50 bilhões. Desta vez a bolada pertencia aos contribuintes americanos. Foi essa a sua contribuição coletiva aos US$ 117 bilhões gastos (até meados de 2008) com a reconstrução do Iraque - um sumidouro de corrupção, clientelismo, incompetência e furto puro e simples, espécie de resumo do governo de George W. Bush dentro e fora dos EUA. A fonte dessa notícia foi a versão quase final de um relatório de 513 páginas do governo federal a respeito deste fiasco americano. O relatório cita autoridades do calibre de Colin Powell para mostrar como o golpe funcionava. Powell disse que, em 2003, o Departamento da Defesa "inventava números das forças de segurança iraquianas - o número saltava em 20 mil por semana! 'Agora temos 80 mil, agora temos 100 mil, agora temos 120 mil'". Quem questionou essas incríveis cifras foi tratado como tolo, assim como quem implorou em vão para que a SEC (órgão que regulamenta o setor financeiro) contestasse a matemática de Madoff. (...) Dawn Johnsen, professora de direito e ex-funcionária do governo Clinton (1993-2001), foi recentemente escolhida para dirigir o Escritório de Consultoria Jurídica do Departamento da Justiça. É o mesmo departamento onde John Yoo, um burocrata do governo Bush, produziu o seu infame memorando justificando a tortura. Johnsen é uma crítica contumaz de tais abusos constitucionais. Em artigos escritos no ano passado, ela estranhava a ausência "do ultraje, do clamor público" contra um governo que agiu ilegalmente e não respeitou "os limites legais e morais da decência humana". "Como salvaremos a honra do nosso país, e a nossa própria?", perguntava.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Krugman

Paul Krugman, no NYT: (...) Sinto muito, mas se não fizermos uma sindicância sobre o que aconteceu durante os anos Bush - e quase todo mundo entendeu os comentários de Obama como significando que não faremos - isso significa que aqueles que detêm o poder realmente estão acima da lei porque não enfrentarão qualquer conseqüência caso abusem de seu poder. Vamos deixar claro sobre o que estamos falando aqui. Não se trata apenas de tortura e grampos ilegais, cujos perpetradores alegam, por mais implausível que seja, que eram patriotas agindo no interesse da segurança da nação. O fato é que os abusos do governo Bush se estendem da política ambiental aos direitos de voto. E a maioria dos abusos envolveu o uso do poder do governo para recompensar políticos amigos e punir políticos inimigos. O processo de contratação no Judiciário era semelhante ao processo de contratação durante a ocupação do Iraque - uma ocupação cujo sucesso supostamente era essencial para a segurança nacional - no qual os candidatos eram julgados segundo sua posição política, sua lealdade pessoal ao presidente Bush e, segundo alguns relatos, sobre sua posição na questão do aborto, em vez de sua capacidade de realizar seu trabalho. Falando sobre o Iraque, não vamos esquecer que o país fracassou na reconstrução: o governo Bush entregou bilhões de dólares em contratos sem licitação para empresas com conexões políticas, empresas que não cumpriram o contrato. E por que deveriam se preocupar em fazer seu trabalho? Qualquer funcionário do governo que tentasse auditar, digamos, a Halliburton, rapidamente via sua carreira descarrilar. Há muito, muito mais. Segundo minha contagem, pelo menos seis importantes agências do governo passaram por grandes escândalos nos últimos oito anos - na maioria dos casos, escândalos que nunca foram apropriadamente investigados. E há o maior escândalo de todos: alguma pessoa seriamente duvida que o governo Bush enganou deliberadamente a nação para invadir o Iraque? Por que, então, não devemos ter uma investigação oficial dos abusos durante os anos Bush? Não se iluda, leitor: todo o mal que Bush causou ao mundo - da guerra genocida no Iraque e no Afeganistão à maior tragédia econômica já vista - deliberado, não será punido.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Miriam Leitão

Foi ruim enquanto durou. O governo George W. Bush mentiu, torturou, prendeu pessoas sem acusação, teve prisões secretas, arruinou a economia, deixou um rombo nas contas públicas, desrespeitou a ONU, fez duas guerras, bloqueou acordos contra o aquecimento global, desamparou as vítimas do Katrina, censurou cientistas. Sim, foi pior do que o governo que odiávamos tanto: o de Richard Nixon.

Não, a História não lhe dará razão. Pode fazer o contrário: confirmar as piores suspeitas. Já começa a fazer isso. Bob Woodward, sempre ele, o lendário repórter do Watergate, publicou no “Washington Post” a confirmação de que em Guantánamo se torturava. Mohammed Al-Qahtani, um saudita, foi mantido isolado, impedido de dormir, exposto nu a frio extremo, sofreu afogamentos e outras perversidades próprias de governos extremistas. Quem confirmou isso ao jornalista não foi um “garganta profunda”, mas alguém de quem se sabe nome, rosto e cargo: a juíza Susan Crawford, funcionária do Pentágono, com autoridade de decidir quem deveria ir ou não a julgamento. Qahtani não irá a julgamento porque seu interrogatório foi criminoso. “Nós torturamos”, reconheceu.

George W. Bush foi para a vida americana o que o AI-5 foi no Brasil. Pessoas sumiam sem qualquer acusação formal, eram mantidas presas sem processo e formação de culpa, cientistas do governo, que alertaram sobre aquecimento global, foram perseguidos ou tiveram seus textos alterados, cidadãos tiveram conversas gravadas sem autorização judicial.

No princípio, foi a fraude eleitoral; no fim, o apocalipse econômico. O governo Bush foi todo equivocado, com um intervalo em que ele perdeu a chance aberta por uma tragédia: o 11 de Setembro. A primeira eleição foi perdida no voto popular e vencida no colégio eleitoral graças à manipulação na contagem dos votos no estado governado pelo irmão Jeb Bush, a Flórida. Foi o pior momento recente do sistema eleitoral americano, em que se viu o quanto o sistema e o método de votação haviam envelhecido.

