domingo, 21 de setembro de 2014

A Prisão da Fé


Laurence Wright descreve, em tom jornalístico, a saga de L. Ron Hubbard e sua cientologia, o horrendo pesadelo que galgou o duvidoso status de religião, muito em função da incompetência do IRS, a receita federal norte-americana ("hostilidade tributária baseada nas escrituras", alguém definiu).

Hubbard era uma fraude ambulante. Em certa foto, ele aparece com um e-Meter, aparelho por ele inventado e usado para medir a "dor das plantas", entre outras coisas muito úteis.

Lá pelos anos 1960 a cientologia estava em gestação na cabeça atormentada de Hubbard e isso explica a apelação ficção científica da seita (quando comparada a uma de dois mil anos, por exemplo), mas principalmente explica a ausência de artefatos mais complexos, como os multiversos, inerentemente delirantes e perfeitos para um amontoadinho qualquer de tagarelices místicas.

À certa altura Hubbard ficou pra lá e pra cá em sua barcaça de 3200 toneladas, antes usada para transporte de gado, fatigando águas mundo afora com discípulos bovinos.

Procuraram tesouros escondidos na Sicília e Calábria; na Córsega, buscaram uma estação espacial subterrânea e muitas outras coisas do gênero fizeram, com sua Sea Org em orgias etílicas.

Após algumas peripécias, e uma sentença criminal de 4 anos à revelia, na França, Hubbard foi dar com os costados no Queens, onde passeava de peruca e chapéu, para evitar a polícia.

Em algum momento morreu, deixando um bando de seguidores desmiolados, e um empreendimento corrupto com fins lucrativos.

"A cientologia é, muito provavelmente, o culto mais implacável, mais classicamente terrorista, mais litigioso e mais lucrativo que o país jamais conheceu", sintetizou Cynthia Kisser.

Que dizer desses desatinos?

Pode-se pensar que essas seitas nascem da pura ignorância, mas esse pode não ser o caso. Os seguidores do Templo Solar, por exemplo "eram membros cultos e prósperos de suas comunidades, com família e emprego fixo; mesmo assim, tinham se entregado a uma fantasia mística de ficção científica que os transformou em assassinos, suicidas ou vítimas indefesas".

Apesar dos milhões de adeptos que a cientologia afirma ter, o Censo norte-americano estima em míseros 25 mil o total de americanos vítimas dessa sandice, metade da comunidade rastafári.

Concluo: se Hubbard foi um Hitler em busca de uma máquina de fazer dinheiro, Miscavige é um Stalin, com as bênçãos do IRS. Patético.

domingo, 24 de agosto de 2014

Pacífico sul


Cheguei uns três dias após deixar minha casa.



Fui direto ao barco e ao resort. Octopus é um lugar gostoso, com recifes bem em frente ao bar, o que favorece a migração deste para aqueles, e vice-versa. 



Fiquei quatro dias em recreio, e saí para o Blue Lagoon, outro hotel bem estabelecido entre corais e recifes. 



No terceiro dia, nem eles confirmavam o vôo até Nadi, nem a estadia mais uma noite. Acabei no hotel ao lado, sem o vôo. Jantar dançante, se assim pudermos chamar. Primeiro a dança, típica, depois o jantar. Quem não dança não come.

Talvez por isso resolvi aceitar quando uma matrona fijiana veio me tirar pra dançar. 

Não estava muito animado com a dança, não, com a tora de fijiana que me coube por par, até que vi o alemão meu vizinho agarrado a um negão de uns dois metros, para mais, todo sorrisos. Deus do céu, como a sorte pode ser madrasta!

Depois fomos ver o jantar ser desenterrado, embrulhado em folhas. Batatas, legumes, pupkins, mandiocas. E as carnes.

Serviram um carneiro delicioso, um peixe alienante e clams gigantes ao molho. Batatas doces e mandioca, tudo nas entranhas da terra. Não sei como figurar a farra.

No Octopus tivemos jantares memoráveis e, no Blue Lagoon, as mais típicas comidas. Tampouco o pernil de carneiro era novidade (já tinha lutado com pernis de carneiro em Fiji) mas aquele.... Oh, boy.

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No dia da saída, na última hora eles confirmaram o vôo, e havia que se dirigir à ilha-resort Turtle. Lá me disseram que, avião, nem pensar, mas que um helicóptero era possível. 

Voei nesse helicóptero atrasado, preocupado e embasbacado com as Yasawas, do alto. 

Pousando em Nadi, me informaram que não haveria vôo a Port Vila. Após toda sorte de desencontros, o vôo inexistente se ultimou e saí com três horas de atraso, já perdida a conexão à ilha Tanna, ao sul.

Em Port Vila a malária não é infrequente.

Pois nessa Port Vila me acomodaram em um resort cinco estrelas, com 5.000 vatus para gastar em comilança.

- Em comilança, ouviu bem? Você acha que consegue, Manelim?
- Ora você me conhece, tenho um plano.

