(...)
É mito que o gasto social
tenha crescido no período Vargas e sido reduzido na ditadura militar. Há
crescimento suave e contínuo desde a República Velha até o fim do regime
militar, forte crescimento após a redemocratização, um salto em FHC e outro
maior com Lula.
Por exemplo, o gasto
público com o ensino fundamental entre 1932 e 1964 foi constante, na casa de
0,8% do PIB. De 1964 até 1970, subiu para 1,5% do PIB e atingiu 1,7% em 1984.
Com a redemocratização, há um salto no gasto público com o fundamental para
2,5% do PIB em 1986, nível em que permaneceu até 2004.
O mesmo ocorre com a taxa
bruta de matrícula. No final do Império, as taxas de matrícula no fundamental
eram da ordem de 7%. Cresceram ao longo da República Velha para 27%. De 1933
até 1984, cresceram lentamente, até atingir 104% em 1984 (a taxa bruta pode ser
maior que 100% em razão de alunos que cursam o ciclo fora da idade correta).
Para o ensino médio, a
melhora substantiva ocorreu logo em seguida ao golpe militar, quando as taxas
cresceram de 7% para 32% em 1977. O segundo salto do ensino médio foi de 1994
até 2003, quando cresceu de 40% para 80%.
Nos anos 1950, as taxas
brutas de matrícula no fundamental eram da ordem de 55% e o gasto público total
com educação, da ordem de 1,5% do PIB. O gasto público por aluno no fundamental
era de 10% do PIB per capita; no ensino médio, era de 100% do PIB per capita,
e, no superior, de 1.000% do PIB per capita.
A escola pública dos anos
1950 expulsava os filhos dos pobres ainda no fundamental, em razão das
elevadíssimas taxas de reprovação, e em seguida gastava com os filhos dos ricos
dez vezes mais no médio e cem vezes mais no superior.
Minha colega do Ibre
Juliana Cunha construiu série do gasto total com Previdência desde 1920. Não há
nenhuma descontinuidade perceptível na série até a redemocratização, quando há
forte aceleração. É conhecido que o grande salto no gasto social foi a
universalização da saúde com o SUS e a criação da assistência social não
contributiva aos idosos, ambos após a redemocratização.
No governo FHC, o gasto
social cresceu 0,17 ponto percentual do PIB por ano, e, no período petista, até
agora e em razão da bonança econômica, o crescimento foi de 0,29 ponto
percentual.
Assim, o que diferencia
FHC do PT no governo não é o crescimento do gasto social, mas sim o excesso de
intervencionismo estatal no petismo, para estimular o desenvolvimento
econômico. É a mesma diferença que há entre a República Velha e o período do
nacional-desenvolvimentismo.
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