(...) Saddam Hussein era um ditador e ninguém o chora, a não ser seus adeptos ferrenhos. Mas a civilização ganharia se ele fosse deposto de outra forma. O julgamento viciado e o enforcamento grotesco não ajudam a fortalecer princípios e valores democráticos.

Bush não criou um mundo mais seguro com suas guerras sem fim. O mundo estará mais seguro dentro de dois dias, quando chegar ao fim a era Bush. (...)

Na economia, seu governo não foi apenas inepto. Foi irresponsável. Foram perseguidos e silenciados os que dentro da máquina pública alertaram para o risco da bolha imobiliária. Os sinais da excessiva ausência do Estado, no seu papel regulador e fiscalizador, ficaram cada vez mais contundentes. E a resposta foi mais ausência. Bush chegou a tentar nomear executivos da indústria de derivativos para órgãos reguladores do setor imobiliário. Surfou na bolha para se reeleger. O estouro lançou o mundo na era de incerteza. E até ontem, hora final, a crise bancária voltou a piorar.

Os republicanos tinham ao menos a fama de ser responsáveis fiscalmente. Hoje já não podem dizer isso. O governo George W. Bush recebeu os EUA com superávit orçamentário e entrega o país com um enorme déficit, que pode chegar a US$ 1,3 trilhão, e uma dívida crescente.

Bush sabotou deliberada e persistentemente todos os esforços do mundo para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. Não por acaso, o estado campeão de emissões no país é exatamente o Texas. Foi incompetente no Katrina, antes e depois da tragédia, e não entendeu o alerta da natureza. Qualquer minuto de atraso na luta para preservar o planeta é um crime contra as gerações futuras, que herdarão a Terra.

Difícil saber onde Bush não errou. A boa notícia desta manhã de sábado é que faltam dois dias para o fim dos longos e duros oito anos. Terça-feira há de ser outro dia.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Garcia

O que significa "politicamente conveniente"? indagou-se ao sargento Garcia, a propósito de uma decisão técnica de economizar 600 milhões de dólares com um gás de que não precisamos no momento, devidamente sabotada por uma conveniência palaciana. Segundo ele, "num momento de crise econômica, é fundamental preservar os ingressos lá [na Bolívia], onde 40% dos recursos vêm do gás". Ele acrescentou que decisões assim nunca são apenas técnicas, mas sim políticas: "Se fossem, para que fazer eleições de quatro em quatro anos? Bastava fazer concurso público para os técnicos". Lobão: "Na parte da manhã, não havia a necessidade dessas duas térmicas, cuja necessidade surgiu à tarde". Serão religadas as térmicas de Araucária (PR) e Canoas (RS), que têm capacidade para gerar cerca de 600 MW. Então, vamos transferir dinheiro público direto para a conta do Sr. Moralez, aquele amigo que não perde uma oportunidade de lesionar direitos do Brasil. Eleições a cada quatro anos para quê, pergunto eu. Nem vejo tanta necessidade...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Krugman

O fato é que os recentes números econômicos são assustadores, não apenas nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo. O setor manufatureiro, em particular, está despencando em toda parte. Os bancos não estão emprestando, as empresas e os consumidores não estão gastando. Não vamos medir palavras: isto se parece muito com o início da segunda Grande Depressão.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Verissimo

Luiz Fernando Verissimo, no blog do Noblat:

Não acredito na reencarnação, mas confesso que tenho um medo: o de morrer, ser reencarnado e encontrar reencarnada uma das pessoas com quem vivo discutindo a reencarnação, dizendo que não acredito. E que não perderá a oportunidade de, todas as vezes que nos encontrarmos, gritar:

- Eu não disse?!

Não vai dar para agüentar.

Também me imagino chegando no céu e descobrindo que é tudo exatamente como o descrevem os crentes, ou pelo menos exatamente como o descrevem as anedotas. São Pedro, o portão, os anjos, tudo.

- Eu não acredito no que estou vendo! - direi.

São Pedro entenderá mal minha exclamação e dirá:

- Bacana, né?

- Não. É que eu era ateu e não acreditava em nada disso.

- E agora, acredita?

- Claro.

- Então vai para o inferno - dirá São Pedro, já levando o dedo ao botão que abre o alçapão.

- Mas, por quê? - perguntarei, espantado.

- Adesistas não.

E tem aquela do cara que chega no céu e enquanto preenche a ficha na recepção vê passar dois barbudos conversando animadamente. Começa a perguntar:

- Aqueles dois não são...

- São eles mesmos - diz São Pedro. - Marx e Freud. Na sua caminhada matinal.

- Mas, eles aqui?

- Qual é o problema?

- Era o último lugar em que eu esperava encontrar esses dois. Marx, o materialista ateu, que dizia que a religião era o ópio do povo. Freud, o homem que liquidou com a idéia da alma eterna. No céu?!

- Bom, nossos critérios de admissão são flexíveis...

Nisso Marx e Freud começam a discutir em altos brados.

- O que é isso? - pergunta o recém-chegado.

- Você não conhece o velho ditado? Dois judeus, quatro opiniões diferentes.

- Mas eles parecem que vão se engalfinhar!

- Você devia ver quando Jesus caminha com eles. Aí ninguém se entende.

Outro cara chega no céu entusiasmadíssimo. "Que maravilha!" diz, olhando em volta. A vida eterna. Paz para sempre. Tudo imutável e perfeito.

- É - diz São Pedro. - Mas você devia ver isto aqui nos bons tempos...

Berlim

A torre ao fundo é herança do regime comunista.