Filipe, o índio veio da foto, aliviou-me dos últimos dólares, exatamente os que me
socorreriam em caso de situação desesperadora em alguma fronteira agreste e sem
lei da América Central.
"Esta é uma situação desesperada", ele lembrou. "Não podes fugir ao seu destino (e ao quadro). Será seu ou de mais ninguém. Quando o pintei, senti certas urgências, certa ânsia; vi que o quadro me pintava, ria-se do mundo e o negava. Concluí: é isso ou a aniquilação! Será que o proprietário, anterior a qualquer negócio, virá?"
Quase não fui, mas o quadro, que me
reclamava desde o fim das eras, chamejava suas cores, e tive de ir. Pensei:
"um quadro se sonha em San Juan, nas orelhas do azulado Atitlán,
e não existirá se eu não for (ou pior, será vendido a outro turista)".
Adquirida a obra, em demoras (a transferência de dólares foi lenta e
dubitativa), tive dificuldade de voltar: no píer o piloto ameaçava apagar
meus registros de sua embarcação. Só a vigorosa intervenção dos amigos
teuto-hondurenhos salvou-me os planos.
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