Nassim Nicholas Taleb, libanês radicado nos EUA, autor
de Iludidos pelo Acaso e decano de
ciências da incerteza, na Universidade de Massachusets, produziu uma diatribe
contra nossas pobres certezas.
Comecemos definindo cisnes
negros: um
evento com três características elementares: é imprevisível, ocasiona
resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo
menos aleatório e mais explicável.
Podemos incluir nessa categoria a Revolução Russa de
1917 (seguida do golpe de estado dos vermelhos), o 11 de Setembro e o
surgimento do Google e Facebook. Quase certamente você pode incluir seu
casamento, leitor, assim como as sandices das bolsas de valores.
Imprevisível,
ele diz. Quão imprevisível? Tão imprevisível quanto o derretimento mundial de
2008 - que explicamos agora por falta de regulação financeira combinada com
farra no crédito via juros baixos - ou a derrocada do império soviético em
1990.
Resultados
impactantes: a Segunda Guerra Mundial, não prevista,
moldou dramaticamente o mundo. Ninguém a antecipou, nem mesmo após as grandes
invasões alemãs, muito menos seus contornos infames, até onde se sabe.
Todos esses eventos recebem explicações simples,
concisas e suficientes de nossa parte, com o beneficio da análise em
retrospecto.
Aqueles historiadores que não se contentam com um
inventário burocrático de fatos geralmente atribuem a SGM a fatores como
ganância e loucura de Hitler, inépcia e ingenuidade de França e Reino Unido e
esperteza trágica de Stálin.
Faço reparos a essa visão: uma coisa é o receio dos
americanos em servir de bucha de canhão. Outra é a posição do Estado americano,
que faturou alto com a carnificina. Metade do PIB mundial estava em suas mãos,
ao final dessa farra chamada SGM. Cá imagino que uma coisa dessas não aconteça por
acaso.
O que chamamos História
não passa de um amontoadinho à toa de narrativas mais ou menos arbitrárias e
desprevenidas.
Taleb desfecha um ataque certeiro contra os economistas, a quem dirige uma das mais sérias acusações: os modelos matemáticos, por mais sofisticados, são meras distrações de nerds, ao caírem no pecado capital - supor que os indivíduos agem racionalmente ao lidar com o dinheiro ou com incertezas. E critica os que sabem matemática "o suficiente para serem cegados por ela".
Taleb desfecha um ataque certeiro contra os economistas, a quem dirige uma das mais sérias acusações: os modelos matemáticos, por mais sofisticados, são meras distrações de nerds, ao caírem no pecado capital - supor que os indivíduos agem racionalmente ao lidar com o dinheiro ou com incertezas. E critica os que sabem matemática "o suficiente para serem cegados por ela".
Não
dê ouvidos a previsores econômicos ou a previsores nas ciências sociais (eles
são meros fornecedores de entretenimento), diz o autor, no que
podemos considerar uma síntese bastante boa de todas as previsões para os
mercados de ações que eu já li.
A seguir vem uma advertência importante: a curva na
forma de sino gaussiana só ocorre no mediocristão
(neologismo que implica: aleatoriedade moderada e acontecimentos não escaláveis. Sua lei seria: quando a amostra é grande, nenhum exemplar
isolado alterará de modo significativo o agregado ou o total).
No extremistão
as desigualdades são tantas que uma única observação pode exercer um impacto
desproporcional sobre o agregado ou sobre o total. O extremistão produz cisnes negros. É caracterizado por grandezas escaláveis, aleatoriedade intensa e
desigualdade extrema (e torneios tipo o
vencedor leva tudo). É a tirania do singular, do acidental e imprevisto.
Pertencem ao extremistão:
riqueza, renda, sucesso na venda de livros, reconhecimento como celebridade,
mercados financeiros, preços de commodities,
taxas inflacionárias e dados econômicos em geral.
O extremistão
dramatiza o problema da indução (ou
problema do conhecimento indutivo), que tanto ocupou Bertrand Russel: como
tirar uma conclusão geral a partir de pequenas amostragens? Algo funcionou no
passado. Funcionará no futuro?
Bem, pra que tudo isso? A curva na forma de sino só
vale dentro de um arcabouço de normalidade - ou seja, somente no mediocristão.
Daí não conseguirmos prever os eventos mais importantes da vida, e cairmos no
conto do vigário dos gerentes de banco.
Tem lógica, o cisne negro? Tem, infelizmente.
3 comentários:
Li esse livro. A inesperada derrocada do Líbano, exemplo exposto pelo autor, ilustra bem a idéia do surgimento dessas espécies de fatos ou catástrofes inesperadas.
Infelizmente, no caso do Brasil não podemos sequer qualificar nosso quadro de falência político-institucional como um autêntico cisne negro. No máximo, é um cisne bem sujo, com penas escurecidas ou chamuscadas, pois aqui os eventos são previsíveis: minoria pensante perde eleição presidencial --> PT assume presidência --> PT eterniza-se por meio dos programas sociais custeados pelo erário --> PT elege maioria no congresso, ou compra a maioria --> PT renova o STF a seu favor --> PT mostra as garras totalitárias --> o resto podemos prever.
Nosso cisne é branco (bem previsível), mas bem manchado de vermelho.
Aliás, PARABÉNS à coerência do TRE, ao dar mostra de respeito aos seres humanos que lá trabalham. Trabalho em meio a jumentos.
Enfatização, para fins de clareza: EU trabalho em meio a JUMENTOS.
Síntese perfeita, Júlio. O quadro é grave. Vejo uma "presidenta" que não governa: tem chilique, e uma oposição que espera um tropeço da situação para ganhar a eleição sem merecer. Estamos, em resumo, igual m... nágua...
Triste.
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