E assim, no buffet daquela noite me acabei em camarões insanos, indescritíveis, preparados como se o mundo findasse logo mais e as balanças tivessem sido abolidas. Também havia saladas (não tive muito tempo para saladas, não),  clams gigantes, os ovos beneditinos e muitas outras coisas que não quero figurar, agora.

Sem falar nas massas, com o acréscimo ilícito de queijos franceses, sobremesas, sorvetes e frutas.

Logo eu estava prontinho para o café da manhã, que não foi menos escandaloso.

Após esse café, aeroporto. A passagem, inexistente para aquele dia, apareceu no primeiro avião para Tanna, e nele embarquei, sôfrego.

- E como você pretende voltar, à nado? - perguntou a moça da Air Vanuatu, vendo que eu não tinha passagem.

Tanna é um lugarzinho mágico, famoso por seus aldeões, a criançada pululante e pela malária, nada infrequente.

Subi o Yasur, nas deliberações da tarde. Melhor: subimos, porque, no caminho, o motorista parou a camionete na aldeia e fez subir toda a criançada, até um moleque pelado. Umas quinze crianças. Depois, passado o centro, paramos para dar carona pra mais cinco!

E lá fomos, morro acima, morro abaixo. 

O vulcão, super ignorante, vomita lava bem na nossa cara, com estrondos metálicos, de salva de canhões raivosos.

Iniciada a noite, bordejamos a cratera ouvindo as pancadas, as revoltas. Ondas de choque talhavam o fumo envolvente, e sabíamos que novas fúrias eram inevitáveis. 

Sofremos esse arenga um tempão, vendo a lava escalar a encosta e cair de volta, onde um rio de fogo oficiava ora preenchendo, ora liberando câmaras, enquanto a terra comunicava sua dor. 

Quando por fim o vapor sulfuroso nos envolveu, todos demos baixa e corremos ao hotel. Mosquiteiros que eram só furos prelibavam malárias noite adentro.

No dia seguinte toquei ao aeroporto, sem passagem, só para ver qual é que era. Fui acomodado de primeira, e voltei a Port Vila, para passeios e simpatias.

Fui a uma cascata, mas principalmente à ilha Lelepa, para o melhor snorkelling desde Fakarava. Jardim submerso, visão de 60 metros, águas mornas, peixes abundantes. O que mais pode querer um turista?

Notei a ausência de tubarões nos recifes, e os guias deram de ombro. Ao contrário do Tahiti, onde eles praticamente te chamam e te desafiam desde o quarto, por aqui somente em mergulhos mais profundos se tem a companhia dessa gente bravia. 

Agora, Tonga. As baleias mandaram dizer que não vêm, ou, se vêm, não agora. Que fazer?

Fui a uma ilha próxima, e tomei o vôo para Vavau.

Uma hora de atraso, embarcamos no pequeno turboélice chinês. Mais uma hora e chegamos. Peguei a bagagem de mão e esperei a mala, triunfante. 

Ninguém mais esperava a mala.

- E o negócio da mala? - Perguntei à fijiana que sentara ao lado.

- Sabe de nada, inocente! Não vês que tornamos ao aeroporto de partida, abestado? O avião quebrou! (ela fez sinal de um avião caindo, pra facilitar meu entendimento: buuum!).

Fiz a tradução a partir do possível inglês da fijiana, de forma que alguma expressão idiomática pode ter me traído.

Após algumas horas no solo, e outra no ar (levamos o mecânico junto, vai que...) Vava'u!

Táxi pro hotel, que não havia. Cinco hotéis depois, terminei em Port Wine, que me pareceu bacana, e tratei de conquistar a benevolência dos cachorros da propriedade, e arredores.

Num lugar como o Pacífico Sul, às vezes a amizade dos cachorros é o primeiro item do turista consciente.

O grande malhado preto e branco era gordo e bonachão. Foi o primeiro a vir cumprimentar. Uma cachorra enorme, gárrula, que eu tampouco saberia precisar a raça, veio toda se arreganhando, com seus respeitáveis marfins afiados. 

O costume dela e correr atrás de cachaços enormes e ameaçadores, pondo-os rua abaixo.

Outros cães fui encontrando na estadia, e logo granjeei-lhes duradouro afeto. 

Sabe, quando você volta do jantar, na rua escura, e antes de abrir o portão, e prudente certificar-se da estima dos cachorros - de toda a cachorrada - antes de realmente adentrar a propriedade, pra que eles sintam a diferença entre você e um... porco, por exemplo, por mais que, dizem os amigos, no meu caso essa diferença seja mínima, acaso existente.

Essa história com os cães me lembra um episódio em Páscoa. Uns ingleses ficaram de me buscar no hotel para irmos ver o sol nascente apostar contra os moais. Perdi a hora e voei para a rua, a ver se ainda me esperavam. Um cachorro, que seguramente vira o carro vir e me aguardar, e depois se afastar, se encostou em mim, fornecendo o apoio moral de que eu necessitava. 

