sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Santa Marta

Casa Elemento é um hostel tão remoto que o mesmo Pablo Escobar teria dificuldade em me encontrar. Uma hora de jipe desde Santa Marta, uma hora no lombo de uma moto montanha acima.

Quando cheguei notei quatro coisas: 1. Que uma horda viking tinha baixado diretamente da Noruega, ou Islândia, ou mesmo Groenlândia; 2. Que essa bugrada resolvera combinar biquíni com botas até os joelhos. 3. Que o hostel se baseia em barracas e redes de dormir; 4. Que eu tinha entrado pelo cano.

Fui a uma cachoeira montanha abaixo. Subi no lombo de outra moto, ainda mais xucra. Na volta, a bermuda Mizuno, sintética, sofreu falha catastrófica, da forma mais constrangedora possível, e não havia substituta - calça, bermuda, nada.

Sem ligar pra essas sem-graceiras, aproveitei a piscina, propriedade dos ditos povos nórdicos. Sobreveio o almoço.

O barman combinava chapéu irlandês com óculos estrelados e coreografia. Apelidado "o doutrinador", não me inteirei dessa ortodoxia. Um americano, que também trabalha no hostel, empreendia bombas cada vez maiores na piscina, com a esguia sueca por desafiante e o bar todo por alvo.

Não conheci o cozinheiro. De bom grado o teria surrado pelo desperdício de tão bons ingredientes.

No hostel as pessoas costumam tardear sobre a rede, essa enorme hammock para doze pessoas (e um gato) estendida sobre o abismo. Lá embaixo, Minca. Mais ao longe, Santa Marta, e o Caribe em sprawl. 2015 se aproximava em linha reta, com seus negócios polarizados.

Iniciada a noite interveio a febre. Os mosquitos, discretos, desencadeiam reação alérgica que os guias esqueceram de mencionar, e os vikings sabem, a julgar pelas botas - alcancei a origem da moda.

Em volta da fogueirinha entabulei conversas com norueguesas, suecas e dinamarquesas. Tinha umas alemãs, e até neo-zelandesas, sem que o foco deslocasse da gente viking. "A invasão estava a caminho? Haveria clemência?", quis saber.

Quando o ano novo chegou a febre tinha cedido e a ceia apresentou-se quase tolerável. Quase agradeci ao chef.

Todos dançavam à beira da piscina, com o entusiasmo próprio à idade e o fervor de certas ervas aromáticas.

O que me lembra a subida a Wayna Picchu.

- Vamonos, lento! - disse a loira vertiginosa.
- Las noruegas son muy rápidas - desculpou-se o guia local, resfolegando, incapaz de acompanhar o ritmo das moças.
- Nisso de noruegas você tem razão - acrescentei, para reconfortá-lo.

Nos estertores da febre ocorreu-me a solução do problema da bermuda, e um simples casaco amarrado à cintura restituiu a decência e a tranquilidade. Qualquer idiota teria atinado com a resposta imediatamente, mas eu precisei de horas elaborando, na pura febre.

Quando saí, no dia primeiro, abruptamente a média de idade dos hóspedes voltou aos 17 anos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ilustre Manelim,
Em breve convidalo-emos à nossa humilde choupana, quase concluída dos erros engenheirísticos iniciais.
Mas iremos à Colômbia em agosto. Passagens emitidas. Mande Dicas para um roteiro de seis dias inteiros.
Abraços.

Anônimo disse...

Foi até a Catedral de Sal de Zipaquirá? Vale a pena?