Vou publicar algumas fotos, em vez de tentar, inutilmente, descrever as virtudes do lugar.
Em Cook Island visitei Rarotonga e Aitutaki. São ilhas bem diferentes, de sabores diversos. Aitutaki é ilha baixa (um atol), com uma vida marinha exuberante. Raro é a capital do arquipélago, um lugar cativante.
Depois vieram os delírios do Tahiti. R.L. Stevenson anotou, a respeito:
"Poucos entre os que chegam às ilhas vão embora; tornam-se grisalhos no mesmo lugar em que desembarcaram; as sombras das palmeiras e os ventos alísios refrescam-nos até que morram, talvez acalentando até o fim a fantasia de uma visita ao lar, raramente realizada, raramente apreciada e, ainda mais raramente, repetida."
À época, algumas ilhas do Pacífico ainda tinham canibais, ou pelo menos testemunhas dessas práticas (Marquesas e Samoa, principalmente). Os nativos viviam essencialmente da venda do coco e seus derivados. Eram muito pobres.
Hoje o Tahiti e demais arquipélagos do Pacífico estão aparelhados para receber turistas sedentos de paraíso. E os nativos não poderiam ser melhores anfitriões. De uma humildade tocante, fazem amizade em minutos; são mestres em nos conduzir pelas lagunas, praias, recifes e montanhas.
Lembro de minha chegada a Fakarava, um atol remotíssimo, do qual nunca ouvira falar. O piloto havia pescado um enorme peixe, e o boato era que, na cozinha, uma conspiração ganhava foros, incentivada pelo dono da pousada.
Quando, às sete, a concha foi soprada, convocando para o jantar, o não ter almoçado me foi de grande valia. À guisa de entrada, uma sopa de mexilhões - absolutamente divina - me atordoou. Depois aconteceu algo ainda melhor: o peixe tocou as papilas, comunicando oceanos amanteigados, visitados por sabores inacreditáveis, de outro mundo, como se todas as fomes tivessem sido revogadas para sempre. É difícil entender o que se passou; recuperar-se de um mergulho desses nas profundezas da gula e da satisfação.
No jantar seguinte tomei assento à mesa com todos os hóspedes da pousada: Patrícia e Patrice, num jantar também memorável. Parece que o cozinheiro é marquesano, apurou o casal franco-colombiano.
Resta em Fakarava o melhor snorkelling do mundo. Funciona assim: ainda no pequeno porto, meia dúzia de gigantes napoleões te saúdam (com aquele olhar perplexo) e recomendam o mar. Se você acreditar neles - é claro que você vai acreditar - começam os delírios, logo que se adentra o pass.
Trata-se de um jardim de corais de mil cores, e os peixes vêm ver o que há. São barracudas, baiacus, meros, garoupas e uma miríade de pequenos peixes coloridos.
Os tubarões estão por lá, fazendo a ronda, fiscalizando o passeio dos peixes, cuidando que só os saudáveis concluam a viagem.
Nada supera a experiência nessa embocadura do tempo, quando a laguna comunica suas necessidades com o mar, num comércio repleto de beleza.
Outros sonhos têm cabimento nas águas azul cobalto do Tahiti, e vôos alucinados em seus passes.
Perto de concluir a aventura começa o mal-estar, a frustração. Permiti-me apenas 40 dias nesse sistema de sonhos, quando todo mundo sabe que é necessário uma vida inteira.
PS:
Alguns questionaram, na volta, por que tanto tempo, e tantas ilhas; se não estaria configurada a vadiagem, agora retirada do Código Penal, mas ainda repudiada pelas pessoas de bem. Respondo que os nobres deputados e senadores têm mais de 45 dias de férias e, bem, talvez eu não seja tão nobre quanto um senador da República, mas nunca me senti menos nobre que um deputado, ah, não senhor! Se bem que, ultimamente, os amigos têm notado certa inquietação, um açodamento mesmo, que me impele para coisas tolas, como viagens intermináveis. E o diagnóstico, como vocês podem adivinhar, é déficit de nobreza...
Quanto ao excesso de ilhas, pode ser que a crítica seja justa, mas lembro que o Pacífico ocupa quase metade da superfície da Terra. Vocês não queriam que eu fosse a um lugar desses para conhecer um ou outro pontinho, queriam? Aposto que queriam.
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