O Camboja, antigo Reino do Khmer, abunda em templos na selva, bucólicos e desistidos. Inacreditáveis construções remetem a mil anos, e registram com fidelidade todos os sectarismos que a floresta, as monções e as guerras impõem.
Turistas lotam seus recintos, de uma maneira que eu não supunha possível, e a impressão geral é de um imenso parque de diversões votado ao budismo. Em toda parte, intermináveis hordas de turistas que não cansam de ser japoneses, em contínua expansão.
Templos saqueados, há muito desertos de seus criadores, marcham plenos de caos rumo à eternidade. Cansados de sua antiga anarquia, concertam secretamente a posse de um novo povo, no regresso a uma remota e velhíssima economia da alma.
Não há uma só pedra, por modesta, que não tenha fatigado um artista, naquele instante delegado ocasional da eternidade. Ao pôr-do-sol esses monolitos acendem, vibram e consentem a passagem para outros atavismos.
O sol é inclemente, mas felizmente não chove nessa época do ano. Com um pouco de boa vontade é possível se sentir feliz nessa pétrea cidadela religiosa.
Phnom Penh, 11 de janeiro de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário