terça-feira, 24 de julho de 2012

A lógica do cisne negro

Nassim Nicholas Taleb, libanês radicado nos EUA, autor de Iludidos pelo Acaso e decano de ciências da incerteza, na Universidade de Massachusets, produziu uma diatribe contra nossas pobres certezas.

Comecemos definindo cisnes negrosum evento com três características elementares: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo menos aleatório e mais explicável.

Podemos incluir nessa categoria a Revolução Russa de 1917 (seguida do golpe de estado dos vermelhos), o 11 de Setembro e o surgimento do Google e Facebook. Quase certamente você pode incluir seu casamento, leitor, assim como as sandices das bolsas de valores.

Imprevisível, ele diz. Quão imprevisível? Tão imprevisível quanto o derretimento mundial de 2008 - que explicamos agora por falta de regulação financeira combinada com farra no crédito via juros baixos - ou a derrocada do império soviético em 1990.

Resultados impactantes: a Segunda Guerra Mundial, não prevista, moldou dramaticamente o mundo. Ninguém a antecipou, nem mesmo após as grandes invasões alemãs, muito menos seus contornos infames, até onde se sabe.        

Todos esses eventos recebem explicações simples, concisas e suficientes de nossa parte, com o beneficio da análise em retrospecto.

Aqueles historiadores que não se contentam com um inventário burocrático de fatos geralmente atribuem a SGM a fatores como ganância e loucura de Hitler, inépcia e ingenuidade de França e Reino Unido e esperteza trágica de Stálin. 

Faço reparos a essa visão: uma coisa é o receio dos americanos em servir de bucha de canhão. Outra é a posição do Estado americano, que faturou alto com a carnificina. Metade do PIB mundial estava em suas mãos, ao final dessa farra chamada SGM. Cá imagino que uma coisa dessas não aconteça por acaso.

O que chamamos História não passa de um amontoadinho à toa de narrativas mais ou menos arbitrárias e desprevenidas. 

Taleb desfecha um ataque certeiro contra os economistas, a quem dirige uma das mais sérias acusações: os modelos matemáticos, por mais sofisticados, são meras distrações de nerds, ao caírem no pecado capital - supor que os indivíduos agem racionalmente ao lidar com o dinheiro ou com incertezas. E critica os que sabem matemática "o suficiente para serem cegados por ela".  

Não dê ouvidos a previsores econômicos ou a previsores nas ciências sociais (eles são meros fornecedores de entretenimento), diz o autor, no que podemos considerar uma síntese bastante boa de todas as previsões para os mercados de ações que eu já li.

A seguir vem uma advertência importante: a curva na forma de sino gaussiana só ocorre no mediocristão (neologismo que implica: aleatoriedade moderada e acontecimentos não escaláveis. Sua lei seria: quando a amostra é grande, nenhum exemplar isolado alterará de modo significativo o agregado ou o total).

No extremistão as desigualdades são tantas que uma única observação pode exercer um impacto desproporcional sobre o agregado ou sobre o total. O extremistão produz cisnes negros. É caracterizado por grandezas escaláveis, aleatoriedade intensa e desigualdade extrema (e torneios tipo o vencedor leva tudo). É a tirania do singular, do acidental e imprevisto.  

Pertencem ao extremistão: riqueza, renda, sucesso na venda de livros, reconhecimento como celebridade, mercados financeiros, preços de commodities, taxas inflacionárias e dados econômicos em geral.

O extremistão dramatiza o problema da indução (ou problema do conhecimento indutivo), que tanto ocupou Bertrand Russel: como tirar uma conclusão geral a partir de pequenas amostragens? Algo funcionou no passado. Funcionará no futuro?

Bem, pra que tudo isso? A curva na forma de sino só vale dentro de um arcabouço de normalidade - ou seja, somente no mediocristão. Daí não conseguirmos prever os eventos mais importantes da vida, e cairmos no conto do vigário dos gerentes de banco.  

Tem lógica, o cisne negro? Tem, infelizmente.

3 comentários:

Júlio César e Izaura disse...

Li esse livro. A inesperada derrocada do Líbano, exemplo exposto pelo autor, ilustra bem a idéia do surgimento dessas espécies de fatos ou catástrofes inesperadas.
Infelizmente, no caso do Brasil não podemos sequer qualificar nosso quadro de falência político-institucional como um autêntico cisne negro. No máximo, é um cisne bem sujo, com penas escurecidas ou chamuscadas, pois aqui os eventos são previsíveis: minoria pensante perde eleição presidencial --> PT assume presidência --> PT eterniza-se por meio dos programas sociais custeados pelo erário --> PT elege maioria no congresso, ou compra a maioria --> PT renova o STF a seu favor --> PT mostra as garras totalitárias --> o resto podemos prever.
Nosso cisne é branco (bem previsível), mas bem manchado de vermelho.
Aliás, PARABÉNS à coerência do TRE, ao dar mostra de respeito aos seres humanos que lá trabalham. Trabalho em meio a jumentos.

Júlio César e Izaura disse...

Enfatização, para fins de clareza: EU trabalho em meio a JUMENTOS.

Manelim disse...

Síntese perfeita, Júlio. O quadro é grave. Vejo uma "presidenta" que não governa: tem chilique, e uma oposição que espera um tropeço da situação para ganhar a eleição sem merecer. Estamos, em resumo, igual m... nágua...

Triste.