Os cachorros das Yasawas costumam logo contrair amizade, sobretudo ao redor do exíguo prazo de jantares e lanches. E amizade sincera. 

"I'm not dog no..."

25 de junho.

Samoa.

Cheguei a Samoa. Na verdade, estou aqui há três ou quatro dias, e logo começa a operação retorno, em três escalas: Apia, Nadi e Auckland. Daí, Santiago e Sampa, assunto de aeroporto, e chego em casa, que espero achar igual.

Fui aos Blowholes, na costa sul (jatos d’água à beira mar que juram os céus com estrondo). A onda ganha energia ao atingir o pavimento vulcânico, entra por falhas e estoura a dezenas de metros de altura, provendo um sorriso.

Samoa tem praias lindas e desertas. Uma, de areias pretas, é a perfeição simpática. Primeiro, fiquei numa fale (cabanas abertas, cortinas por paredes, bem na areia, com música ambiente fornecida pelo mar), mergulhando e calibrando os instintos sob sombras frutuosas que tocam a água.

A maré oscilava seus humores. Eu aferrado a Machado de Assis. Estou no oitavo romance do mestre, nesta viagem, mas prometi não reler Memórias Póstumas ou Dom Casmurro.

Outros livros li (Complacência, o Retrato, Darwin vai às Compras, Do que é Feito o Universo? etc), o que não significa que a viagem foi ruim. Apenas teve vôos, escalas, aeroporto e esperas demais.

E muita praia linda, que pedia romance, água de coco e espírito leve. De vez em quando um snorkel, que depressa se larga.

Depois, toquei pro nordeste da ilha, para mais fales, águas calmas e mergulhos.

Em casa.

Saí às quatro da tarde de Auckland e, às dez da noite, estava em casa. Que achei igual. 

Menos por um armário, que desmontara no anonimato de madrugadas desfavoráveis. A Todeschini se encarregará dele.

Quebrei a promessa de não reler Memórias Póstumas. E pra distrair, 13 peças do teatro de Nelson Rodrigues.

sábado, 17 de maio de 2014

Aventura no Jalapão

Ao norte de Palmas, por uma estrada ingrata em poeira e lonjuras, situa-se o Jalapão, realidade geográfica que agrega dunas e rios, ajustados a um cerrado amarelo.

Lá nossos guerreiros quiseram férias. Pescadores, no ordinário, eles talvez iam velejar o rio em zodíacos, remando. Um velho Unimog quatro eixos os sacudia, na poeira.

Amigos de farra, pinga, batizados e safadezas, os integrantes dessa liga malvada não estavam de brincadeira. A farra atraía, a sem-vergonhice unia e a empresa ou o casamento dos filhos lhes davam ares de “família”.

Que era só fachada para a buliçosa cafajestada que congregava aqueles bandidos, sexagenários.

Libério, sessentão, usava cabelos brancos, dentes amarelos e anel de farmacêutico, para nada.

Altamir se dizia jipeiro e conduzia uma loja de artigos de pesca.

Katchaça, policial rodoviário e piloto de paraglider, não tinha realmente como explicar o patrimônio, já descontado o zelo com que assistia na casa das meninas.

Wilson, bem. Ora nos ocuparemos do fácil Wilson. Sorriso, vida, obra e (principalmente) ética fácil. O sorriso do Wilson, como tudo o mais, era de ameia; a ética, contexto-dependente. Roliço, mais pescoço que gente, o Wilson encerra uma ofensa àqueles que acreditam na humanidade. Ou pelo menos um desafio.

Wilson tinha um problema. Ao longo de sua vida, surgiam e desapareciam chácaras, o que é mesmo um aborrecimento. O autor destas notas, por exemplo, nunca teve acessos de chácaras em seu patrimônio, mas o Wilson sim, twice, à salvo da inveja, do rancor do Fisco. Aposto que o leitor nunca pensou profundamente uma chácara ou, se o fez, foi só em desfrutes.

Pois eu vos digo: era uma vez, um que se chamava Wilson e tinha uma chácara. Fatalmente, cedo ou tarde a propriedade contrairia um caseiro. Estudemos de perto esse caseiro adventício. Apresentado, guloso, mais indigente que gênio, ele tinha uma bananeira. Melhor: a chácara tinha uma bananeira, em frutos. Wilson namorou o cacho um tempão e, dado o gostoso dourado próprio aos frutos, previu colheita incontinênti para a próxima visita. 

Se o destino não fosse tão mesquinho. No agendado veraneio a senhora Wilson escorrega e quase se arrebenta no chão forrado de cascas de banana, que o caseiro ignorava.

Pra mim é difícil explicar o Vílson. É de quem mais gosto, o que não quer dizer tenha renunciado à necessidade de enforcá-lo. Culparemos o Wilson por tanto azar com chácaras? Seria excessivo e tedioso. Enforcaremos o Virso? Provavelmente.

