Assombrosos solecismos de pedra.
Um superparque, com centenas de templos, a maioria com mil anos de idade, dispostos em jardins que descrevem retângulos, às vezes quadrados, circundados por água.
Todos exibem as marcas do tempo, das guerras, dos movimentos políticos e das pilhagens, comerciais ou ideológicas. A maioria das estátuas jaz decapitada, e os templos são, muita vez, amontoados de pedras lavradas. Enormes blocos de pedra emulam pirâmides e, de fato, são pirâmides, com escadas íngremes, cada degrau com altura e largura diferentes.
Errei por esses labirintos, a princípio fascinado, depois indiferente e, por fim, desesperado ante o interminável, a atroz sequência de áridos recintos, visitados por monges budistas lamaístas.
Na maioria deles, infindáveis salas dispostas em sequências transversais. No cruzamento dessas sequências, a ilusão de estar diante de um espelho, tão perfeita a simetria. Em muitos desses templos, árvores gigantes. Figueiras assaltam a pedra, subordinando-a a suas ambições. A floresta cobra o terreno que um dia lhe pertenceu por inteiro.
Angkor Wat é o nome genérico desses monumentos, testemunhas da avançada civilização que um dia frutificou no sudeste asiático e que em sua glória edificou esses espantos.
O Camboja tem uma grandiosa herança do Khmer, e a desastrosa herança do Khmer Vermelho, pesadelo que só recentemente abondonou o País.
Siem Riep, 9 de janeiro de 2006.
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