O
texto mais emblemático desse início de ano (com ajustes):
Trezentos
e sessenta e cinco dias de farsa, de conversas imaginárias, de não diálogos,
(...) não presença, não sorrisos, de perda de tempo.
Ano de
indecisões, ou decisões erradas, desastre iminente, passos mal dados, de
indefinição, de atrasos, adiamentos. De insegurança, arrependimento, da
brutalidade da dúvida, (...) caixas postais vazias, telefones sempre mudos,
mensagens dissipadas no éter como fumaça virtual.
Do céu
coalhado de coisas mortas, estrelas que já não existem (mas só agora seu brilho
nos atinge, estertor feito de fótons). (...) De perder apostas, ficar devendo,
implorar clemência, ouvir um não a cada hora.
Ano de
vacilar na curva, de ir embora para nunca mais voltar, mas acabar voltando por
falta de alternativa. De passar datas em branco, esquecer essas datas, ou
lembrar e não sentir nada, nada mesmo.
De
experiências terríveis, aniquilação, de escorregar com tudo, de deslizes sem
volta ou perdão. De ser um fio desencapado, nunca relaxar. De ter uma
britadeira endógena entre os ouvidos, 24 horas por dia, descanso impossível,
inferno, vigília autoimposta.
Do
erro do médico, do planejamento precário, da combustão incompleta, da fuligem
que mancha o pulmão. De não entender nada, de correr sem ter aonde chegar. Do
fracasso recorrente, vexame, vergonha.
Todo
ano novo pode ser o pior ano de nossas vidas.
Basta caprichar. Falta muito pro carnaval?
Basta caprichar. Falta muito pro carnaval?
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