Mas o Libério. Será honesto falar do Libério? Quem sabe sim. Não quero falar do excelente Libério, mas alguém terá de exercer essa fadiga (e denunciar o degenerado), antes que o tempo o faça santo e profeta (do ateísmo), acima do bem e do mal.

Elejo Libério o mais inadmissível do grupo, fosse mensurável a maldade desse bando de devassos, teóricos e práticos.

Consta que a expedição era ecológica. Logo, todo o lixo devia ser coletado, sem exclusão dos dejetos do banheiro. Outros que não depravados ateus teriam postado o banheiro químico no lugar mais discreto, com paredes respeitosas evitando olhares constrangidos para os negócios que ali sucedem, sem que ninguém tenha culpa. 

Um trono aberto – zona franca – se instalou bem no meio da praça recreativa que toda noite se improvisava em algum canto aprazível rio abaixo, e nele grassavam iniquidades.

Primeiro a reinar? Libério, o Amazônico, esse carnavalesco prenhe de escândalos ruinosos e difíceis. 

Em tempos ele fez uma dúzia de cirurgias, cuja necessidade permanece um mistério até para os médicos. Acontece que boa parte dessas cirurgias envolveu como direi, sem ofender famílias honestas e trabalhadoras? o edicétera liberiano. 

Libério operou em segredo, com médico desconhecido, fugindo ao tipo errado de notoriedade, especialmente em família. As intervenções tiveram sucessos variados, dependendo do ângulo que se olhe: uma deixou nosso Libério tão largo, e com o perímetro tão mal definido, que passou a ser chamado "estuário", e a decência exigia o uso de fraldões.

Um Libério assim expandido, em cueiros, não podia prevalecer num mundo em geral hostil. Uma cirurgia reparadora deixou Libério tão fechadinho que os frutos do esforço – se assim os pudermos chamar – eram finos como caneta esferográfica, e não ornavam com o aplicado glutão que sabemos.

Nas pescarias, ele arriava as calças com a sem cerimônia com que um petista coloniza e arruína uma estatal, e do barco mesmo cravejava o rio com poemas aromáticos. Data dessa época o apelido pouco lisonjeiro: "poeta". 

Com a sucessão de cirurgias, não sabíamos em que fase Libério estava, suas aspirações e com que diâmetro obrava.

Praguejando e lançando injúrias, do alto do trono unificado ele insultava o mundo com miséria montante. E a turma pirava: O rei vai obrar!

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Segundo na hierarquia, Saulo, o Horrível, se esforçou na gritaria e impropérios, mas não era páreo para a majestade liberiana. 

Pacheco se afetava fotógrafo, e excedia em nikons e acessórios. Num passeio, gostou de uns marimbondos, que gostaram mais ainda dele. 

Tal sorte de caganeira vitimou Juvenal que, bem, deixa pra lá.

Apesar de tudo, receio seja meu destino prestigiar Libério, em detrimento de iguais heróis que povoam estas páginas.

Conseguirá nosso homem se desincumbir de seus misteres, assinalar uma biografia? Certa feita ele "se permitiu" indevidamente num elevador lotado.

– Sinto que de mim saiu virtude – mofou, para o público entrevado na cabina.

Virtude, ele disse virtude!

Em outra feita, estacionou a sofrida CG 125 em local proibido. A essa altura já se sabe: Libério sóbrio é ficção; à pé, um alvo legítimo; de moto, uma obscenidade provida de cofrinho. Pois ele abandonou essa moto à saída de uma rotatória. Dois guardas, dentro da viatura, deitavam poemas ao talão de multas, à vista da absurda espingarda enferrujada, prontamente submetida a guincho.

Que dizer desses consumados pervertidos? Bêbados colossais, trataram de dar expediente no Jalapão, e não é possível precisar a licitude dessa bossa.

2014.

domingo, 16 de março de 2014

Subliminar

O universo de fato é um trabalho grosseiro, mas acho que vamos ter de nos virar com isso.
Leonard Mlodinow, o físico do Andar do bêbado, se propõe mexer no vespeiro do inconsciente.

Nosso cérebro subliminar é invisível para nós. (...) dispomos de uma vida inconsciente rica e ativa, que funciona em paralelo a nossos pensamentos e sentimentos conscientes, e exerce poderoso efeito sobre eles, diz o autor, de início.

Indaguei, algures, do inconsciente. Após alguma reflexão, que não dispensou a leitura de Gazzaniga, Mlodinow, Pinker, Damásio, Ariely, Kahneman, Juan de Mendoza, Freud, Jung, Buonomano, Nicolelis, Brian Christian, Dan Simons, Springer & Deutsch, Aamoth & Wang (Eccles & Popper aguardam), reformulei, estafado: existe consciente?

"The spirit is willing but the flesh is weak" foi traduzido para o russo e depois, de volta ao inglês, por um computador:

"A vodca é forte, mas a carne é podre".

O novo inconsciente.

Vamos parar de brincadeira. Se o leitor teve a audácia de pular a discussão dos últimos 60 anos sobre o inconsciente, aqui vão algumas dicas. Considere duas concepções: John Dunne & William James versus Freud-Jung & Cia. Estes últimos venceram, em prejuízo da Psicologia, caluniada pelas imposturas psicanalíticas e as quixotadas de Jung.

O inconsciente de Freud, essa sucursal do inferno, é uma criação literária daninha. O de Jung, seja o que for, é pouco menos que isso. Não, leitor, ninguém se desenvolve desejando sexualmente a mãe e premeditando matar o pai. Toda essa ociosa grosseria é apenas mau uso de metáforas das tragédias gregas. O inconsciente de Freud era "quente e úmido; fervilhava de ira e luxúria; era alucinatório, primitivo e irracional". Categorias como id, superego, pulsão e repressão pertenciam mais à religião que à clínica e à empírica. 

O novo inconsciente é mais "delicado, e gentil que isso, e está mais ligado à realidade".
Os processos são considerados inconscientes porque há parcelas da mente inacessíveis ao consciente por causa da arquitetura do cérebro, não por estarem sujeitas a formas motivacionais, como a repressão. A inacessibilidade do novo inconsciente não é vista como um mecanismo de defesa ou como algo não saudável. É considerada normal. (p. 24).
O novo inconsciente faz muito mais que nos proteger de desejos sexuais impróprios ou memórias dolorosas. É acionado para nos salvar de perigos inesperados, e para tocar o dia-a-dia sem dispendiosos gastos energéticos com raciocínios e reflexões. Assim, toda a rotina incorporada, como trocar marchas, abrir uma geladeira e pegar a água ou computar 2 x 2 é sediada no inconsciente, econômico, eficaz e automático. Muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado e julgamento são delegados a estruturas cerebrais separadas da percepção consciente (sistema 2, para Kahneman), que é muito lenta e custosa.

A maior parte de nossa mente é inconsciente (temos 2% de processos conscientes, especula-se); superposta a essa escuridão, temos um cérebro parcialmente consciente, com módulos funcionando em paralelo, a maioria fora do âmbito consciente. Há parcelas da mente inacessíveis ao consciente por causa da arquitetura do cérebro, não por estarem sujeitas a formas motivacionais, como a repressão. O piloto automático cuida de nosso equilíbrio, da sintaxe e da morfologia, enquanto escolhemos as palavras para impressionar a plateia.

Atinemos com o miolo do problema: nossas experiências anteriores podem moldar nossas expectativas para sempre. Nos casos de eventos traumáticos, a percepção pode ser distorcida pelo temor de que, a qualquer momento, justiça, normalidade e lógica percam a validade, força ou significado. A rotina terá incorporado uma distorção, que ignoramos. Os pontos de referência implícitos produzem comportamentos e ideações rotineiras. Se essa ancoragem afetiva compreender traumas substanciais, encerrados numa caixa-preta, podemos ter a gênese das "forças ocultas" que induziram Freud a construir seu castelo do terror psicanalítico. Enfatizo: as forças internas do novo inconsciente têm pouco a ver com as motivações inatas descritas por Freud.

O cerne é: processos mentais que não percebemos, e cujas origens não conhecemos, geram sentimentos e emoções, às vezes à nossa revelia, contra nós ou para nossa mortificação. Muitos desses processos jamais estarão abertos à consciência, e a autorreflexão terapêutica da psicanálise resulta inútil.  

A verdade é que nossa mente inconsciente está ativa, é independente e tem um propósito. Oculta embora, seus efeitos são visíveis, e têm papel crítico na maneira como nosso consciente vivencia e responde ao mundo.

O processo de chegar aparentemente por acaso a uma resposta correta que não temos consciência de conhecer é agora chamado de experimento de “escolha forçada”, o mais promissor meio de sondar o inconsciente.

Sentidos + mente = realidade

Para Kant (alvo da zombaria de Nietzsche), construímos ativamente uma imagem do mundo, cheia de "licenças poéticas" e longe do inventário objetivo que imaginamos, ingênuos. A realidade é gerada, constrangida pelos vieses prediletos da mente. (...) nossa percepção não se baseia apenas no que existe, mas é de alguma forma criada – e restringida – pelos aspectos gerais da mente.

Atualizando Kant: o inconsciente desenvolveu-se cedo na evolução, sentindo e respondendo com segurança ao mundo externo. É a infraestrutura-padrão no cérebro de todos os invertebrados (p. 42). A consciência é item luxuoso, opcional (mas vem de fábrica, no caso humano). Os animais não precisam de (e não suportariam) uma mente deliberativa. Cavalos filosóficos, predadores com dilemas existencialistas seriam um aborrecimento. O cérebro inconsciente processa doses maciças de informação, entregando nossa sobrevivência num mundo incerto e complexo. Enquanto as espécies não humanas sobrevivem com pouco ou nenhum processo consciente (jamais saberemos) nenhum animal pode existir sem um inconsciente.

Calcula-se que nosso cérebro recebe 11 milhões de bits de informação por segundo, mas a consciência só consegue lidar com algo como 16 a 50 bits por segundo. A evolução nos deu uma mente inconsciente porque é ela que permite nossa sobrevivência num mundo que exige assimilação e processamento de quantidades colossais de informação, que não poderiam passar pela angustura da consciência.

Nosso cérebro gasta horrores com o módulo da visão, entre 25 e 30 por cento de todo o processamento.

Visão é o efeito cumulativo da informação percorrendo múltiplos caminhos, tanto conscientes quanto inconscientes (p. 53), o que explica a visão cega. Pessoas com essa condição reagem subliminarmente a imagens eróticas, por exemplo, mesmo sem saber a fonte.

Quando declaramos ver uma cadeira, queremos dizer apenas que nosso cérebro criou o modelo mental de uma cadeira. Com a audição não é diferente. Palavras entrecortadas, pela metade, são completadas mentalmente, com base no contexto (restauração fonêmica). O que você pensa ter ouvido no começo de uma sentença pode ser afetado pelas palavras que vêm no final. O mundo que percebemos é um ambiente artificialmente construído (...) produto dos nossos processos mentais inconscientes dos dados reais (p. 62).

O inconsciente basicamente preenche as lacunas de informação de nossos sentidos, a fim de construir um modelo de mundo tratável:
partes do cérebro que funcionam no nível inconsciente fazem truques para preencher a informação que falta. A memória é outra [arena de processamento mental], pois a mente inconsciente se envolve ativamente na tarefa de moldar nossa memória.
Memória.

Guardamos os aspectos principais dos eventos, quando muito, não os detalhes. Defrontamos quantidade intolerável de dados a todo momento, e precisamos esquecê-los, sob pena de sermos soterrados pela irrelevância. Uma única árvore pode abrigar zilhões de ângulos entre galhos e folhas, entre outros detalhes, mas só retemos o esquema geral de como uma árvore deve ser, ordinariamente. Ora, as técnicas de esquecimento do cérebro são a origem dos erros de memória. Mesmo pessoas bem intencionadas preenchem os detalhes inventando coisas, e acreditam nas lembranças que inventam. Nos lembramos da memória, não do evento.

Como a memória atravessa o tempo? Não há só memórias perdidas. Elas também são acrescentadas. No geral, as histórias ficam mais curtas e simples. Fornecemos uma organização pessoal, fazendo-as parecer mais coerentes. Elimina-se toda forma surpreendente, errática e inconsequente, num aplainamento da memória. Tendemos ao regular, simétrico e familiar (conforto cognitivo).
Falsas memórias e informações errôneas são tão facilmente implantadas que foram induzidas em bebês de três meses, gorilas e até pombos e ratos.  
Ser social.

Nossas ligações emocionais e sociais transcendem as palavras e pensamentos conscientes. A maior parte de nossa interação emocional é inconsciente. E a teoria da mente, que nos habilita a viver em sociedade, também. 

Uma das medidas da teoria da mente é a chamada intencionalidade, que tem em Daniel Dennett meu predileto. “Quero um pedaço do assado que minha mãe assou” é o que se chama “intencionalidade de primeira ordem”. A maioria dos mamíferos vive nesse estágio mental. Na segunda ordem, o agente passa a considerar o estado mental de outra pessoa: “acredito que meu filho quer um pedaço do assado que preparei”. É o nível mais rudimentar de uma teoria da mente e sua abordagem é probabilística.

Na terceira ordem, pode-se raciocinar sobre o que uma pessoa pensa que uma segunda pessoa está pensando, como em “acredito que minha mãe acha que meu filho quer um pedaço do assado que ela preparou”. Você pode subir um nível: “Acredito que meu amigo Sanford acha que minha filha Olivia acha o filho dele uma gracinha” ou “Acredito que minha chefe, Ruth, sabe que o nosso diretor financeiro, Richard, acha que meu colega John não acredita no orçamento dela ou que projeções de receita são confiáveis” (intencionalidade de quarta ordem, necessária para a criação literária, por exemplo).

Primatas parecem capazes de pensamento situados entre primeira e segunda ordens. Humanos não petistas podem alcançar a sexta ordem, que exige raciocínios sobre longas cadeias de conceitos inter-relacionados (puro Sistema 2).

Enfatizo o caráter estocástico, probabilístico da inferência, presente no “acredito”. Nunca temos certeza sobre o que o outro está pensando. Muito menos sobre o que o outro está pensando que um terceiro está pensando. Podemos ter um bom palpite, baseado na experiência, quando muito.   

Se as pessoas não têm consciência dos processos subliminares, e se não podem segui-los com o cérebro, que provas temos de que tais estados mentais existem?, pergunta o autor. E responde:
(...) seguir roteiros inconscientes preestabelecidos “pode na verdade ser o modo mais comum de interação social”. (...) aqui, é o inconsciente desempenhando seu dever normal, automatizando tarefas de modo a nos libertar para responder a outras exigências do ambiente.  
Podemos dividir o cérebro humano em três regiões, de uma perspectiva evolutiva: cérebro reptiliano, sistema límbico (ou “velho cérebro mamífero”, fonte de nossa percepção social inconsciente e de nossas emoções sociais) e neocórtex, ou “novo cérebro mamífero” (um tecido convoluto em seis camadas, da espessura de um guardanapo, com 190 cm², o tamanho de uma pizza grande).

Integrando o neocórtex, “O córtex pré-frontal é responsável pelo planejamento e pela orquestração de nossos pensamentos e ações de acordo com nossos objetivos; e pela integração entre pensamento consciente, percepção e emoção; acredita-se que seja o local de nossa consciência” (p. 123).

Sintetizando até agora, muito da nossa percepção social – como visão, audição e memória – parece seguir caminhos que não estão associados à consciência, intenção ou a um esforço consciente. (p. 124-5)

Estereótipos.

“O ambiente real é na verdade grande, complexo e transitório demais para um conhecimento direto. (...) precisamos reconstruí-lo em um modelo mais simples antes de conseguir lidar com ele (Lippmann, citado pelo autor, p. 178). Esse modelo mais simples corresponde ao estereótipo.

Essencial é que a estereotipagem inconsciente, ou implícita, é a regra, não a exceção; surge de processos cognitivos normais e inevitáveis, não como processo consciente e intencional.  

Discriminação, assim, é mais bem descrita como processo inconsciente. Nosso juízo inconsciente, amplamente apoiado em categorias que atribuímos às pessoas, está sempre em competição com nosso pensamento mais deliberativo e analítico (p. 188). É preciso esforço se quisermos superar os vieses inconscientes.

O que acontece quando categorizamos a nós mesmos?

os pontos de vista de outros no grupo infiltram-se nos nossos pensamentos e dão cores à maneira como percebemos o mundo. São as “normas grupais”.

Quando trabalho algum bairro muito humilde, ou pobre mesmo, me surpreendo com as falas e atitudes da molecada. Não me refiro ao sotaque, nem a modismos como celular, roupa e bordões do momento. Abaixo desse verniz contemporâneo, vejo neles o mesmo garoto que fui, nos anos 70/80, com as mesmas conversas, motivação e comportamento. Constato que a favela em que morava se insinuava em minha atitude, motivos e ideações, da mesma forma como o meio profissional, os livros e a classe a que pertenço subsidiam e acabam por condicionar minhas ideias, de uma maneira inconsciente e automática, por mais que desgoste admiti-lo.   

Sentimentos.

Nossa personalidade é dinâmica e mutável. Não somos apenas diferentes de nossa versão adolescente, (...) podemos ser duas pessoas diversas ao mesmo tempo: um “eu” inconsciente, que nutre sentimentos negativos em relação a negros – ou a pessoas mais velhas, gordas, gays, muçulmanos –, e um “eu” consciente, que abomina o preconceito (p. 211). 

(...) a fonte de nossos sentimentos costuma ser um mistério para nós, assim como os próprios sentimentos. Sentimos muitas coisas de que não temos ciência. Contamos estorinhas a nós mesmos, escolhendo as prediletas, como se tivessem sido submetidas a rigorosos testes de validade. E acreditamos nelas.

De onde vêm nossos sentimentos? Se você acha que sabe, pensou mais profundamente que qualquer outra pessoa na face da Terra, ou está se enganando. 

As emoções, (...) são como percepções e memórias – reconstruídas a partir dos dados à mão. Muitos desses dados vêm da mente inconsciente, diz o autor. E é assim que, mesmo uma resposta fisiológica, como a dor física, pode variar, ainda que os sinais enviados pelas células nervosas não variem.

Com frequência alarmante não compreendemos nossos sentimentos mas, se nos pedem para justificá-los, achamos depressinha bons motivos. Onde encontramos essas razões para sentimentos que podem não ser o que pensamos? Nós [nosso módulo gerador de conversa fiada – hemisfério esquerdo] as inventamos

Experiências escancaram isso. Quando cortamos a ligação dos dois hemisférios, e fornecemos informação isoladamente ao direito (uma ordem de aceno, um motivo para risos etc), o hemisfério esquerdo, observando a conduta, depressa inventa uma justificativa para o comportamento, do qual não tomou parte. Parece que essa região do cérebro recebeu mandato para buscar ordem e razão em tudo que acontece. O hemisfério esquerdo fabrica significado mesmo quando fora de seu alcance, ou quando não há nenhum; está sempre a “produzir significado, de uma maneira desesperada, continuamente inventando, lançando pontes de significado sobre abismos de falta de significado” (Oliver Sacks, citado pelo autor, p. 226).

Em resumo, confabulamos para preencher lacunas no conhecimento de nossos sentimentos (...) ainda que julguemos saber o que estamos sentindo, em geral não conhecemos nem o conteúdo nem as origens inconscientes desse conteúdo.  (...) o cérebro (...) faz uma busca no seu banco de dados mental de normas culturais e escolhe algo plausível. (p. 227). Nosso inconsciente, retroativamente, utiliza normas sociais para explicar nossos sentimentos.

Apresento agora uma provocação: será possível que observadores externos (os outros) tenham maior consciência sobre nós, que nós mesmos? Conheço ao menos um caso em que isso ocorre, para minha mortificação. A evolução não projetou o cérebro humano para entender a si mesmo com precisão, mas para nos ajudar a sobreviver (p. 230).

O eu. 

Somos bons atores. E nossa platéia mais crédula. 

Com que frequência será que entendemos errado o sentimento alheio? Com que exatidão percebemos a nós mesmos?

Bem, em 1959, no hospital psiquiátrico Ypsilante State, três Jesus Cristos foram colocados no mesmo quarto, para se examinar “como eles processariam em conjunto essa ideia”. Ao menos dois tinham de estar errados. Antes, no século XVII, um sujeito mandado ao hospício por se dizer Jesus Cristo lá encontrou outro Cristo e “ficou tão chocado com a loucura de seu companheiro que reconheceu a própria sandice”. Infelizmente ele logo voltou a ser Jesus e recebeu os honorários correspondentes, ardendo na fogueira da Inquisição.

Dois dentre os três Jesus mantiveram a autoimagem, contra a realidade. Só um renunciou à divindade e deveríamos ser gratos a ele.
Nossa autoimagem e a imagem objetiva que os outros têm de nós não estão bem sincronizadas. (...) nosso ego luta ferozmente para defender sua honra (p. 236).
Normalmente, partimos de uma conclusão e depois buscamos evidências que a apoiem, em vez de partir das evidências para chegar a conclusões. O cérebro pode ser um bom cientista (quando emprega o Sistema 2, racional e ponderado), mas é um advogado absolutamente brilhante (sistema 1, inconsciente e automático), sempre pendendo para o que nos faz felizes no momento, em vez do que é melhor para nós.
a mente inconsciente é mestra em usar dados limitados para construir uma versão do mundo que parece completa e realista para sua parceira, a mente consciente (...) o lado advogado do nosso inconsciente mistura fato e ilusão, exagerando nossas forças, minimizando fraquezas, criando uma série de distorções picassianas em que algumas partes foram ampliadas em proporções enormes (as partes de que gostamos) e outras encolheram até quase se tornar invisíveis. Os cientistas racionais de nossa mente consciente depois admiram o auto-retrato com inocência, acreditando ser um trabalho fotográfico de precisão. (p. 238).
Acreditamos piamente em nossa bondade e competência; sentimo-nos no controle e nos vemos sob luz favorável.  

Ora, nosso inconsciente pode escolher entre um número enorme de interpretações para alimentar nossa mente consciente. No fim, pensamos que lidamos com fatos, quando na verdade estamos lidando com nossa (prévia) conclusão preferida.

Como os raciocínios interessados são inconscientes, as pessoas podem ser sinceras ao afirmar que não são afetadas por vieses ou interesses próprios (p. 243). Pode-se ver um reflexo disso: na Grã-Bretanha, metade das população acredita no céu, e apenas ¼, no inferno. Irracionalidade direcional, interessada. 

Contudo, a parte consciente da mente não é trouxa. O inconsciente deve ao menos manter a “ilusão de objetividade”.

Pense no caso do aquecimento global. Ou na Teoria de Evolução. Muitos precisam – porque seu ganha-pão ou ideologia impõe – de que esses consensos racionais estejam errados. Mas não estão. G.K. Chesterton inaugurou a moda dos carolas dizerem que o catolicismo é a única resposta racional ao problema religioso.

Racional! Ele disse racional! O catolicismo pode ser uma resposta ao problema (não para mim), mas não é racional.

Mantemos nossas ilusões de objetividade através de filtros de parcialidade inconscientes. Invocamos inclusive nossas memórias para validar vieses, iluminando nossa auto-imagem.

Nosso inconsciente está em suas melhores condições quando nos ajuda a criar um sentido positivo e sólido de nosso eu, uma sensação de poder e controle num mundo aleatório, incerto e vasto (p. 256).   

O raciocínio motivado [interessado] permite que nossa mente nos defenda contra a infelicidade.

O autor conclui, e penso que com razão:
O que acontece na verdade pode depender muito da teoria em que escolhemos acreditar. É um dom da mente humana estar aberta para aceitar a teoria de nós mesmos que nos impulsiona em direção à sobrevivência e até à felicidade.
Mencionei vários livros sobre o inconsciente. Subliminar, junto com os citados, fingem que não mudam nossas vidas. Acredite em mim, leitor: mudam.